"É um sonho de criança tornado realidade. Vai demorar um pouco até perceber"
Jasper Philipsen venceu ao sprint a última etapa do Tour.
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Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck) assumiu-se este domingo como o melhor sprinter do pelotão da 109.ª Volta a França, ao vencer nos Campos Elísios, em dia de celebração para Jonas Vingegaard, Wout van Aert e Jumbo-Visma, os grandes vencedores desta edição.
O belga, de 24 anos, foi um merecido convidado de última hora para uma festa que não era a sua, surpreendendo ao aparecer no lado oposto da estrada ao escolhido pela BikeExchange-Jayco para lançar o sprint para o neerlandês Dylan Groenewegen, segundo à frente do veterano norueguês Alexander Kristoff (Intermarché-Wanty-Gobert).
"Não consigo acreditar, é um sonho de criança tornado realidade. Vai demorar um pouco até perceber [o que aconteceu]. [...] Estou feliz e orgulhoso por ter conseguido ganhar nos bonitos Campos Elísios, o sonho de qualquer sprinter", resumiu o ciclista da Alpecin-Deceuninck, após concluir a 21.ª e última tirada da 109.ª edição em 2:58.32 horas.
Depois de festejar um segundo lugar como se fosse o primeiro na quarta etapa e de estrear-se a vencer na 15.ª, Jasper Philipsen deu um novo passo para confirmar que é o presente e não o futuro do "sprint", impondo-se num pelotão onde estavam todos os principais nomes "velozes" da atualidade, mas não o camisola amarela Jonas Vingegaard.
O discreto dinamarquês abrandou a pedalada e descaiu no pelotão para juntar-se aos seus companheiros, com os quais cortou a meta, cedendo, conscientemente, de modo a poder desfrutar do momento, 51 segundos para Tadej Pogacar (UAE Emirates), o bicampeão "destronado", que acabou a 2.43 minutos, e Geraint Thomas (INEOS), o que campeão de 2018 e "vice" de 2019, que regressou ao pódio, para ocupar o último escalão, a 7.22 do vencedor.
Num primeiro momento, a "demora" do campeão foi "ignorada" pela organização, que posteriormente corrigiu os tempos, sem afetar em nada a belíssima festa (familiar) que decorreu nos Campos Elísios.
Os 115,6 quilómetros entre a zona financeira parisiense de La Défense e a meta começaram como muitas das etapas da 109.ª Volta a França: Van Aert arrancou assim que a bandeira foi acenada, um cenário repetido vezes sem conta nesta edição, uma brincadeira a que respondeu prontamente o divertido Tadej Pogacar, com o mais comedido camisola amarela a seguir os dois impulsivos - e espetaculares - ciclistas com um sorriso no rosto.
O momento era de alegria para os vencedores, mas também para os 135 resistentes que chegaram a Paris, nomeadamente Philippe Gilbert (Lotto Soudal), o "quarentão" belga que marcou uma década nas clássicas e que hoje se despediu definitivamente do Tour, onde andou um dia de amarelo depois de vencer a primeira etapa da edição de 2011.
Vencedora de seis etapas e três classificações (geral e montanha com Vingegaard e pontos com Van Aert, que foi também o "super combativo"), a Jumbo-Visma não se poupou a festejos, com os cinco ciclistas que chegaram a Paris a recordar os companheiros desistentes na "foto de família" exibindo os seus dorsais, antes de brindarem com champanhe, nas bicicletas, ao sucesso alcançado.
Houve ainda tempo para o feliz vencedor se ladear dos seus compatriotas em prova para perpetuar o momento histórico - é apenas o segundo dinamarquês a vencer a "Grande Boucle" após Bjarne Riis em 1996 -, numa edição cujo inédito "Grand Départ" aconteceu precisamente naquele país nórdico, com uma trilogia de etapas iniciada com um "crono" em Copenhaga, em 1 de julho.
A entrada no circuito dos Campos Elísios marcou o fim das festividades durante a 21.ª e derradeira etapa e abriu as hostilidades entre os atacantes da "praxe", sem que ninguém se conseguisse destacar verdadeiramente - menção honrosa para Maximilian Schachmann (BORA-hangrohe) e Jonas Rutsh (EF Education-Easypost), alcançados a 6,8 quilómetros, ao som da sineta que anunciava a última volta no coração de Paris.
O bicampeão mundial de contrarrelógio Filippo Ganna ainda foi lançado por Geraint Thomas, ao mesmo tempo que o camisola branca Pogacar acelerava do lado contrário, mas a chegada foi mesmo ao "sprint", como manda a tradição.
Consumada a vitória, Vingegaard afastou finalmente os fantasmas (comuns) que atormentavam a Jumbo-Visma e o seu país, desde que Michael Rasmussen foi afastado do Tour'2007, após nove jornadas de amarelo, e despedido pela Rabobank (uma das anteriores denominações da atual equipa neerlandesa) por ter mentido quanto à sua localização em junho desse ano, o que levou a União Ciclista Internacional a não conseguir encontrá-lo para um controlo antidoping.
A denominada "maldição Rabobank", que alcançou o seu expoente máximo em 2020, quando Primoz Roglic perdeu a amarela no penúltimo dia para Tadej Pogacar, perpetuou-se até hoje, dia em que o "franzino" dinamarquês subiu ao pódio final, com a filha Frida ao colo, para envergar a amarela final.
Numa geral em que pela primeira vez desde 1998 não houve um espanhol no "top 10", Nelson Oliveira (Movistar), o único português a concluir a 109.ª edição, foi 52.º classificado, encerrando uma sofrida sexta participação na prova francesa com o 40.º lugar na etapa.
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