"Disse para mim mesmo: 'OK, quando estiver outra vez nesta situação, serei eu a atacar'"
Patrick Konrad venceu a etapa 16 da Volta a França.
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À terceira foi de vez para Patrick Konrad (Bora-hansgrohe), que aprendeu com os erros e devolveu esta terça-feira à Áustria a glória na Volta a França em bicicleta, com o triunfo na pirenaica 16.ª etapa da 108.ª edição.
Com a camisola de campeão nacional vestida, o ciclista de 29 anos conquistou a maior vitória da sua carreira e a terceira de um austríaco na história da "Grande Boucle", após as de Max Bulla (1931) e Georg Totschnig (2005), ao atacar de longe os seus companheiros de fuga e "galgar" em solitário mais de 30 quilómetros, sob uma chuva insistente.
"Esta foi a terceira vez que estive em fuga. Esperei sempre pelo final [nas anteriores], e nunca foi a melhor opção, porque, quando o [Matej] Mohoric ganhou a [7.ª] etapa, atacou muito cedo. Quando o [Bauke] Mollema atacou [na 14.ª], também "saltou" muito cedo. Disse para mim mesmo: "OK, quando estiver outra vez nesta situação, serei eu a atacar. Tentei e estou muito feliz, porque resultou e tive pernas para chegar ao final", revelou.
Segundo na 14.ª etapa e sétimo na sétima, Konrad ampliou hoje o seu curtíssimo palmarés, que contava apenas com dois títulos de campeão nacional (2021 e 2019), e deu a segunda vitória à Bora-hansgrohe nesta edição, que continua a ser autoritariamente liderada pelo campeão em título, o jovem esloveno Tadej Pogacar (UAE Emirates).
"Este é o meu primeiro triunfo no WorldTour e logo na maior corrida do mundo. Acabei de ganhar uma etapa na Volta à França, portanto, estou sem palavras", pontuou, assumindo que a vitória "chegou no momento certo", por poder ser celebrada com o branco e vermelho da bandeira austríaca a "colorir-lhe" o equipamento.
A jornada invernal de 169 quilómetros entre Pas de la Case e Saint-Gaudens, marcada por chuva intermitente e temperaturas baixas, arrancou com um ataque imediato e solitário de Kasper Asgreen (Deceuninck-QuickStep), a quem uma "pequena maioria" do pelotão tentou responder.
Foram várias as frentes de corrida, numa tirada confusa e desorganizada, em que a fuga vencedora tardou em formar-se, e que, inicialmente, foi protagonizada por Konrad, Jan Bakelants (Intermarché-Wanty Gobert), Fabien Doubey (TotalEnergies) e Chris Juul-Jensen (BikeExchange), o primeiro a perder o contacto na ascensão do Col de la Core, uma primeira categoria situada a uns 60 quilómetros da meta.
Com a EF Education-Nippo, apostada em conquistar a classificação por equipas da 108.ª Volta a França, no comando da perseguição, o trio ganhou rapidamente sete minutos de vantagem, mantendo à distância, durante dezenas de quilómetros, um outro grupo de aventureiros, composto por David Gaudu (Groupama-FDJ), Sonny Colbrelli (Bahrain Victorious), Michael Matthews (BikeExchange), Franck Bonnamour (B&B Hotels), Pierre-Luc Périchon (Cofidis), Alex Aranburu (Astana), Toms Skujins (Trek-Segafredo) e Lorenzo Rota (Intermarché-Wanty Gobert).
Embora mais numeroso, o segundo grupo, que chegou a estar a 20 segundos dos três, nunca alcançou a frente da corrida, que se separou com um ataque de Konrad na subida ao Col de Portet-d"Aspet, escalada em 58 ocasiões pelo pelotão do Tour - é a quinta montanha pirenaica mais "presente" nas 108 edições da prova.
Vindos de trás, Gaudu e Colbrelli ultrapassaram Bakelants e Doubey e partiram no encalço do campeão austríaco, que, a 20 quilómetros da chegada, tinha 40 segundos de vantagem sobre os perseguidores - a margem do ciclista da Bora-hansgrohe só aumentaria até à meta, que cortou com o tempo de 4:01.59 horas.
A empreitada fracassou e os dois foram absorvidos pelos seus anteriores companheiros de jornada, "entregando" definitivamente o triunfo a Konrad, com o campeão italiano da Bahrain Victorious, um dos corredores mais ativos nesta edição, a ter de contentar-se com o segundo lugar, à frente de Matthews, 43 segundos depois do vencedor.
Esperava-se muito da acidentada 16.ª etapa do Tour, mas os Pirenéus "pariram um rato" também na luta pela geral, com o único momento de suspense a acontecer já dentro dos cinco derradeiros quilómetros, quando Guillaume Martin (Cofidis) tentou atacar, num movimento que redundou num rotundo fracasso para o francês e que só serviu para Wout van Aert (Jumbo-Visma) fazer uma cisão entre o grupo de favoritos e o resto do pelotão, nomeadamente Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo), 38.º a 14.44 minutos, e Rui Costa (UAE Emirates), 68.º a 16.33.
Assim, Pogacar, que até se permitiu "sprintar" com o quarto classificado da geral, Richard Carapaz (INEOS), pelo 13.º lugar na tirada e o primeiro entre os favoritos - o equatoriano levou a melhor, comandando o grupo que cortou o risco a 13.49 minutos do vencedor -, vai partir para a dura 17.ª etapa com a mesmíssima vantagem que tem desde a nona tirada para os seus mais diretos adversários na geral: o colombiano Rigoberto Urán (EF Education-Nippo), segundo a 5.18 minutos, e o dinamarquês Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), terceiro a 5.32.
"Amanhã [quarta-feira], penso que será o dia mais difícil do Tour", prognosticou o camisola amarela sobre a 17.ª etapa, uma ligação de 178,4 quilómetros entre Muret e a estância de Saint-Lary-Soulan, mais precisamente o Col du Portet, a contagem de categoria especial que conclui a "tríade" pirenaica composta ainda pelo Col de Peyresourde e Col de Val Louron- Azet, ambos de primeira categoria.
Guerreiro vai partir para a segunda de três etapas com chegadas em alto da 108.ª edição, na 20.ª posição da geral, a 44.56 minutos do esloveno, enquanto Rui Costa, que está a mais de duas horas do seu líder, iniciará a tirada no 73.º lugar.