Procuradoria de Forli fez nova luz sobre a polémica Volta a Itália de 1999. Tendo apostado contra Pantani, a máfia obrigou o médico a alterar-lhe o hematócrito.
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"Um clã da Camorra ameaçou um médico, obrigando-o a alterar o teste de Pantani, para que este desse fora do permitido", escreveu Sergio Sottani, da Procuradoria de Forli, que investigou a desclassificação de Marco Pantani na Volta a Itália de 1999, segundo revelou a Gazzetta dello Sport. Foi há 17 anos, o caso já prescreveu, mas abre-se uma nova luz sobre uma das histórias mais polémicas do ciclismo e que gerou o declínio do conhecido como "Pirata". Pantani seria encontrado morto em 2004, num quarto de hotel, com uma overdose de cocaína.
Em 1999, e não sendo possível detetar EPO, o ciclismo controlava os corredores por intermédio de um simples teste de hematócrito. Acima dos 50% eram desclassificados, por "razões de saúde".
Marco Pantani, que tinha dominado o Giro desse ano, vencendo quatro etapas e chegando à penúltima com uma vantagem de 5m38s para o segundo classificado, foi expulso a 5 de junho, ao acusar 51,9% de hematócrito num teste surpresa feito aos corredores de nove equipas. Era o único a exceder o limite.
Em outubro de 2014, e tendo por base a autobiografia de Rento Vallanzasca, um mafioso que cumpria quatro penas de prisão perpétua, a Procuradoria de Forli decidiu investigar o caso. Vallanzasca escrevera que o seu companheiro de cela o avisara para não apostar em Pantani e que no dia do escândalo no Giro lhe dissera: "Ouviste? Apanharam o 'Careca', foi desclassificado".
O mafioso foi chamado a depor pela Procuradoria de Trento, mas não prestou declarações, por temer represálias. Foi a investigação de Forli que, ao reconstruir os acontecimentos da manhã de 5 de junho de 1999, ouvindo dezenas de pessoas, concluiu ter a mafia napolitana apostado elevadas quantias contra Pantani, ameaçando depois o médico e obrigando-o alterar os valores do controlo.
O Giro de 1999 foi ganho por Ivan Gotti, enquanto Pantani, mesmo vencendo duas etapas na Volta a França do ano seguinte, entrou em depressão e nunca mais foi o mesmo. Segundo a sua namorada da altura, tornou-se viciado em cocaína desde a expulsão do Giro.