Sprinter da Caja Rural-RGA abriu com estrondo a sua época de estrada, andando de amarelo e vencendo uma etapa no Alentejo. Mas o foco do campeão mundial de pista está em Paris’2024
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“Sendo a primeira prova de estrada do ano, simplesmente ia sem expectativas e correu muito bem”, diz Iúri Leitão a O JOGO, já recuperado de uma Volta ao Alentejo que fechou de forma sensacional, com uma vitória folgada ao sprint, em Évora. O vianense de 25 anos, já com dez triunfos em estrada, sete pela espanhola Caja Rural-RGA, com a qual tem contrato até ao final de 2025, tem-se afirmado como melhor sprinter português da atualidade, mas fazendo boa parte da carreira na pista, a sua prioridade deste ano. A meta são os Jogos Olímpicos.
“Percebi que entrei na época de estrada em boa forma. Os outros vinham com maior rodagem competitiva, pois tinham feito a Volta ao Algarve ou outras corridas, pelo que ser duas vezes segundo, uma quarto e ganhar a última etapa superou o que esperava”, confessa Leitão, que, ao terceiro dia da Volta ao Alentejo, vestiu a camisola amarela, mas para ajudar o colega Edu Prades a guardá-la em definitivo, logo na etapa seguinte.
“A geral não era para mim. A etapa mais difícil fazia uma seleção e estava ciente das minhas dificuldades. A equipa tinha mais opções e esse dia foi para trabalhar para os colegas”, conta, não estranhando ter puxado o pelotão exibindo as cores de líder: “É verdade, trabalhei de camisola amarela vestida. Não foi a primeira vez. Estou habituado, faço-o com todo o gosto e assumo que a amarela não é um posto, é apenas um símbolo”.
“De pistas percebemos nós, mas o selecionador não nos dá nenhuma!”
Abrindo o ano a sagrar-se pela terceira vez campeão europeu de scratch e ajudando depois a Seleção Nacional a subir no ranking olímpico de madison - é terceira e terá o apuramento olímpico confirmado a 14 de abril, em Milton (Canadá) -, com três quartos lugares, e no de omnium (é quarto na tabela, também indo a Paris’2024), o velocista sabe que agora terá “a Volta a Turquia, a 21 de abril, e a Volta à Grécia, em maio”, ficando para já com um intervalo para dedicar à pista, “assim como o mês de julho, numa preparação que espero seja para os Jogos Olímpicos”.
“Estamos a contar ir. Falta uma confirmação matemática, mas é quase impossível não irmos”, diz, desconhecendo quais os dois homens que serão convocados para Paris. “De pistas percebemos nós, mas o selecionador não nos dá nenhuma!”, refere, com humor, sabendo que a escolha de Gabriel Mendes será “muito difícil para ele”. “Entre os quatro que estão no projeto olímpico, eu, os gémeos Oliveira e o Matias, todos merecemos ir. Os que forem escolhidos vão merecer muito ir, os que ficarem de fora serão injustiçados, mas o selecionador tem uma vantagem: somos todos bastante amigos, compreenderemos a escolha e desejaremos o melhor a quem for”.
“Naturalmente, ir aos Jogos Olímpicos é um sonho que quero realizar. Mas se for será sem expectativas, o nosso pensamento será desfrutar, saborear aquele mundo novo, sabendo que teremos o trabalho feito e o resultado depois sairá. Seja ele qual for”, completa Leitão, com uma modéstia assinalável para quem possui um estatuto único: é o campeão mundial de omnium!
“Correr uma Grande Volta não é para já”
Entre os portugueses que estão em equipas dos dois maiores escalões mundiais, só o estreante António Morgado e Iúri Leitão nunca foram a Tour, Giro ou Vuelta.
“Correr uma Grande Volta ainda não está nas minhas contas. Infelizmente, a Caja Rural não foi selecionada para a Volta a Espanha deste ano, naquela que seria a única oportunidade”, diz o natural de Santa Marta de Portuzelo, por enquanto pouco preocupado por lhe faltar essa experiência. “No futuro, quem sabe. Tenho evoluído muito nestes três anos pela Caja Rural e, se o continuar a fazer, dar mais esse passo será um objetivo”, diz a O JOGO, sabendo que pela equipa espanhola, 25.ª mundial, só a Vuelta será possibilidade.
“Ser o melhor sprinter português não me diz muito”
Iúri Leitão é o 426.º mundial no ranking de estrada, oitavo melhor português e muito acima dos restantes velocistas nacionais, embora não dê importância a esse destaque.
“Ser o melhor sprinter português não me diz muito, é algo que depende da forma. Espero, isso sim, manter-me como um dos grandes sprinters portugueses, poder ser uma referência”, afirma, com uma adenda curiosa: “Como somos todos amigos - e isso é importante, porque inclusive ajuda a reduzir o perigo nas chegadas -, ninguém anda obcecado para ser o melhor”.