Jogadores de futsal brasileiros "presos" na Ucrânia: "Sair? Não tem como neste momento"
Três jogadores dividem apartamento - rodeado de tanques de guerra - há uma semana. "Estamos à espera [de conseguir sair]", afirmam.
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Daniel Rosa, Ewerton Florêncio e Cláudio Garcia, jogadores de futsal brasileiros na Ucrânia, estão presos em Kherson, uma cidade de quase 300 mil habitantes no sul da Ucrânia que a Rússia afirmou ter conquistado nesta quarta-feira.
"Apesar de ainda termos bastante coisa em casa, não sabemos quanto tempo vai durar. De manhã, fomos ao mercado para ver se estava aberto. Deparámo-nos com tanques de guerra e voltámos a correr para casa", começou por contar Daniel Rosa ao "Globoesporte".
Daniel mora sozinho num apartamento, mas há uma semana que divide o apartamento com os dois jogadores brasileiros acima mencionados. Estão acompanhados de uma tradutora ucraniana. Precisamente há uma semana, o autocarro do Prodexim Kherson, equipa que representam, voltava de uma viagem a Ivano-Frankivsk (no Oeste da Ucrânia), quando souberam que a Rússia estava a atacar o país.
"Faltava uma hora para chegarmos à cidade e começámos a ver o movimento de carros a sair da região. Todo mundo a sair da cidade e nós a voltar. Procurámos informar-nos e soubemos da invasão", continuou.
Depois de alguns dias de relativa tranquilidade, os jogadores da equipa esconderam-se na casa do treinador, Dmitry Berbentsev, que tem uma espécie de bunker. Após algumas noites, os brasileiros voltaram para o apartamento de Daniel Rosa. Mas, desde terça-feira que lhes é recomendado não saírem de casa.
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Igor Kolykhaev, prefeito da cidade e também presidente do clube, dirigiu-se aos cidadãos de Kherson nas redes sociais.
"Ontem [terça-feira, 1 de março] à noite, quando eu e a minha equipa estávamos na prefeitura, o prédio foi atingido. Todos estão vivos. Mas peço novamente: não saiam de casa. Não provoquem um tiroteio com as vossas ações e comportamento. Estamos numa situação muito difícil. Não precisamos complicar. Hoje vou trabalhar para encontrar uma saída para recolher os mortos, restaurar as ligações de energia, gás, água e aquecimento que foram danificadas. Mas deixo já um aviso: fazer essas tarefas hoje significa fazer um milagre. Estamos todos à espera de um milagre agora. É disto que precisamos."
Daniel Rosa continuou: "Muita gente pergunta: por que ainda não saíram? Não tem como o fazer neste momento. Existem pessoas que estão há dias na fronteira sem conseguir passar. Não adianta ir para a fronteira sem ter a certeza de que vai passar. Estamos com pouco dinheiro aqui, não sabíamos que isto iria acontecer. Imagina chegar lá, não ter onde ficar, a passar frio. Neste momento estamos à espera."
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Já Leonardo Rosa, 34 anos, irmão de Daniel e também jogador de futsal, está do outro lado da guerra, em Moscovo, na Rússia, onde a realidade é bem diferente.
"Aqui na Rússia a vida está normal, o campeonato está a decorrer, treinos, escolas. A única questão é a liquidez nos caixas eletrónicas, estamos preocupados que desapareça [o dinheiro]. Temos rezado para que ele [Daniel Rosa] saia de lá [Ucrânia] o mais rápido possível."