Lesões fizeram o judoca Jorge Fonseca duvidar se voltaria a ser o mesmo
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As lesões fizeram Jorge Fonseca questionar se ainda era suficientemente bom, com o judoca português a ir-se “um bocado abaixo”, mas a acreditar que em Paris'2024 voltará a ser “um monstro”
“Eu queria muito o ouro olímpico, mas depois de Tóquio até cá tive um caminho muito em baixo. Estive um ano parado, tive muitas lesões e eu só comecei a fazer judo há coisa de quase um ano. Fui um bocado abaixo, as emoções não são as mesmas”, revelou em entrevista à agência Lusa.
Medalha de bronze nos -100 kg em Tóquio'2020, o judoca de 31 anos atravessou um período difícil de lesões: em dezembro de 2022, lesionou-se no joelho e, no regresso à competição, sofreu uma rotura muscular no Grand Slam de Telavive, em fevereiro de 2023. “A preparação olímpica este ano para mim não foi muito boa. Está a melhorar ao longo do tempo, porque [tive] muitas lesões, estou a superar as lesões, mas não quero justificar que a minha preparação não está a ser perfeita por causa de lesões”, declarou.
Jorge Fonseca sabe que, “mentalmente”, tem “de chegar a Paris e estar bem”. “Então, não quero estar a criar desculpas e justificações por causa de lesões. Sinto-me bem, estou a fazer uma boa preparação, pouco a pouco […]. Acredito que vai correr tudo bem”, reiterou.
Ainda assim o campeão mundial de 2019 e 2021 reconhece que passou por “momentos difíceis” naqueles meses em que falhou os Mundiais de Doha2023, em maio, e em que voltou a lesionar-se quando regressou à competição um mês depois, no Grand Slam de Ulan Bator, acabando por desistir na repescagem. “Houve momentos em que pensava: 'será que já não sou bom? Será que já não vou voltar ao Jorge que eu era?' As primeiras competições foram horríveis, perdi logo nos primeiros combates da prova, não estava a saber lidar com isso. Estava a entrar num mundo de frustrações, porque eu era um Jorge de quem toda a gente tinha medo. De repente, comecei a perder e comecei a ter um bocado de dúvida de mim mesmo”, confessou.
Fonseca acabou por treinar mais, para superar esses desaires, e perceber que era apenas uma fase de vida e que tinha de “aprender a lidar com as dificuldades”. “Estive a trabalhar para isso e, graças a Deus, as coisas estão a correr lindamente. Estou a voltar àquele Jorge que eu era, um monstro, e acredito que vou estar bem em Paris”, vincou.
Parte desse trabalho também foi mental, com o judoca a salientar o papel da psicóloga Ana Ramires, que o “ajuda bastante desde já há algum tempo”, nesse processo.
Quanto às lesões, Jorge Fonseca admite que não pode dizer que está definitivamente curado, mas também não quer estar a pensar nisso. “[Há] Algumas mazelas que me incomodam, mas psicologicamente estou bem. O mais importante é o psicológico. As mazelas podem vir que eu aguento psicologicamente”, assegurou.
Ainda assim, e apesar de no rescaldo do bronze em Tóquio'2020 ter prometido o ouro, o judoca está ciente de que tem de “ter calma, “refletir um bocado”. “Eu também tenho de ver que estive quase um ano parado e já não sou aquele Jorge de há quatro anos, com uma ambição completamente diferente. Sou um Jorge mais velho e não quero prometer medalhas…”, concluiu.