"É a história da minha carreira. Isto é para a minha filha, queria mostrar-lhe..."
Matthews demonstrou ser mais do que um sprinter no regresso às vitórias no Tour e dedicou o triunfo à filha de quatro anos.
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Michael Matthews cansou-se de perder em etapas desenhadas para si na Volta a França e aventurou-se este sábado numa fuga em terreno impróprio, demonstrando que não é apenas um sprinter na chegada a Mende.
Em dia de novo episódio no duelo entre o camisola amarela Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) e o pretendente Tadej Pogacar (UAE Emirates), que serviu apenas para distanciar ainda mais todos os outros candidatos ao pódio, o australiano da BickeExchange-Jayco regressou aos triunfos no Tour cinco anos depois, um merecido prémio para aquele que foi o ciclista mais combativo da 14.ª etapa.
"Hoje sabia que, provavelmente, seria a minha última oportunidade. [...] Queria mostrar a todos que não sou apenas um sprinter, que sei correr como fiz hoje", declarou um emocionado Matthews, após cortar a meta isolado em Mende, com o tempo de 04:30.53 horas, à frente de dois dos seus 22 companheiros de fuga, o italiano Alberto Bettiol (EF Education-EasyPost), segundo a 15 segundos, e o francês Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), terceiro a 34.
Segundo na sexta e oitava etapas, o nem sempre consensual ou popular Bling, vencedor da classificação por pontos no Tour'2017, nunca desistiu de lutar pela vitória na tirada deste sábado, nem quando perdeu o contacto com Bettiol na subida ao aeródromo de Mende, uma segunda categoria situada a pouco mais de um quilómetro da meta, focado que estava em poder dedicar a quarta vitória em etapas no Tour a alguém muito especial.
"É a história da minha carreira. Tive altos e baixos, mas a minha mulher, a minha filha continuaram a acreditar em mim. Quantas vezes estive no chão e consegui sempre reerguer-me. Isto é para a minha filha. Ela tem apenas quatro anos e queria mostrar-lhe o porquê de passar tanto tempo longe dela. Hoje, foi o dia", confessou.
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As quatro contagens de montanha de terceira categoria "espalhadas" ao longo dos 192,5 quilómetros entre Saint-Étienne e Mende, e a segunda categoria "colocada" mesmo antes da meta, representavam o cenário perfeito para o sucesso de uma fuga, formada já depois de Pogacar demonstrar que tinha outro plano.
Numa altura de sucessivos ataques e contra-ataques entre ciclistas que queriam discutir a etapa, o bicampeão em título acelerou quando estavam decorridos apenas 10 quilómetros e apanhou desprevenido um mal colocado Vingegaard, que, ainda assim, rapidamente alcançou o jovem esloveno, já "vigiado" por Wout van Aert.
A movimentação de Pogi estilhaçou momentaneamente o pelotão, dividido em diversos grupos - Primoz Roglic foi um dos que ficou cortado -, e obrigou Jumbo-Visma e INEOS a unirem-se para bloquear mais iniciativas audazes de candidatos à geral, algo aproveitado por 23 aventureiros para se distanciarem definitivamente.
O grupo de elite, composto, entre outros, por Matthews, Bettiol e os seus companheiros Neilson Powless e Rigoberto Urán, Pinot e o seu colega Stefan Küng, o camisola da montanha Simon Geschke (Cofidis), Marc Soler (UAE Emirates), Daniel Martínez (INEOS), Benoît Cosnefroy (AG2R-Citröen), Lennard Kämna (BORA-hansgrohe), Louis Meintjes (Intermarché-Wanty-Gobert), Jakob Fuglsang e Michael Woods (Israel-Premier Tech) ou Bauke Mollema (Trek-Segafredo), rapidamente ganhou uma margem que alcançou os 14 minutos, garantindo que seria um dos fugitivos a erguer os braços em Mende.
Foi Matthews o primeiro a abrir as "hostilidades", a 50 quilómetros da meta, com o Côte de la Fage, a penúltima contagem de montanha do dia, a completar a seleção: ao australiano juntaram-se Felix Grossschartner (BORA-hansgrohe), Luis León Sánchez (Bahrain-Victorious) e Andreas Kron (Lotto Soudal), posteriormente "eliminado" por um furo.
Com o pelotão 15 quilómetros mais atrás, o trio iniciou os três quilómetros de subida para o aeródromo de Mende, com uma pendente média de inclinação de 10%, com 40 segundos sobre os perseguidores, uma vantagem que caiu drasticamente assim que o "puncheur" da BikeExchange-Jayco ficou sozinho na frente.
Vindo de trás, Bettiol ultrapassou o australiano de 31 anos, que, cansado de perder, deu uma grande demonstração de querer e resistência para alcançar novamente o italiano e passá-lo sem parar, rumo à vitória.
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Já Matthews abraçava o staff da sua equipa quando Pogacar voltou a testar as forças do camisola amarela, com Vingegaard a responder prontamente e os dois a seguirem juntos até à meta, cortando-a 12.34 minutos depois do vencedor.
A irreverência do jovem de 23 anos, impaciente por encurtar distâncias para números que lhe permitam continuar a sonhar com o tri na Grande Boucle, prejudicou Geraint Thomas (INEOS), ainda terceiro, mas agora a 02.43 minutos do dinamarquês da Jumbo-Visma, depois de ter perdido 17 segundos para o duo, e os demais candidatos ao pódio, que foram concluindo a etapa a conta-gotas com perdas na ordem dos segundos.
Nelson Oliveira foi 74.ª, a 23.26 minutos de Matthews, ocupando precisamente a mesma posição na geral, a quase duas horas de Vingegaard, que no domingo deverá ter uma jornada tranquila na longa ligação de 202,5 quilómetros entre Rodez e Carcassone, uma das últimas hipóteses para os sprinters tentarem a sua sorte.