<strong>ENTREVISTA (parte 1)</strong> - O Escocês Voador, cavaleiro do Império Britânico, tem uma vivacidade invejável aos 81 anos. Agora empresário, Jackie Stewart segue sempre a Fórmula 1 e foi no Algarve, após os treinos, que falou a O JOGO
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Sir John Young "Jackie" Stewart tem 81 anos, foi das maiores estrelas da Fórmula 1 entre 1965 e 1973, conquistando três títulos mundiais e sendo durante muitas épocas o detentor do recorde de triunfos: 27. É o único campeão da década de 1960 ainda vivo e retirou-se da F1, já campeão, sem fazer a última corrida, pois nos treinos morrera o seu colega François Cevert. No Algarve a convite da Heineken, o escocês falou com O JOGO.
Para aprender um circuito, seriam necessárias, provavelmente, 50 voltas; agora, com simuladores, são muito menos
Esteve em Portugal, mas no Estoril. Este circuito, já o conhecia?
-Não, e ainda tenho de ir ver melhor. Gosto do aspeto dele, com altos e baixos e muitas curvas. É comum termos oito ou nove curvas, aqui são umas 16 e algumas parecem desdobrar-se em duas. É um bom circuito, bastante técnico.
Quais são as maiores dificuldades para equipas e pilotos?
-É sempre mais difícil quando nunca se esteve num circuito. Não só para o piloto, mas também para os técnicos; hoje em dia, a tecnologia na Fórmula 1 é inacreditável. É ainda provavelmente mais avançada do que a aeroespacial, porque muda mais rapidamente. Chegamos a este circuito e as características são completamente diferentes do de há duas semanas, mas toda a tecnologia é trabalhada de antemão, com a ajuda de simuladores. Na Fórmula 1, temos os simuladores mais sofisticados do mundo. Portanto, estes pilotos sentaram-se durante horas, aprendendo tudo. Na minha altura não era assim. Para aprender um circuito, seriam necessárias, provavelmente, 50 voltas; agora, com simuladores, são muito menos.
Como será a corrida num circuito muito técnico?
-Normalmente, os melhores pilotos são fortes num novo circuito, tal como em tudo o resto. Portanto, Hamilton, Bottas e Verstappen serão os pilotos a ter em atenção. São os três melhores no momento, não apenas hoje, e o mais provável é vermos os melhores na frente. De qualquer forma, continuará a ser um desafio para eles. Mesmo com muito trabalho no simulador, quando o carro está no limite da sua potência a sensação é muito diferente. E se chover, será totalmente diferente....
A segurança é agora muito diferente em relação ao seu tempo. Como vê isso?
-As escapatórias têm estruturas que nós não tínhamos, os bombeiros não possuíam o equipamento adequado, o apoio médico não tinha o equipamento certo, o cockpit de um F1 atual é uma célula de sobrevivência. Agora, quase nenhum piloto tem lesões graves. Mesmo quando se viram de cabeça para baixo e batem a alta velocidade, toda a estrutura é muito sofisticada e evita esse tipo de consequências.
Mas foram os acidentes mais graves a influenciar essas mudanças...
-A morte é uma coisa muito feia. Os acidentes entusiasmam, mas quando se vê hoje um grande acidente de Fórmula 1, na maioria das vezes o piloto afasta-se do carro pelo próprio pé. Fantástico! É a tecnologia. Evoluiu-se muito no design dos carros, nos incêndios, na medicina. Dito isto, a minha vida tem sido passada a eliminar o risco de danos. Hoje estou vivo por causa disso. Por isso, sempre quis que os melhores mecânicos e engenheiros olhassem por mim. Em toda a minha vida, só perdi uma roda, e isso não teve nada a ver com um erro mecânico.
"O segredo para um país é ter um bom piloto"
Jackie Stewart não fala de Félix da Costa e diz que a Portugal só falta ter um grande piloto, como aconteceu com o Brasil, de onde saíram tantos que ele os batizava como "ABB" - "outro maldito brasileiro". Como era de prever num dos melhores pilotos da história, não se perde de amores pela Fórmula E - embora a aborde como um "gentleman" -, nem conhece bem a realidade portuguesa.
Não houve pilotos portugueses na F1 nos últimos 14 anos. O Mundial não se tornou inacessível para países pequenos como Portugal?
-Também não havia nenhum piloto brasileiro. E de repente houve um brasileiro. E houve paixão por um desporto porque, de repente, alguém é muito bom. Portanto, não tem a ver com a nacionalidade, tem a ver com o facto de alguém em Portugal se tornar um bom piloto; depois haveria outros, certamente. No Brasil, houve um desenvolvimento tal dentro de um país, dentro de uma região, que até passei a chamar "ABB" a esses pilotos; significa "another bloody brazilian ["outro maldito brasileiro"]". Houve um tempo em que havia muitos pilotos brasileiros, depois passaram a ser os alemães, a seguir italianos e depois, novamente, os ingleses.
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O campeão da Fórmula E é português. Esse campeonato alguma vez poderá fazer frente à F1?
-Penso que é bom termos a Fórmula E; é bom para o desenvolvimento de novas tecnologias. Mas a maioria dos pilotos que a lideram são ex-pilotos de Fórmula 1. Ainda não apareceu nenhum a dominar enquanto jovem especialista da Fórmula E. Os que têm estado no topo têm sido, em geral, pilotos de F1 que perderam os seus lugares no campeonato. Não foram suficientemente bons. Foram para a Fórmula E, e é claro que estão mais avançados nos seus conhecimentos. Mas faltam os jovens pilotos de Fórmula E que nunca foram à Fórmula 1. Isso irá mudar, acredito que virá outra geração e talvez consigamos arranjar um tipo novo. Mas talvez depois ele diga... quero chegar à Fórmula 1, porque é aí que está a grandeza!
DADOS
27 - Campeão mundial em 1969, 1971 e 1973, uma vez pela Matra e duas pela Tyrrell, as 27 vitórias de Stewart foram um recorde só superado por Prost em 1987. Ainda é o oitavo mais vitorioso da história e na sua era só havia 11 corridas por ano!
99 - Stewart esteve em 100 Grandes Prémios, mas só alinhou em 99. Em Watkins Glen"1973, EUA, ia retirar-se já campeão, mas François Cevert morreu nos treinos. E a Tyrrell não alinhou.