ENTREVISTA, PARTE V - Em entrevista a JOGO, Iúri Leitão assume que nunca tiraria o ouro a alguém no chão, como aconteceu com o francês Benjamin Thomas na prova de omnium, em Paris'2024. O ciclismo português preferiu esperar pelo francês para voltar a discutir os sprints
Corpo do artigo
Vocês eram estreantes, mas não tremeram como acontece à maioria...
-Fomos como estreantes, mas fomos, acima de tudo, felizes. Não fomos nervosos. Na realidade, o Rui estava um bocadinho nervoso. Mas é normal, compreensível. As pessoas que nos rodeavam estavam mais nervosas. Eu tive de manter a serenidade...
A pressão não é mais forte nos Jogos?
-Depende. A pressão afeta as pessoas de maneiras diferentes. Os Jogos Olímpicos são uma responsabilidade. Mas também existe noutras provas. Se andarmos para trás, lembro-me de ser escolhido pelo selecionador para o omnium do Campeonato do Mundo, a prova que mais pontos dava para irmos aos Jogos Olímpicos. Tendo em conta que o objetivo máximo era o apuramento, não podia falhar, caso contrário Portugal não ia aos Jogos.
Não falhou e foi campeão do mundo...
-Pois, fui campeão do mundo. E a responsabilidade de levar Portugal era tanta... Mas a pressão é uma motivação. Estamos em representação do nosso país, há centenas de atletas que gostavam de estar no nosso lugar. Não podemos pensar que é complicado, ou que é difícil. Nunca. Meter a bandeira ao peito e ir para a pista é um gosto, um orgulho, uma honra.
Foi a pensar assim que chegou a Paris?
-Temos de ir aos Jogos Olímpicos e desfrutar de lá estar. Foi o que disse nas entrevistas anteriores e a maioria dos jornalistas não acreditou em mim. Fui para me divertir. E para trazer um diploma olímpico, mas consegui trazer melhor.
Trouxe o melhor resultado que podia, mas podia ter dois ouros, se não esperasse pelo regresso do francês, quando ele caiu no omnium. Já pensou nisso?
-Já pensei nisso. Mas se pensar em todos os “ses” passo a tarde inteira a falar disso. Muitas condicionantes fizeram com que não ganhasse o ouro.
Poderia ter atacado quando o francês caiu e não o fez. Hoje faria o mesmo?
-Sem pensar duas vezes. Não me ia sentir bem se ganhasse o ouro dessa forma. Se calhar não ia estar aqui com este brilho nos olhos, nem tão orgulhoso com as duas medalhas. Seria mais: ganhei, mas porque o outro caiu, não por meu inteiro mérito. Preferi esperar que ele voltasse, ele começou a discutir os sprints comigo outra vez, ataquei de novo e ele ganhou. Ponto.
O francês disse-lhe alguma coisa depois?
-Não tive oportunidade de falar com ele. Mandou-me uma mensagem, a dizer que tinha visto as imagens e as entrevistas que eu dei depois. Agradeceu-me as palavras e disse que tinha muito orgulho de competir contra mim, que sou dos atletas mais fortes e batalhadores contra quem ele já competiu, que era uma honra correr comigo. Respondi que fiz a minha parte.