Esta época haverá cinco mulheres lusas em equipas internacionais, mas nem tudo são flores: sem salários, elas conjugam o ciclismo com outras profissões. O World Tour é um sonho distante
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Maria Martins, na britânica Drops, Daniela Campos, na espanhola Bizkaia Durango, e Melissa Maia, Diana Pedrosa e Liliana Jesus, todas na galega Farto-BTC, vão correr este ano no escalão Continental Feminino, a segunda divisão mundial. Será um recorde, depois de em 2018 Maria Martins e Soraia Silva terem emigrado, juntando-se a Daniela Reis, uma espécie de pioneira na aposta internacional. O seu recente abandono da modalidade, tendo apenas 27 anos, é um sinal claro das dificuldades.
No feminino apenas as equipas World Tour - são nove, a maioria ligadas a masculinas famosas, como Movistar, Trek-Segafredo, FDJ, DSM (versão feminina da Sunweb), BikeExchange (Mitchelton) e LIV (CCC) - pagam salários, pelo que as carreiras se fazem por paixão e com sacrifício.
Em Portugal as equipas também não abundam, mas são mais do que num passado recente. NRV-Academia Ciclismo de Paredes, que nasceu ligada à W52-FC Porto, e Efapel já entram num pelotão em que Maiatos, 5Quinas/Município de Albufeira, Bairrada e Korpo Activo-Penacova se destacam.
Entre as internacionais, e depois de Daniela Reis ter conquistado nove campeonatos nacionais e ter sido presença regular em Mundiais, é Maria Martins que atualmente mais brilha. Aos 21 anos, foi terceira no Mundial de pista e apurou-se para os Jogos Olímpicos. Daniela Campos, outro talento da pista, tem 18 anos e assinou pela Bizkaia até 2022. Já o trio da Farto-BTC vai beneficiar da subida de escalão da formação galega.
"Para nós é uma oportunidade fantástica. Vamos poder correr ao lado das profissionais, é um sonho que se concretiza", diz-nos Melissa Maia, que é militar e aos 32 anos se sagrou campeã nacional, tanto em estrada como em BTT. Liliana Jesus tem 37 e é enfermeira, enquanto Diana Pedrosa, de 28 anos, orienta treinos.
A equipa galega paga-lhes as despesas e fornece bicicletas, mas não há salários. "Pagar a ciclistas mulheres só mesmo as equipas do World Tour ou algumas das Continentais mais fortes", explica Melissa, apontando a formações belgas e holandesas. "Isto é mesmo por paixão, corremos por amor à camisola e o nosso sonho é poder andar ao lado das profissionais", revela, tendo como ambições correr algumas das maiores provas e talvez um Europeu, este no BTT.
"Os treinos perfeitos são impossíveis para nós", admite a militar, que por norma pega na bicicleta ao fim da tarde, treinando de manhã aos fins de semana.
"Em Portugal há qualidade, mas falta um incentivo. Alguns bons patrocinadores e pessoal que trabalhe mais connosco; a boa vontade existe mas não dá para tudo", lamenta, deixando um sinal de esperança. "A Maria é muito nova e está lançada", diz sobre a futura olímpica, que acredita poder ser a primeira lusa a chegar a uma das maiores equipas mundiais.
Um Campeonato Nacional bem preenchido
Foram 72 as inscritas nos Campeonatos Nacionais de Fundo, a 10 e 11 de outubro passado, em Castelo Branco, dando uma ideia aproximada, apesar de algumas ausências, do número de mulheres ciclistas em Portugal.
Foi a única prova do ano e esteve para não se realizar, acabando por ter uma participação interessante: inscreveram-se 21 ciclistas elites, em corrida ganha por Melissa Maia, 12 juniores (venceu Beatriz Roxo), 18 cadetes (Mariana Líbano) e 21 master, estas repartidas por três escalões etários.