Eventual cancelamento da Volta a Portugal "seria algo difícil de compensar"
Delmiro Pereira reconheceu que a Federação Portuguesa de Ciclismo necessitaria do apoio do Governo.
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Os prejuízos causados por um eventual cancelamento da Volta a Portugal seriam "algo difícil de compensar" junto das equipas, disse esta sexta-feira Delmino Pereira, reconhecendo que a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) necessitaria do apoio do Governo.
"A dimensão de uma não realização de uma Volta a Portugal é algo que não é fácil compensar. As equipas constituem-se para competir. E, é por isso, que o nosso caminho tem de ser sempre garantir a competição e o retorno competitivo. Não há orçamento [federativo] que consiga aguentar uma compensação. Esta situação, numas circunstâncias destas, terá sempre de ser coordenada com o apoio do Governo, porque também estamos a falar de atletas e profissionais que pagam os seus impostos e também têm os seus direitos", vincou, em entrevista à agência Lusa.
Delmino Pereira assumiu que, perante o pior dos cenários - um cancelamento da Volta a Portugal de 2020 devido à pandemia de covid-19 -, "não é propriamente uma federação que irá conseguir compensar os prejuízos causados".
"Por isso é que estamos a insistir nesta fórmula, que é a de lhes proporcionar o direito à competição e o direito ao retorno do investimento que [os patrocinadores] fizeram", pontuou.
Para o presidente da FPC, sendo a Volta a Portugal o "evento âncora do ciclismo português, que se confunde com a própria história do ciclismo", é "o local central para proporcionar o retorno a todas as equipas" e às marcas e "sponsors" que nelas investem, nomeadamente pela transmissão em direto, em sinal aberto, e pela vasta audiência que a prova conquista a cada verão.
"Costumo dizer que se for campeão nacional, sou rei durante um ano. Se ganhar a Volta a Portugal, sou rei para o resto da vida", metaforizou.
O dirigente tem ouvido "todos os dias" o "discurso trágico" das equipas, paradas desde março, à exceção de um episódico regresso à estrada, em 05 de julho, na Prova de Reabertura, e "ameaçadas" de extinção caso a prova rainha do calendário nacional não se realize nas novas datas previstas, entre 27 de setembro e 05 de outubro.
"O ciclismo depende muito da economia. Só vive à custa da "sponsorização". Se a economia estiver saudável, o ciclismo está mais saudável. Se estiver com dificuldades, o ciclismo está com mais dificuldades. Foi sempre assim e vai continuar a ser. Como se perspetiva que vamos ter anos difíceis, de retoma da economia e da atividade, perspetiva-se que as equipas também vão ter dificuldades", concedeu.
Os problemas das equipas, e o expectável desaparecimento de algumas delas no final do ano, terão, necessariamente, consequências para os seus atletas, que poderão deparar-se com o desemprego.
"Foi sempre assim, toda a vida. Os bons ciclistas conseguem ter sempre emprego, conseguem ter sempre melhores equipas. Pode haver um impacto superior [da crise motivada pela covid-19] e bons corredores, com futuro, podem ir para o desemprego, como vai acontecer em vários setores da nossa sociedade. Por isso é que entendemos que devemos salvaguardar o direito ao trabalho. Nós podemos executar o nosso trabalho, que é fazer as corridas, é um direito que salvaguarda o futuro e o emprego, mas admito que para o ano e nos próximos anos tenhamos aqui uma quebra de difícil recuperação e não há nenhum milagre que venha alterar esta situação", lamentou.
A incerteza causada pela pandemia do novo coronavírus pode representar um momento de reflexão sobre o ciclismo português, algo que Delmino Pereira garante que a FPC já vêm fazendo.
"Admito que o ciclismo profissional possa ter de ser reorganizado, e é uma reorganização global, porque, na verdade, a forma de financiamento é que é o grande ponto crítico do ciclismo, porque está demasiado exposta à evolução económica dos países. É um problema que já não é só das equipas, também é dos organizadores: temos cada vez mais organizadores que desistem de fazer as corridas porque elas não são rentáveis economicamente", detalhou.
"Numa altura em que esta dependência económica fragiliza toda a comunidade profissional", a solução pode passar, segundo o dirigente, por seguir o modelo de outras nações, que "direcionaram o ciclismo para a promoção dos seus países".