Vencedor da Volta a Portugal ainda estará esta terça-feira no Estádio do Dragão, mas sexta-feira a W52-FC Porto já parte para a Volta à Dinamarca.
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João Rodrigues não mais parou desde que, ao final da tarde de domingo, vestiu na Avenida dos Aliados a sua primeira camisola amarela da Volta a Portugal, mas o carácter calmo do algarvio de 24 anos tem-no ajudado a superar os momentos de euforia sem comprometer o que aí vem: sexta-feira parte para a Volta à Dinamarca (dias 21 a 25), depois terá o francês Tour de Poitou-Charentes (27 a 30) e só terminará a época em setembro, na Volta à China. Todas as provas têm escalão igual ou superior ao da Volta a Portugal, que ontem ainda era o grande tema.
Quando percebeu que era candidato a vencer a Volta a Portugal?
- Percebi que poderia discutir a Volta na etapa do Larouco, quando fiquei mais perto da liderança, mas sempre com a segurança de ter o Gustavo atrás. Esse era um ponto a nosso favor, termos sempre dois atletas bem posicionados. Mas foi aí que comecei a acreditar.
E a vitória na Torre?
- Foi um momento alto, a mais bonita das vitórias por etapas que já tive. Ganhar a mítica subida ao alto da Torre é um momento especial, que recordarei para sempre.
Antes dessa subida não era visto como o principal candidato da equipa?
- Naturalmente. Sou apenas mais um que está para ajudar, seja a liderar ou a trabalhar para os colegas. As oportunidades foram surgindo e fui aproveitando.
Vencer a Volta não mudará esse estatuto?
- Vou continuar a ser a mesma pessoa. Se isto mudará algo não sei, só o tempo o dirá.
Como foram estas horas depois da vitória?
- Muitas mensagens, telefonemas, um dia agitado. Foi um dia diferente, mas tenho tentado continuar relaxado e a passar o tempo com os meus colegas, pois foram eles que estiveram ao meu lado até aqui. Tenho ficado calmo e sem ligar muito às redes sociais.
Já está a pensar na próxima corrida?
- Sexta-feira já vou para a Dinamarca e depois França e China. Não posso abusar muito.
Vai tentar aproveitar a boa forma para tentar brilhar lá fora?
- Já que estamos num bom momento, vamos tentar mostrar o nosso melhor. Mas sabemos que é uma corrida diferente, com vento, chuva e subidas curtas e explosivas. Se calhar não é o nosso ideal, que somos atletas mais leves e para subidas mais longas, mas vamos tentar o melhor resultado possível.
Chuva também já tiveram na Volta a Portugal...
- É verdade! E chuva é coisa a que não me consigo habituar. Aqui choveu, mas a temperatura não era baixa, na Dinamarca podemos sentir frio, o que para nós é mais complicado.
Na Volta, quando chegou a chuva, vocês tiveram a famosa queda...
- Foram os piores dias, sem qualquer dúvida. Na etapa seguinte, doridos da queda e à chuva, com os calções a fazerem fricção nas feridas... Vá lá que conseguimos salvar o dia no Larouco, apesar de ter perdido aqueles 11 segundos para o Jóni.
Da queda ficou uma imagem interessante: o Daniel Mestre a amparar o João Rodrigues, quando era ele que estava em pior estado.
- É verdade. Caí desamparado e fiquei cheio de dores na perna esquerda; como não tinha sido avaliado não sabia o que tinha, não sabia se teria perdido ali a corrida... Afinal, ele é que estava mal, com uma costela partida! Isto, a preocupação dele em ajudar-me, mostra o que é nosso espírito de grupo.
Na etapa da Senhora da Graça a W52-FC Porto jogou de forma diferente...
- Fizemos o que nos competia, atacar ao máximo para isolar o Jóni. De certa forma conseguimos fazê-lo, apesar de ele ter tido sempre ajudas...
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Como viu essa intervenção da RP-Boavista e do Sporting-Tavira, a puxar quando já não havia gente da Efapel?
- Cada um faz a sua corrida e a sua estratégia. Nós fizemos o que nos competia e cada um joga com as cartas que tem.
A Senhora da Graça gerou um inédito empate na liderança antes do contrarrelógio do Porto. Como encarou esse último dia?
- Tinha confiança. O último contrarrelógio da Volta depende sempre da capacidade de recuperação de cada atleta, pois já se passaram muitos dias. No ano passado tinha sido segundo e ganhando tempo ao Jóni. Consegui repeti-lo.
O "partir à morte" era o segredo?
- Uma das partes mais duras era a inicial, tinha de ser feita assim. Depois seguia-se uma zona mais técnica, que nos permitia respirar um pouco, e o final para dar tudo até aos Clérigos. Eram essas as chaves.
No último quilómetro, e estando no limite, o apoio do público contou?
- Claro! Era um contrarrelógio duro e chegava-se ali "vazio". Tinha ganho um tempo de início e o paralelo final era duro, mas fiz uma boa subida. Quando se sentiu aquela multidão a gritar por nós e pela equipa, foi uma força extra. É aquilo que nos faz acreditar.
Alguma vez tivera um final assim?
- Não, só na entrada da Senhora da Graça tinha visto muita gente. Uma chegada assim nunca tinha visto.
Será como uma etapa na Volta a França?
- Nunca fui à Volta a França, não sei. Mas acredito que seja assim.
Um sonho futuro será fazer o Tour?
- Sou atleta da W52-FC Porto e para já não penso muito nisso. Não tenho qualquer tipo de conversação, não há nada sobre o meu futuro, por isso só estou focado na equipa. Sinto-me em casa. É o quarto que estou cá, sinto-me acarinhado por todos.
Tem uma equipa com muitos algarvios...
- É verdade, além de mim, do Ricardo Mestre e do Samuel Caldeira há o Daniel Mestre, que é alentejano mas vive em Faro.
Isso ajuda?
- Sim, porque treinamos juntos. Conhecemo-nos bastante bem, nas corridas sabemos qual é o limite de cada um, o ritmo que podemos meter e isso é um ponto a nosso favor.
Não tem sonhos mais altos?
- Gostava de correr lá fora e numa das melhores equipas do mundo. Toda a gente ambiciona isso, mas não tenho pressa. Tenho 24 anos, pode ser uma boa altura para sair, mas não penso nisso.
Ainda vai evoluir?
- Tenho 24 anos e diz-se que o pico de um ciclista é entre os 28 e os 30, portanto tenho muito a melhorar, incluindo a subir. No contrarrelógio também. Basta trabalhar para se melhorar.
A quem dedica a vitória na Volta a Portugal?
- Não pode ser só para uma pessoa, quando foram tantos a ajudar-me. Esta Volta é para os meus colegas e a minha família e muitos amigos que, estando longe, estiveram sempre a mandar mensagens de apoios. E agradeço à multidão que estava no Porto, esperando que não tenha sido só um ano. Que nos próximos continuem a aparecer.
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