Internacional portuguesa joga na Bielorrússia em tempos de conflito: "Os meus pais ficaram de pé atrás"
Inês Viana, internacional lusa, foi esta época para o Tsmoki-Minsk e lembra como família e amigos ficaram de pé atrás. No país que é aliado da Rússia na guerra com a Ucrânia, a base de 28 anos, natural de São João da Madeira, está a adaptar-se, elogiando as condições que encontrou. Todas as jogadoras são profissionais.
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Portugal nunca terá tido tantas basquetebolistas a atuar no estrangeiro - serão mais de 30 e a última convocatória da Seleção Nacional tinha sete das 16 chamadas a jogar além-fronteiras -, repartindo-se os destinos entre Espanha, Estados Unidos, Islândia, Áustria, Alemanha e... Bielorrússia. Com 28 anos, Inês Viana foi a mais aventureira de todas, assinando uma época com o BC Tsmoki-Minsk.
"A proposta surgiu no final de abril, através do meu agente. No início, não estava cem por cento disponível mentalmente para vir, mas a proposta era muito boa em termos financeiros e de condições do clube. Os meus pais ficaram bastante de pé atrás, o meu irmão e os meus amigos igual. Não houve ninguém que me dissesse logo na primeira impressão: "Vai!"", conta a O JOGO a internacional portuguesa sobre o desafio de rumar ao país aliado da Rússia na guerra com a Ucrânia, explicando que o facto de "vir de uma lesão grave num joelho e conseguir um contrato tão bom" pesou.
O primeiro choque foi na viagem, na última semana de agosto. "Viajei pela Lituânia e foram buscar-me a Vilnius. Depois, tivemos de passar a fronteira terrestre e tive de lá ficar quatro horas. Eles veem tudo", recorda a base, que já jogou na Suíça e Bélgica, sendo a única estrangeira no Tsmoki-Minsk.
"Teoricamente, há de chegar uma norte-americana em dezembro. Neste momento, sou só eu. Mas todas as atletas são profissionais", realça.
À chegada, o impacto continuou, com poucas pessoas a falarem inglês e baixas temperaturas, mas de então para cá "está tudo a correr melhor". "Já sei algumas palavras, já há quatro ou cinco jogadoras com quem me dou melhor e que falam bem inglês. Tenho um apartamento só para mim, motorista para todos os treinos, porque vivo mais perto do centro. O pavilhão é espetacular, com duas piscinas, de água fria e de água quente. Há médicos, fisioterapeutas. Portanto, quando não temos o treino, vamos na mesma para o pavilhão para estes cuidados. Também temos uma massagista dentro do staff. E são estes aspetos que, às vezes, fazem com que estas experiências mais loucas valham a pena", defende a jogadora.
"Não se fala da guerra, vivem uma vida pacata"
Ainda que focada no basquetebol, Inês Viana confirma que "não se fala da guerra" na Bielorrússia, que tem no poder Aleksandr Lukashenko desde 1994.
"Eles vivem uma vida pacata. Ainda há muitas coisas internacionais abertas e as restrições parecem-me ser maioritariamente na Rússia, não tanto aqui. Mas há limitações, quanto mais não seja porque, a partir do aeroporto, só podemos viajar para a Rússia ou para a Turquia", relata a atleta, que tem programado vir a Portugal no Natal e ainda participar nas duas janelas de apuramento da Seleção Nacional para o Eurobasket"2023 (novembro e fevereiro).
No início da época, esteve em Moscovo. "Fomos fazer um torneio de quatro dias. Estava insegura, mas correu tudo bem. Parece que a vida está completamente normal. Claro que eu sei que não está", conclui.