Falta de comparência frente à Ovarense explicada: "FC Porto vai até onde o deixarem"
Afonso Barros, diretor técnico do FC Porto, falou a O JOGO sobre a falta de comparência, diz-se aberto ao diálogo com a federação, mas não apaga o passado
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Afonso Barros, diretor técnico do basquetebol do FC Porto, abriu as portas do Dragão Arena a O JOGO, para nos explicar o que originou a falta de comparência frente à Ovarense e que o problema surgido com a arbitragem, no último jogo da final perdida para o Sporting, poderá ser ultrapassado, se a Federação Portuguesa de Basquetebol o desejar e admitir que houve erros.
Alguns adeptos do FC Porto e amantes de basquetebol já preveem que a equipa do FC Porto não vá até ao fim da época. Que lhes pode dizer?
-Sempre disse, desde que cheguei ao basquetebol do clube, que vamos até onde nos deixarem. O FC Porto está cá para disputar todas as competições, campeonato, Taça de Portugal e FIBA Europe Cup. Mas também disse que o FC Porto não tem a memória curta, nem passa panos pelo que aconteceu no passado recente. Vamos continuar dentro dos princípios que nos têm orientado e da posição clara do clube.
O FC Porto está aberto ao diálogo com a federação, para tentar resolver o problema?
-As portas deste clube estão sempre abertas. Respondendo de forma mais pragmática: será o momento de a federação dar algum passo. De junho até agora, a federação, e sobretudo o conselho de arbitragem, ignorou tudo o que se passou. Há duas interpretações possíveis: ou são coniventes e concordam com o que aconteceu - e não foi só nos últimos segundos do último jogo em Alvalade, foi o que se passou ao longo dos cinco jogos da final -, ou explicam por que até agora nada ouvimos da federação. O FC Porto fez uma exposição ao conselho de arbitragem, que foi ignorada e arquivada sem qualquer comentário. O basquetebol não é como no futebol, que à segunda-feira tem ex-árbitros e jogadores a dar opiniões e rever os lances. Aqui isso teria alguma utilidade, para a opinião pública ter alguma avaliação objetiva sobre o que se passou. Não é só o FC Porto a pronunciar-se, diversas entidades fizeram-no.
O que devia ser analisado?
-Sobretudo o final do último jogo, em especial os últimos dois minutos. Passaram-se coisas alarmantes. Para quem gosta de basquetebol não têm explicação.
Nunca reuniram com a federação?
-Houve uma reunião informal e improdutiva. Nada se ouviu da federação sobre algum erro ou problema com as arbitragens. Faço um parêntesis: a falta de comparência no jogo com a Ovarense estava anunciada pelo nosso comunicado de junho. E foi com profundo desagrado que ouvimos as declarações de Luís Magalhães, treinador do Sporting, no final do recente jogo em Alvalade, para por coincidência ser logo a seguir nomeado um dos três árbitros. Temos a análise desse jogo, que vencemos justamente, e nele houve 32 erros técnicos grosseiros contra o FC Porto, uma dualidade de critérios impressionante. O FC Porto não quer abandonar a modalidade. Não nos tínhamos reforçado como o fizemos, com sete estrangeiros e uma equipa de top, para isso. Mas há princípios de que o clube não abdica. E até hoje não ouvi a federação e o conselho de arbitragem a manifestarem preocupação ou a terem algum tipo de avaliação em que reconheçam que houve erros e desempenho negativo dos árbitros.
Na época passada, o FC Porto fez 42 jogos. Não lhe parece problemático evitar a nomeação de três árbitros, num quadro de 26, havendo tantos jogos?
-É um problema, mas viro a questão ao contrário: como se explica que, em cinco jogos de uma final, um árbitro tenha apitado quatro e outro três? E foram os dois árbitros que mais penalizaram o FC Porto. Não havia mais? Os outros 24 são assim tão maus que não mereciam a oportunidade de apitar na final?
Pela críticas do FC Porto, o problema no último jogo da final foi com Carlos Santos. Porquê vetar também os outros dois árbitros?
-Não temos problemas com nenhum árbitro. Que eles cometeram erros grosseiros, cometeram. Quem perceba de basquetebol consegue ler os lances... Já todos apitaram aqui jogos e não temos nada contra eles, pedimos é imparcialidade. Não precisamos de mais nada, que temos equipa para ganhar a qualquer um. Não podemos é fechar os olhos e fazer de conta quando um apita quatro e outro três dos cinco jogos, há falta de imparcialidade e um silêncio da federação e do conselho de arbitragem.
"Eles eram do Barreirense que abandonou a final nas Antas"
"Uma notícia num jornal da concorrência dá-nos uma explicação curiosa", disse Afonso Barros a determinado ponto. E explicou: "Recordou que os presidentes da federação e do conselho de arbitragem eram treinador e jogador do Barreirense que jogou a final do campeonato de 1983, num célebre episódio ocorrido no nosso antigo pavilhão, nas Antas. O Barreirense abandonou a partida, porque supostamente a equipa estaria a ser insultada e alvejada pelos adeptos do FC Porto, que ganhou esse jogo. Agora coloca-se a questão: pessoas que passaram por isso serão imparciais com o FC Porto? Tenho sérias dúvidas". "O presidente do conselho de arbitragem devia pensar no mal que está a fazer ao basquetebol português", acrescentou, pedindo "neutralidade e imparcialidade".
"O meu avô foi presidente do FC Porto e trouxe-me para cá"
Afonso Barros tem 47 anos, é administrador da Irmarfer, empresa que fabrica e monta tendas e palcos em grandes eventos - esteve em Jogos Olímpicos e Europeus de futebol e estará no Mundial do Catar - e contou-nos o seu percurso: "As minhas origens são daqui, das Antas, o meu avô, Cesário Bonito, foi presidente do FC Porto e viveu situações como esta no futebol. Trouxe-me para a natação com cinco anos, para o basquetebol com nove e deu-me a cultura desportiva. Nunca fiz carreira de basquetebolista, que o lado académico falou mais alto. Formei-me em Gestão de Empresas na Faculdade de Economia do Porto e o meu primeiro currículo enviei-o para o FC Porto. O casamento esteve quase, mas não aconteceu em 1998, foi agora."