Craig Breen: da perda do melhor amigo ao sorriso rasgado e sentido de humor
Piloto da Hyundai morreu esta quinta-feira a preparar o Rali da Croácia, havendo quem dissesse que foi reencontrar o seu primeiro co-piloto e melhor amigo Gareth Roberts, desaparecido num rali em que o irlandês escapou ileso, em 2012. No WRC desde 2014, era caracterizado pela boa disposição.
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O mundo dos desportos motorizados ficou esta quinta-feira em choque com o desaparecimento de Craig Breen, piloto irlandês de 33 anos, que estava no WRC desde 2014 e, esta temporada, foi aposta da Hyundai Portugal para conquistar o Campeonato de Portugal de ralis.
Na estreia, no Rali Serras de Fafe, o natural de Waterford arrecadou o triunfo, mas, no Algarve, foi forçado a desistir devido a um despiste. "Lembro-me de lhe dizer que precisava de uma ajudinha para ser mais rápido e ele responder que não, a rir-se: eu é que tinha de o ajudar a ele. São palavras que vão ficar gravadas, infelizmente, ele não vai poder dizer mais nada", lamentou, à Renascença, o companheiro de equipa Ricardo Teodósio.
No sexto ano do projeto liderado por Sérgio Ribeiro, este é o segundo infortúnio: em 2018, Carlos Vieira, campeão nacional da altura, teve um violento acidente no Rali Vidreiro (também embate na porta), não mais voltando ao CPR.
Herdando do pai, Ray Breen, antigo campeão irlandês, a paixão pela especialidade, Craig começou pelo karting em 1999, estabelecendo-se em definitivo nos ralis em 2009. Neste ano, participou pela primeira vez no Rali de Portugal (25.º com um Ford Fiesta), ainda no sul, o que o fez interessar-se pela região, acabando por comprar casa de férias em Albufeira.
Em 2011, de forma emocionante, conquistou o WRC Academy, numa luta até ao último troço. Breen e o estónio Egon Kaur terminaram em igualdade pontual, mas o irlandês levou a melhor por ter ganho mais classificativas. No ano seguinte, teve de superar a tragédia do falecimento do navegador Gareth Roberts, vítima de um acidente num rali em Itália em que escapou ilseo. Esta quinta-feira, houve quem recordasse a dupla, sugerindo que os dois melhores amigos se voltaram a encontrar.
2014 marca a estreia de Breen no WRC, representando três equipas ao longo da carreira (Citroen, Hyundai e Ford M-Sport). Ao todo, correu 82 ralis, somando nove pódios, o mais recente em fevereiro deste ano, na Suécia, na única prova de 2023 em que participou e onde teve motivos mais do que suficientes para mostrar o rasgado sorriso pelo qual era conhecido.
A boa disposição na hora das entrevistas rápidas, no fim das classificativas, também era recorrente. "O meu pai tem o último Ford com que foste campeão do Mundo em 2002, queres comprar?", lembrou-se de perguntar o malogrado irlandês a Marcus Gronholm, em serviço para o canal WRC+, no final super especial no Porto, no Rali de Portugal de 2022.
Após um ano na M-Sport, Breen voltou esta temporada à Hyundai, sendo Thierry Neuville uma testemunha do empenho do colega ao serviço da marca coreana com sede na Alemanha. "Foste o primeiro a trazer chá inglês para a Hyundai Motorsport, fizeste com que os nossos 'debriefs' durassem três horas ou mais, tivemos conversas sem fim sobre os nossos carros...", recordou o belga.