Diretrizes do COI sobre competição de atletas transexuais suscitam discórdia
Órgão não exige a redução de testosterona e apela à não-discriminação. Profissionais médicos dizem que "estão em forte contraste com provas científicas e avaliação"
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Vários especialistas médicos, afetos a entidades desportivas - World Athletics (WA), World Triathlon (WT) e União Internacional de Ciclismo (ICU) - consideram que as recentes diretrizes do Comité Olímpico Internacional (COI) sobre a participação de atletas transexuais causam uma competição desleal no desporto feminino.
O COI decidira, a 16 de novembro de 2021, que as atletas transexuais - homens que se tornaram mulheres - não estão obrigadas a reduzirem os níveis de testosterona para competir na categoria feminina. Além disto, o organismo defendera que estas atletas não devem ser alvo de presunção quanto a uma eventual vantagem.
Porém, os vários especialistas médicos, sob tutela da Federação Internacional de Medicina Desportiva e da Federação Europeia de Associações de Medicina Desportiva, pretendem uma diferente abordagem do COI nesta temática.
"Está em forte contraste com o resultado do consenso do COI [obtido] em 2015, as provas científicas, e a subsequente avaliação de numerosas associações/comissões de medicina desportiva", refere o grupo de clínicos, em tese publicada, esta terça-feira, no "British Medical Journal Open Science & Exercise Medicine".
Yannis Pitsiladis, um dos 38 autores e signatários da declaração dirigida ao COI, salienta que são desejados "padrões formais, baseados na justiça competitiva e na melhor ciência disponível", reconhecendo o direito de transexuais em competir.
"(...) A inclusão dos direitos humanos é absolutamente essencial. Mas igualmente importante é a inclusão de princípios científicos e médicos na determinação de uma solução", refere o cientista desportivo, acusando o COI de ter definido, em falta de rigor, um enquadramento que "não se baseia em princípios médicos e científicos".
O grupo de cientistas , incluindo, entre outros, o chefe médico do WA e o diretor médico do corpo dirigente da UCI, consideram que, se se baixar a testosterona, as atletas transexuais podem competir, de forma equivalente, entre mulheres.
Para Pitsiladis, deve-se proceder à alteração de regras relativas aos níveis das hormonas em função da modalidade praticada, ou seja, aplicar maior ênfase no uso de medicamentos sobretudo em desportos de colisão.
A temática não é, de resto, unânime. Além da discórdia de várias atletas quanto à participação de transexuais nas suas competições, há cientistas desportivos que entendam que estas têm vantagens por se submeterem à puberdade masculina.