Aveirenses abriram a Liga Betclic Masculina com um enorme estrondo, ao surpreenderem o Sporting, e ainda lideram no feminino. Chamar adeptos ao pavilhão é o plano
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Histórico do panorama nacional e prestes a celebrar 68 anos (a 8 de novembro), o Esgueira tem vivido dias alegres, depois de um fim de semana em cheio. Primeiro, foram as seniores a garantir mais uma semana de liderança na Liga Betclic Feminina (a par da União Sportiva), com uma vitória no dérbi frente ao Galitos (61-57). Depois, os aveirenses foram protagonistas da grande surpresa no arranque da Liga Betclic Masculina, ao travarem o Sporting, com um triplo de Ty Toney ao som da buzina (82-81). “Espero que os sócios e os adeptos tenham ficado felizes e que voltem mais vezes, é esse o principal objetivo”, conta a O JOGO Rui Mourinho, presidente desde 2020 e a ponderar que este seja o último mandato.
O tiro espetacular do americano simboliza na perfeição as ideias para o basquetebol do clube da freguesia dos arredores de Aveiro, um dos três que têm as duas equipas seniores no topo, detentor do estatuto de Clube Formador e único do país com representação em todos os escalões (dos sub-6 aos masters). “Estar nas duas Ligas é um desafio enorme, requer muita receita e nós e os outros clubes temos muito a fazer nessa área”, defende o presidente, apelando à união.
“Se o Esgueira andar por Aveiro à procura de apoios e os outros fizerem o mesmo nas suas terras, não vamos conseguir gerar o mesmo dinheiro do que se todos juntos vendermos a Liga e procurarmos patrocinadores globais, nacionais. Se andar cada um por si a tentar buscar os melhores jogadores e a não cuidar do espetáculo... Temos de ser vistos como interessantes para as empresas e atrativos para justificar que os adeptos paguem mais pelos bilhetes e comprem mais merchandising. É preciso recebê-los melhor nos pavilhões, levá-los a estar mais confortáveis, a gastar nos nossos bares e restaurantes”, elenca Mourinho, explicando que o Esgueira procura “aproveitar ao máximo” o seu pavilhão, o famoso Caldeirão Verde, onde até os adversários gostam de jogar e que está aberto o dia inteiro, “sempre ao dispor da comunidade”, pois ali decorrem vários projetos em colaboração com a autarquia.
Quanto aos objetivos das equipas seniores, Mourinho estabelece a “luta pela manutenção” para os comandados de Pedro Costa e “a discussão do título” para as pupilas de André Janicas. Fora de campo, ambas devem caminhar para se tornarem sustentáveis. “É preciso que tenham receitas próprias suficientes para pagarem as despesas”, insiste, orgulhoso por o Esgueira “ser líder na procura de novos caminhos para o basquetebol”.
“Nunca tinha feito um lançamento assim”
Das seis épocas que Ty Toney contabiliza em Portugal, três são ligadas ao Esgueira, pelo qual se fez herói com o buzzer-beater que deu a vitória sobre o Sporting. “Foi a primeira vez que fiz um cesto assim. Já tive outros grandes lançamentos, mas sempre ainda com tempo no cronómetro. Na altura não pensei em nada. Só sabia que, se a bola viesse até mim, ia lançá-la”, relata a O JOGO o norte-americano, satisfeito por “ver como toda a gente ficou feliz naquele momento”. Chegado aos aveirenses em 2018/19, o base saltou para o Sporting na época da pandemia, seguindo-se duas temporadas no Imortal, antes do regresso ao primeiro clube, em 2023/24. “Decidi renovar porque o Esgueira acredita nas minhas capacidades e já é como uma segunda casa”, descreve, tendo o desejo de somar mais anos em Portugal. “Gostava de ficar mais tempo, se as oportunidades certas surgirem. Tem sido incrível”, partilha.
“Cresceram muito em cinco anos”
Uma das jogadoras mais experientes da formação sénior feminina, Gabriela Raimundo, de 30 anos, juntou-se ao Esgueira há cinco temporadas, proveniente da Ovarense, considerando que “o clube cresceu muito durante estes anos”. “Estão a fazer um bom trabalho, a preparar terreno para as próximas gerações. Nas seniores está a ser feito um grande investimento”, acrescenta a base, verbalizando a “ambição de fazer melhor do que nos anos anteriores”, o que significará atingir a final do play-off, depois de duas presenças nas meias-finais. O bom ambiente entre as várias equipas dos aveirenses é uma das imagens de marca. “A nossa ligação é espetacular. Quando treinamos antes ou depois dos miúdos da formação ou dos seniores há sempre pequenas interações; e vemos os jogos uns dos outros. Estamos muito bem conectados”, atesta.
Inês Ramos e Fatumata são exemplo
“Um clube como o nosso, que quer estar nas competições seniores ao mais alto nível, também tem de querer que parte dos jogadores seja sua formação, por uma questão financeira e de gosto”, estabelece o presidente Rui Mourinho (foto), tendo dois exemplos de sucesso recentes. A extremo Inês Ramos, que já esteve nas várias Seleções Nacionais e foi eleita Melhor Jovem nos Betclic Awards de 2022, joga no Esgueira até hoje. A promissora Fatumata Djaló, também extremo e agora com 19 anos, estreou-se na Liga aos 16, vivendo esta época o sonho americano, pela Universidade de Ole Miss (NCAA1).-