Seis anos depois, Jonathan Milan devolveu à Itália a glória no Tour
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Jonathan Milan pôs fim a seis anos sem vitórias italianas na Volta a França e à pressão que pesava nos seus ombros, ao ganhar a oitava etapa, à qual o ciclista português João Almeida "sobreviveu" apesar da costela fraturada.
A história do dia até podia ser o enésimo segundo lugar da carreira do belga Wout van Aert (Visma-Lease a Bike), claramente o melhor "segundão" do pelotão mundial, se o vencedor não tivesse sido o jovem italiano da Lidl-Trek: em estreia no Tour, o ciclista de 24 anos confirmou finalmente o estatuto de grande favorito nas chegadas ao sprint, com um triunfo categórico em Laval.
Hoje, o duas vezes vencedor da classificação por pontos do Giro (2023 e 2024) ganhou por si – a equipa deixou de fora o estelar Mads Pedersen para ser ele o sprinter na "Grande Boucle" -, mas também pelo seu país, que não festejava na Volta a França desde que Vincenzo Nibali conquistou a 20.ª tirada na edição de 2019 – desde então, passaram seis anos e 113 etapas.
“Ainda não assimilei o que fizemos. Vim para cá com algumas expectativas e sonhos e conseguir levá-los para casa é algo diferente. […] Hoje, estava mesmo focado e a acreditar em mim e os rapazes fizeram um excelente trabalho até ao final”, destacou o novo camisola verde, considerando que a Lidl-Trek “realmente merecia” o triunfo de hoje.
A participar apenas pela terceira vez numa grande Volta, Milan estreou-se a vencer no Tour diante do "colosso" Van Aert, o "eterno segundo" - tem mais de 100 lugares somados durante a carreira -, e do australiano Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck), o vencedor da classificação da regularidade nas duas últimas Vueltas.
Ao cortar a meta com as mesmas 03:50.26 horas do vencedor, Tadej Pogacar (UAE Emirates) manteve a camisola amarela e as diferenças na geral inalteradas: tem 54 segundos de vantagem sobre o belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) e 01.11 minutos face ao francês Kévin Vauquelin (Arkéa-B&B Hotels).
Assim, "Pogi" supera Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe) em número de dias na liderança de grandes Voltas – são agora 63 para o mais novo dos eslovenos, 43 deles no Tour e os outros 20 na edição do ano passado do Giro, prova em que o mais velho vestiu a camisola rosa durante nove jornadas (tem mais 42 na Vuelta, que venceu em quatro ocasiões, e 11 no Tour).
Após a acidentada jornada da véspera, cujas consequências estavam bem visíveis nas ligaduras espalhadas pelos corpos dos ciclistas envolvidos na grave queda da sétima etapa, como João Almeida (UAE Emirates), a correr com uma costela fraturada, o pelotão decidiu encarar com calma os 171,4 quilómetros entre Saint-Méen-le-Grand e Laval.
O português, que à partida assumiu querer apenas "sobreviver" a esta etapa, foi poupando energia na traseira do grupo, do qual só descolou nos derradeiros quilómetros, cortando a meta a 06.42 minutos do vencedor – é agora 37.º da geral, a mais de 19 minutos do seu líder da UAE Emirates.
Só depois do sprint intermédio, ao quilómetro 90, é que a TotalEnergies lançou para a fuga Mathieu Burgaudeau e Mattéo Vercher, em sinal de “respeito à corrida” – como se ouviu no rádio da equipa na transmissão televisiva -, com o duo a superar apenas momentaneamente a barreira de um minuto de vantagem.
O pelotão até se deu ao luxo de gerir a diferença: esteve a sete segundos dos fugitivos e abrandou para permitir que a fuga sobrevivesse até à entrada da derradeira dezena de quilómetros, quando Burgaudeau abdicou, já depois de Tim Merlier (Soudal Quick-Step) sofrer um problema mecânico e pagar o esforço ficando afastado da discussão do sprint em que Milan se impôs.
O belga terá uma nova oportunidade para sprintar no domingo, no final dos 174,1 quilómetros entre Chinon e Châteauroux, para os quais o português Nelson Oliveira (Movistar) vai partir na 60.ª posição da geral, a 29.26 minutos de Pogacar, depois de hoje ter sido 108.º, a 01.11.