Nesta década, o ténis português apresentou a melhor representação de sempre no panorama internacional. João Sousa continua a ser o grande embaixador
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Não há memória de um ténis português federado, e a um lustro de se tornar centenário (1925-2025), tão produtivo como nos últimos anos. A nódoa acaba por ser a falência da João Lagos Sports, em 2014.
ATP Tour: João Sousa conquistou três títulos em dez finais, entre 2013 e 2018
Em abril de 2011, João Sousa, na altura com 22 anos, e Gastão Elias, que tinha 20, defrontaram-se na primeira ronda do Estoril Open. Depois de o vimaranense sair do court a amparar o lourinhanense, que desistira a 2-5 no terceiro set devido a cãibras, estava-se longe de imaginar que, mais tarde, ambos atingiriam os melhores registos de sempre: em 2016, Sousa foi 28.º, em maio, e Elias 57.º, em outubro. Superavam-se as marcas de Nuno Marques (86.º em 1995), Rui Machado (59.º em 2011) e Frederico Gil (62.º em 2011)!
O ténis português tardou em afirmar-se e foi preciso entrar na segunda década do século XXI para se verificarem as principais proezas. O primeiro sinal foi dado por Frederico Gil, quando esteve muito perto de ganhar o Estoril Open"2010.
A seguir abriu-se um leque de conquistas, a maior parte com a assinatura de João Sousa e com especial relevância para o título na edição de 2018 do ATP do Estoril, enquanto, no feminino, Michelle Larcher de Brito dava sequência a façanhas precoces antes de se "reformar", em março de 2018, com apenas 25 anos. O minhoto e a lisboeta, cujas carreiras foram construídas em Barcelona e na Florida, respetivamente, tornaram-se nos melhores tenistas portugueses de todos os tempos.
Aliás, no início do verão de 2013 e no dia da apresentação do Guimarães Open, Michelle causava sensação ao vencer a russa Maria Sharapova (3.ª do ranking WTA) em Wimbledon! Poucas semanas mais tarde, João Sousa conquistava o challenger da sua terra natal, salvando quatro match points na ronda inaugural ante o francês Antoine Benneteau; essa foi também a última passagem por um evento dessa "segunda divisão", conseguindo lugar cativo no principal circuito (ATP Tour).
E não tardou a obter o primeiro título: Open de Kuala Lumpur, na Malásia, com a incrível coincidência de vencer, na final, Julien Benneteau, irmão de Antoine, após evitar um match point! Ao fechar 2013 na 49.ª posição, dava a melhor sequência à entrada no top 50, lograda em outubro, e superando as 200 semanas (alternadas) nessa elite no decorrer deste ano de 2019, que encerra no 60.º lugar - a "pior" posição desde que terminou como 101.º a época de 2012.
João Sousa: "Ganhar o único evento ATP Tour em Portugal não tem preço e fica na história"
Tornar-se-ia exaustivo descrever os recordes do tenista que em meados da primeira década deste século rumou a Barcelona e aí se instalou para concretizar um sonho de criança e tendo a felicidade de encontrar Frederico Marques, que se tornou seu treinador.
Nestes últimos anos, o desmantelar da João Lagos Sports foi a grande perda do ténis português. O ex-campeão nacional, que teve enorme sucesso na organização de torneios e exibições desde a década de 1970, viu a empresa falir e o Estoril Open passar, em 2015, após 25 edições no Jamor, para as mãos de outro proprietário - a 3Love - e mudar-se para o histórico clube da Linha.
Nove vitórias frente a inquilinos do top 10
Outro sinal da época dourada vivida pelo ténis português entre 2011 e 2019 é o número de triunfos sobre jogadores(as) do "Clube dos Dez" dos rankings ATP e WTA. O pioneiro foi Nuno Marques, em 1995 (Berasategui/7.º), sendo necessário esperar mais de década e meia até Frederico Gil ganhar a Monfils (10.º).
Este também contribuiu para o único sucesso neste capítulo de Gastão Elias, vencedor em 2016, em Estocolmo, quando o francês era 7.º. Mas uma mão-cheia deste género de êxitos é propriedade de João Sousa: Ferrer (4.º/2013), Nishikori (5.º/2016), Zverev (5.º/2018), Goffin (9.º/2018) e Khachanov (9.º/2019). A esta lista juntam-se as duas vitórias de Michelle Larcher de Brito, sobre Maria Sharapova (3.ª/2013) e Ana Ivanovic (7.ª/2015).
DADOS
- João Sousa encerra 2019 superando os seis milhões de euros (6 058 060) em ganhos oficiais na carreira
- Em 2013, Michelle Brito sai do top 100, cumprindo 12 semanas desde 2009 - ano do melhor ranking (76.ª)
- Gonçalo Oliveira, preterido nas escolhas para a Taça Davis, encerra 2019 no 86.º lugar de pares
- Aos 30 anos, Pedro Sousa torna-se, em duas semanas de fevereiro"2019, o mais velho a estrear-se no top 100
2011
Gil e um êxito de luxo
Quase um ano depois de perder a final do Estoril Open, Frederico Gil alcança a primeira e única vitória da carreira sobre um adversário do top 10: o francês Gael Monfils (10.º), na segunda ronda do Masters de Monte Carlo. Neste ano, o sintrense permaneceu durante 49 semanas no top 100 do ranking ATP.
2012
Fredericos fortes aos pares
Frederico Gil conquista, ao lado do espanhol Daniel Gimeno, a final de pares do Open chileno de Viña del Mar - ainda hoje o último título de um português nessa variante num torneio do ATP Tour. Frederico Silva (na foto) sagra-se vencedor, associado ao britânico Kyle Edmund, do US Open de juniores.
2013
"Boom" do Conquistador
Em finais de setembro, no Malaysian Open, em Kuala Lumpur, João Sousa obtém o primeiro título de singulares de um português num certame do ATP Tour. Poucos dias mais tarde, o Conquistador estreia-se no top 50 do ranking. Frederico Silva, de novo com Edmund, vence outro Grand Slam júnior em pares: Roland Garros.
2014
Acaba o "velho" Estoril Open
A cumprir um quarto de século, o Estoril Open deixa de ser propriedade da João Lagos Sports (ex-Soténis, fundadora do evento, tendo como conselheiro Marcelo Rebelo de Sousa), dada a insolvência da empresa do antigo campeão nacional, que trouxe até nós o chamado Big 3: Nadal, Federer e Djokovic.
2015
Um título em quatro finais
Depois de perder as finais na terra batida de Genebra e Umag, em julho, João Sousa abre a campanha indoor, em setembro, com mais uma final (São Petersburgo) e, no respetivo encerramento, em novembro, sagra-se vencedor do Open de Valência, obtendo o melhor ranking de fecho de temporada de sempre: 33.º!
2016
O grande Elias
A 25 de abril dá-se a grande "revolução" na carreira de Gastão Elias, com a entrada no top 100 do ranking, logrando a melhor posição (57.º) em outubro, mantendo-se 361 dias consecutivos numa elite a que nunca mais voltaria. João Sousa alcança em maio o ainda hoje melhor ranking de sempre (28.º).
2017
O pesadelo na Taça Davis
Aquilo que se esperava vir a ser a concretização de um sonho deu em pesadelo. A Seleção Nacional perde, no Jamor, com a Alemanha (sem o líder Alexander Zverev), por 2-3, e deixa escapar a entrada no Grupo Mundial da Taça Davis - 23 anos depois de falhar a primeira tentativa, face à Croácia, na Foz do Douro.
2018
Momento histórico
O maior momento da história do ténis português é vivido no dia 6 de maio com a conquista do Millennium Estoril Open por parte de João Sousa, após salvar dois match points nos oitavos de final, frente a Pedro Sousa. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi felicitá-lo à porta do... duche.
2019
Austrália após capitão
No primeiro Grand Slam da temporada, o Open da Austrália, João Sousa atinge as meias-finais de pares na companhia do seu amigo argentino Leonardo Mayer. Poucos meses antes, Rui Machado substituíra Nuno Marques (empenhado no projeto árabe da Academia de Rafael Nadal) no cargo de selecionador nacional.