"Em Pequim, não chorei por ter perdido a medalha, mas porque não tinha mais nada"
Pedro Dias, ex-judoca, recorda o que lhe passou pela cabeça nos Jogos Olímpicos em 2008 e como devia ter sido aconselhado a preparar o futuro antes da carreira chegar ao fim.
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Pedro Dias foi bronze nos Europeus de judo em 2008 e chegou a Pequim"2008 com hipótese de lutar por uma medalha. Foi nono na competição e soltou lágrimas, porém não pelo resultado. "Não chorei porque tinha perdido uma medalha, mas porque não tinha mais nada, não havia objetivo além dos Jogos Olímpicos. E foi nesse momento que o percebi", afirma numa conferência no 13.º Congresso Mundial de Treinadores, a decorrer na Aula Magna, em Lisboa.
"O desporto não está preparado para pessoas inteligentes na sociedade", atira, sem pudor o ex-atleta de 39 anos, que forma jovens no Sport Algés e Dafundo e que ministra o treino a Raquel Brito, uma das mais promissoras judocas lusas, pedindo aos técnicos para prepararem o futuro dos atletas: "Um treinador não ensina apenas um desporto. Um treinador forma pessoas. Não me preparei, deixei a universidade em segundo plano e só pensei nos Jogos. Ninguém me avisou. Finalizei a universidade com 30 anos, com uma diferença de nove anos para os meus colegas. Não tinha experiência profissional, tinha sido apenas atleta e é preciso apostar na carreira dos jovens além-desporto. Sinceramente, às vezes tenho a vontade de processar toda a gente por não me terem preparado para certas coisas."
Questionando os critérios para os apoios olímpicos, que "não preveem baixas por lesão ou maus momentos", Pedro Dias pede uma convergência de vontades governativas, federativas e na sociedade para que o desporto tenha incentivos e que se promova o pós-carreira. "Prefiro não entrar nas questões federativas porque já o fiz e prejudiquei atletas meus, que não foram chamados", alude, sem polémicas, quando questionado acerca dos apoios e critérios da Federação Portuguesa de Judo.