No basquetebol profissional norte-americano pede-se o final da erradicação do uso de marijuana, ocorrida em 1983. A discussão situa-se entre os benefícios medicinais da planta versus o mau exemplo.
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O uso de canábis é absolutamente incompatível com a prática de desporto de alta competição? Não. Já foi mais. Aliás, caminha para cada vez menos e são já vários os movimentos para levantar proibições e restrições relativas ao uso da planta genericamente assumida como droga leve, de cariz recreativo, sobretudo depois de em 2013 o Comité Olímpico Internacional ter revisto a lei e passado a permitir a presença de até 150 nanogramas de tetrahidrocanabinol (THC) por ml de sangue - o THC é o canabinoide, ou composto químico orgânico da planta, com elementos psicoativos.
Após o Comité Olímpico Internacional baixar as restrições ao uso de drogas não aditivas para fins medicinais ou recreativos, a NBA exige mais.
Desde então, sobretudo nos Estados Unidos, as propriedades medicinais da canábis têm aumentado o volume da discussão sobre os benefícios que pode trazer, com a NBA, secundada pela NFL (futebol americano), a encabeçar o movimento pela liberalização do uso. Um dos slogans mais famosos, em hashtag, é #letplayerstoke (deixem os jogadores dar uma passa). A discussão tem vindo a aumentar e conhece cada vez maior premência.
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Na NBA, a canábis foi banida em 1983 e o seu consumo alvo de pesadas multas e punições, tudo fruto da cruzada da administração de Ronald Reagan contra as drogas, sob a famosa bandeira: "Just say no" (Diz apenas não). Mas os tempos mudaram. Comissário da NBA, Adam Silver é encarado como um dos dirigentes mais progressistas do atual panorama desportivo internacional e continua a advogar o uso controlado de canábis entre atletas.
A natureza não aditiva da marijuana (derivação ou preparado em erva) constitui um dos grandes argumentos, reforçados pela atuação benéfica em casos, entre outros, de cancro ou dor crónica. No último destes, são várias situações de atletas de alta competição que recorreram a fármacos analgésicos com elementos opiáceos, que depois degeneraram no vício em drogas duras.
A canábis foi declarada substância proibida, mas a agência mundial antidoping aligeirou as restrições.
Mais: testes provaram que a canábis é suscetível de incrementar a resistência, atenuar inflamações e melhorar a circulação do ar para os pulmões. Contudo, o outro lado da moeda fica amarrado ao mau exemplo que o uso de uma droga pode desencadear junto dos mais jovens.
Na América do Norte, a NBA e a Associação Nacional de Jogadores de Basquetebol têm intensificado conversações para encontrar uma solução em prol de uma nova política. "Esta é uma questão científica e não moral. Temos de seguir a ciência", declarou Adam Silver, que tem sido secundado pelo seu antecessor, David Stern.
Este confessa ter mudado de ideias, quando antes moveu uma intensa cruzada contra o uso durante os anos 1990, no firme objetivo de limpar a imagem da NBA. Stern considera que a perspetiva deve ser alterada em face das novas descobertas dos benefícios medicinais da canábis. Nas palavras cantadas pelo importal Sam Cooke, uma mudança deve estar para chegar.
Matt Barnes fumava canábis e foi campeão da NBA.
Entretanto, nos Estados Unidos, até agora são dez os estados que legalizaram a canábis para fins recreativos e medicinais, sendo que cinco deles albergam pelo menos uma equipa da NBA. Trata-se de Califórnia, Oregon, Colorado, Michigan e Massachusetts. Contudo, acabar com o banimento pode ser um problema a nível global. Um jogador que consuma marijuana e viaje para um estado com menor tolerância legal pode sujeitar-se a outro tipo de problemas.
De Matt Barnes a... Vítor Baptista
"Eu fumava canábis seis horas antes de um jogo. Depois, dormia a sesta, comia e ia jogar." Com esta rotina, Matt Barnes foi campeão da NBA em 2017 pelos Golden State Warriors. Noutros desportos, o nadador Michael Phelps foi filmado a fumar canábis. Puniram-no pela conduta - consumir fora de prova não é proibido.
Mas houve quem descarrilasse. O tenista Pat Cash ganhou Wimbledon em 1987. Na manhã da final, fumou marijuana. Depois, viciou-se em cocaína. Por cá, Vítor Baptista admitiu que fumou canábis na Luz antes do Benfica-Sporting em que perdeu o brinco (1978) após fazer o único golo do jogo. Morreu em 1999, devastado pela heroína.