João Paulo Félix correu 1300 quilómetros em 25 dias. A Volta a Portugal a correr deste ultramaratonista começou em Faro, passou por Chaves, Porto e terminou em Lisboa.
Corpo do artigo
Começou a correr em Faro, na direção de Chaves, rumou depois para o Porto, passou pela Figueira da Foz e terminou em Lisboa, no sábado do passado fim de semana, tendo percorrido 1300 quilómetros em 25 dias. Quando João Paulo Félix chegou à Praça do Império ainda lhe sobrou energia para correr 10 quilómetros extra para fechar a distância da Volta a Portugal a Correr num número redondo.
O que levou este sociólogo, de Salvaterra de Magos, com uma predileção por ultramaratonas, a iniciar tamanha odisseia? "A ideia nasce em plena pandemia. Fiz 50 anos em maio e dei por mim fechado em casa. Gostaria de fazer algo extraordinário, inspirador, um hino de liberdade para mostrar que é possível fazer coisas num contexto muito difícil", contou em exclusivo a OJOGO.
A aventura não se fez sem percalços. Os 43.º graus na travessia do Alentejo e uma ferida feia numa coxa devido à fricção dos calções, mas o que mais preocupou foi uma inflamação no tornozelo quando tinha um acumulado 580 quilómetros, nas proximidades de Viseu. Uns anti-inflamatórios cuidaram do inchaço, mas a cabeça esteve boa: "Corri com muitas dores durante dois dias, mas nunca me passou pela cabeça desistir. Aliás, quando fiz as duas primeiras etapas, em Faro, percebi que ia conseguir".
A rotina dos 25 dias começou impreterivelmente com o despertar às 05h00. Hora e meia depois os pés começavam a digerir quilómetros e normalmente havia duas ou três pausas de cinco minutos na corrida (cadência média de 7m30s/km) para mudar de roupa, tratar dos pés e comer e beber. Sandes de presunto e queijo, fruta, batatas fritas, água - média de oito litros por dia -, refrigerantes e probióticos era o menu habitual durante a corrida. Finalizada a etapa, seguia-se o almoço, compromissos com os patrocinadores, lavagem da roupa, uma sesta e o jantar 08h00 e a dormida às 21h30. "Trabalhar com regras rígidas e agarrar a rotina são fatores de sucesso", diz.
Paulo não fez nenhuma preparação especial para esta Volta a Portugal porque "isto é mais uma consequência natural do trabalho de muitos anos", explica. Em jovem fez desporto federado e a experiência em ultramaratonas é vasta, destacando-se no currículo os 328 quilómetros na prova de etapa única "Volta ao Ribatejo", em dezembro de 2018.
O atleta que chegou à Praça do Comércio com menos 3,5 quilogramas e mais algumas varizes, correu sob o lema da luta contra a violência doméstica, realidade que conhece bem devido ao trabalho de supervisão técnica de crianças em situações de maus tratos.
"O apoio da minha família e da equipa permanente de quatro elementos, toda a entreajuda entre nós e entre os amigos e populares que se juntaram e correram comigo foram extraordinários. Tenho sorte, sou muito apaparicado.", destacou.
Três dias depois de finalizada a Volta a Portugal a Correr, João Paulo Félix já está a desenhar novos desafios. A "Volta à Ilha da Madeira" e uma maratona ao redor de 120 castelos do país já começam a ganhar forma.