João Rodrigues não se sente o maior talento do pelotão português e dá primazia ao trabalho. Quer chegar ao WorldTour e gostava de correr o Giro
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João Rodrigues confirmou na Volta ao Alentejo tudo o que de muito bom fizera na Volta ao Algarve, sendo já uma figuras da temporada, até porque deu à W52-FC Porto a única grande corrida nacional que faltava ao palmarés do clube com mais vitórias no ciclismo nacional. Porém, o algarvio de 24 anos rejeita grandes distinções e ainda nem pensa na Volta a Portugal - foi sétimo na época passada, tendo trabalhado para o triunfo de Raúl Alarcón -, apontando para já à conquista de pontos para a equipa subir no ranking.
Festejou a primeira vitória numa etapa e, logo a seguir, a primeira numa volta. Assume ser um ciclista em foco neste início de época?
Não estava de todo à espera. Nunca tinha feito uma Volta ao Alentejo e nem fazia questão de ir, mas, vendo agora, o Nuno Ribeiro [diretor desportivo] tinha razão quando me disse que a 4.ª e a 5.ª etapas, com a subida do Cabeço de Mouro, antes de Portalegre, e o crono eram ao meu jeito. Não foi na serra, foi no contrarrelógio que acabei por conquistar a camisola amarela.
Sentiu logo aí que ia ganhar a Alentejana?
Fiquei em vantagem, mas sabia que a chegada a Évora era complicada, com uma subida explosiva, e o Luís Mendonça também se encontrava bem e é muito rápido. Pensei que podia haver cortes no pelotão, nunca me senti seguro. Ia haver perigo até ao risco final. Felizmente, tudo correu bem e a equipa protegeu-me.
Sabia que a Volta ao Alentejo era a única grande corrida portuguesa que o FC Porto nunca tinha ganho?
Antes não sabia; só depois da chegada é que ouvi essa curiosidade.
O que sente ao ser apontado como o maior talento do pelotão português?
Sinceramente não me vejo assim, como um dos melhores ou dos mais fortes - nem me sinto assim. Quero é fazer o meu trabalho e sei que as coisas estão a correr bem. Mas não é por ter ganho a Volta ao Alentejo que vou mudar. Sei que vai prosseguir tudo normal na minha vida e não sinto qualquer peso.
Esta época, a equipa faz contas ao ranking ou ainda não se pensa nisso?
Claro que pensamos. É já para o ano, creio, que as melhores equipas do Europe Tour têm acesso direto às Grandes Voltas [Tour, Giro e Vuelta] e por isso queremos melhorar em alguns aspetos para poder somar pontos e participar numa Grande Volta, quer pelos pontos quer, também, pelos resultados e classificações.
Portanto, ser nesta altura a 18.ª equipa do ranking europeu [e 37.ª mundial] é abaixo do esperado?
Queremos fazer melhor, mas neste momento temos poucas corridas realizadas. As clássicas lá fora é que dão mais pontos, a Volta ao Alentejo nem por isso. Não sei o nosso calendário concreto, mas as ocasiões vão surgir e vamos averbar mais pontos, seguramente.
E agora, o que se segue?
A próxima prova é a Volta à Turquia, de 16 a 21 de abril. Mas amanhã já vou para Navacerrada.
Em estágio?
Sim, cerca de duas semanas. Vamos eu, o Raúl Alarcón, o Samuel Caldeira e, em princípio, também o Ricardo Mestre. Pelo meio participamos na Clássica Miguel Indurain, para manter o ritmo competitivo durante esse período.
Qual a corrida que mais gostava de fazer pela W52-FC Porto?
Das Grandes Voltas, preferia o Giro de Itália. O Tour é a mais mediática, mas preferia o Giro ou, se calhar, até a Vuelta.
Não sonha correr um dia numa equipa do WorldTour?
Desde que me iniciei no ciclismo que é um objetivo e um sonho chegar ao WorldTour. Acho que qualquer ciclista pensa nisso... Todos querem ser campeões nacionais e correr na maior divisão mundial da modalidade. Penso nisso e quero ir o mais rápido possível, mas, por outro lado, não tenho pressa. Irei aguardar pela altura em que se proporcionar.
"Foi muito bom ouvir os parabéns do presidente Pinto da Costa"
Mal cortou a meta, em Évora, a caixa de mensagens de João Rodrigues começou a ficar entupida. Os parabéns pela vitória na Volta ao Alentejo chegaram de todo o lado. "Ainda tenho de agradecer a muita gente", confessa João Rodrigues. Amigos e familiares não deixaram passar a ocasião, bem como o presidente dos dragões. "Sim, é verdade, o presidente Pinto da Costa já me falou a dar os parabéns. Foi muito bom ouvi-lo", acrescentou o jovem algarvio, que recebeu igualmente palavras especiais do patrão da W52, Adriano Quintanilha.
"Para a Volta o nosso grande líder é o Raúl Alarcón"
Falar da Volta a Portugal, o palco por excelência onde a W52-FC Porto tem brilhado, é tema obrigatório na conversa com o algarvio João Rodrigues. "O diretor ainda nada me disse sobre a Volta a Portugal... nem sei se vou. A Volta a Burgos é próxima dessa data, é um grande teste, mas não conheço a planificação da equipa. Seja como for, não tenho ainda como objetivo a Volta a Portugal", afirmou logo o jovem, sabendo que a W52-FC Porto, procurando o tetra desde a ligação aos dragões, tem responsabilidades acrescidas. "E não se vai furtar a elas", interrompe. "O nosso grande líder é o Raul [Alarcón], depois, durante a corrida, logo se vê, como sucedeu com o Rui [Vinhas], que agarrou bem a oportunidade há uns anos. Para já, e pessoalmente, não tenho objetivos predefinidos", garantiu.