Pela primeira vez há a busca assumida de um patrocinador capaz de gastar mais de 30 milhões, o que implica ir além dos habituais patrocínios de vinhos, cozinhas ou varandas naquele que já foi o "desporto dos pobres".
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Ponto prévio: a Sky, enquanto equipa de ciclismo, não vai acabar dentro de um ano. O fim do patrocínio da rede britânica de televisão ao projeto desportivo inglês mais bem-sucedido de sempre, que durava desde 2009, apenas significará uma mudança de nome e, eventualmente, uma diminuição do orçamento que nos últimos cinco anos tem vindo a bater recordes sucessivos na modalidade, tendo atingido os 40 milhões de euros. A equipa vencedora de oito Grandes Voltas irá manter-se na estrada, até porque 12 dos 28 ciclistas possuem contratos por mais de um ano, incluindo Chris Froome (2020), Geraint Thomas (2021) e Egan Bernal (2023), as três maiores estrelas.
Se não faltarão interessados para dar sequência ao projeto que começou por uma extensão da Federação britânica e se transformou no dominador do ciclismo mundial - um exemplo: BMC e Quick-Step, outras duas das maiores, terão novos patrocinadores para 2019 -, a grande questão está no valor pretendido. A CCC, uma cadeia polaca de sapatarias, reduziu em dez milhões os 28 gastos pela anterior BMC; a Deceuninck manteve os valores da formação belga, mas são 18 milhões.
Ao pretender cobrir um orçamento de 40 milhões, a equipa dirigida por Dave Brailsford está num patamar distinto. "Eles criaram um modelo a seguir, fizeram um trabalho brilhante. Mas pelo que estão a pedir têm de atingir mais do que os fãs do ciclismo", comentou Richard Gillis, sócio-gerente da Havas, agência publicitária de Londres, à Cyclingnews, dando uma ideia da mudança de paradigma que a Sky pode originar.
Ao subir de 16 para 40 milhões de euros em oito anos, o orçamento da Sky começou a entrar no "território" de desportos como o Mundial de Ralis (a M-Sport Ford conseguiu o título com 34 milhões de euros), embora continue demasiado distante da Fórmula 1, onde as equipas gastam de 110 (Force India, Haas) a 450 milhões de euros (Mercedes).
"Para encontrar 30 milhões é preciso pensar em grande, em algo como a Amazon, mas esses não precisam de promoção. Já a China é uma oportunidade"
Tim Kay, CEO do Chinese Global Cycling Project
Se no automobilismo se gasta mais, sabendo-se que a visibilidade e retorno de quem ganha Volta a França, Itália e Espanha não é inferior, a explicação está nos públicos, que são diferentes. O ciclismo tem sido visto como um desporto de classes baixas, o que mudou desde que a bicicleta voltou a ser moda, mas com reflexos ligeiros na modalidade.
Além da televisão britânica, só do turismo têm chegado patrocinadores capazes de investir muitos milhões, mas de mercados como Emirados Árabes, Barém e Cazaquistão. Será o doping a manter distantes empresas que temem eventuais escândalos.
Os responsáveis da equipa britânica, que já sabem poder contar com quatro milhões de euros do fornecedor de bicicletas, a Pinarello - verba que se esgota nos salários de Chris Froome... -, ainda se deparam com as dificuldades geradas pelo Brexit e podem acabar por ter de recorrer a mercados como o chinês, o que será uma resposta a meio copo: nem será a multinacional capaz de dar mais nome ao ciclismo, nem a quebra de investimento para o nível de empresas médias que fazem o grosso do pelotão.