
Pedro Pablo Pichardo
EPA
Polémica entre Évora e Pichardo, que vai chegar à AR, ensombra o processo que tem reforçado Portugal com refugiados e filhos de imigrantes
Nélson Évora emitiu um comunicado, defendendo ter sido "mal interpretado" nas críticas à naturalização do campeão olímpico Pedro Pichardo, pois "aquilo que quis frisar é que todos os atletas, nas mesmas circunstâncias, merecem as mesmas oportunidades de igualdade para representar Portugal". Mas a polémica entre os dois campeões do triplo salto já extravasou as fronteiras do atletismo, obrigou o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, a lembrar que a naturalização de atletas é "uma tendência europeia" e teve o Chega a anunciar que pretende, da ministra da Justiça, "explicações sobre o processo de nacionalidade de Pedro Pichardo e de outros que estejam em situação semelhante".
"Tivemos 19 atletas na Missão Olímpica que não nasceram em Portugal"
A discussão sobre as naturalizações antecipadas por "interesse nacional" surge num momento em que Portugal surge reforçado com vários atletas de valor - Arialis Martinez, Abdel Larrinaga, Jéssica Inchude e Rosalina Santos foram novidades no recente Europeu de pista coberta -, estando outros a aguardar a conclusão do seu processo, podendo ser grandes apostas nos Jogos de Paris"2024: Reynier Mena, que com 9,99 segundos nos 100 metros foi o quarto europeu da época passada, Roger Iribarne, sétimo europeu com 13,26s nos 110 metros barreiras, e Agaté Sousa, são-tomense que tem 6,81 metros no salto em comprimento, o melhor nacional desde Naide Gomes e 15.ª mundial da última época. São todos atletas do Benfica, tendo o Sporting outro prestes a obter nacionalidade, Omar Elkhatib, quatrocentista de São Tomé que vai ter os cinco anos de residência.
"Tivemos, na Missão Olímpica, 19 atletas que não nasceram em Portugal", lembrou Constantino sobre Tóquio"2020, explicando que vários, sendo filhos de imigrantes, "iniciaram a sua formação desportiva" no nosso país e outros "concluíram-na". Não sendo o caso de Pichardo, lembrou que este "nem foi o processo de naturalização mais rápido", pois a World Athletics obrigou-o a cumprir três anos sem competir por Cuba.
Nelson Évora diz-se mal interpretado, mas já levou o Chega a imiscuir-se numa questão sensível. Portugal teve 19 naturalizados em Pequim"20 e conta ter mais em Paris"24, com alguns de grande valor.
O presidente do COP está "preocupado com a escalada que o debate atingiu" e pede "alguma contenção". Portugal, que no atletismo teve oito atletas naturalizados nos últimos cinco anos, de um total mundial de 132, tem sido dos países mais conservadores na matéria - embora já se contassem, há dois anos, 63 medalhas ao mais alto nível ganhas por 21 desses atletas em seis modalidades -, mas a intervenção do Chega sobre aquilo que considera "uma regra excecionalíssima à lei" revela os perigos da discussão sobre as nacionalizações. Além de outros, como a suposta resposta de Pichardo a uma publicação do Facebook que critica o Benfica, pelo silêncio do clube sobre o assunto.
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