"Como seria com a W52-FC Porto? Era outra história, mas temos de valorizar quem está"
ENTREVISTA - Rafael Reis resistiu no Viso e foi feliz em Paredes, segurando a amarela no GP O JOGO/Leilosoc. Um dia que fica guardado na memória. Corredor da Glassdrive-Q8-Anicolor agradece a ajuda de Luís Mendonça e revela que tinha esta prova marcada no calendário. Ter vários líderes dentro da equipa é uma ajuda, garante a O JOGO.
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Rafael Reis, seis anos depois de vencer o Grande Prémio JN, conquistou o Grande Prémio O JOGO/Leilosoc. É um contrarrelogista, mas sabe lutar nas etapas em linha e conta a O JOGO a alegria pela vitória na geral.
Esta corrida estava na lista de objetivos para a época?
-Tinha consciência de que o contrarrelógio era a minha cara. Tinha chovido, havia curvas e era explosivo. Podia marcar uma diferença bastante boa naquele dia. Pediram-me logo para estar na discussão da corrida.
No último dia tinha a subida ao Viso, que já decidiu Voltas a Portugal. Acreditou que ia resistir?
-Mesmo que ficasse para trás, não iria ficar muito longe. É mais o acumular dos dias que é um problema, mas a etapa anterior tinha sido tranquila. Estava recuperado para o grande dia, uma tirada com 3000 metros de acumulado. Não era terreno a meu favor, mas sabia que tinha a equipa comigo.
O Luís Mendonça poderia ganhar e chegou a estar na frente. Não ficou preocupado por a Glassdrive apostar noutro corredor?
-Quando temos uma camisola amarela, é para defender. Essa é a política aqui. Fiquei sempre com o Mauricio Moreira, que me foi encostando ao grupo da frente. Sentíamos segurança ao ter o Mendonça na frente. Ele respeitou-me, esperou, podia ter rodado com o Joaquim Silva [Efapel] e ganharia. Caso eu não conseguisse, a equipa tinha um segundo plano. Felizmente resultou o plano A. E a equipa levou-me num sofá. Ajuda muito termos líderes diferentes. Sei que tenho as costas salvaguardadas, porque muitos da equipa podiam ganhar. Isso traz confiança e retira o stress.
Ganhou o Grande Prémio JN há seis anos, venceu agora outra corrida por etapas. Era uma meta sua quando começou a carreira?
-Sempre me tentei preparar para tudo, mas isto já nasceu comigo. Já nos juvenis era raro perder um contrarrelógio e, muitas vezes, aguentava a vantagem na montanha. Sinto que estou a melhorar. Ainda sou pesado para as subidas mais inclinadas e rápidas, porque tenho 74 quilos, mas tenho aumentado a potência e tenho gerido bem os esforços longos. Nessa corrida de 2016 armámos uma emboscada, com Rui Vinhas, António Carvalho e Raúl Alarcón. Ganhei essa corrida com o mesmo tempo do António, pelos centésimos de vantagem do contrarrelógio. Quando me levam ao colo até aos finais explosivos, aí desenrasco-me. Na altura foi a mais especial, até porque estava na W52-FC Porto e ganhámos nos Aliados. Mas desta vez tive a corrida perdida duas vezes. Sofri muito. Por isso, tem um sabor muito especial.
Teria sido mais difícil ganhar se a W52-FC Porto tivesse concluído a prova?
-Seria uma luta tremenda. Têm ciclistas muito bons, qualquer um pode ganhar e ficaria mais difícil no último dia, porque eram mais fortes coletivamente. Era outra história, mas temos de dar valor a quem está. O nível está alto. Ainda faltam equipas que assumam a corrida, mas algumas não são homogéneas. Se só tens um elemento que faz diferenças, tens de ir na roda. Ainda assim, este ano Efapel e RP-Boavista já estiveram connosco e com a W52-FC Porto, mostrando ambição. Para nós, é mais fácil correr com equipas estrangeiras, porque essas têm interesses e não têm receio.
Já houve festa em Palmela?
-Cheguei há pouco a casa e tenho os familiares a trabalhar, mas à noite era para celebrar. Recebi muitas mensagens. Foi um carinho especial.
Ganhar Nacional de estrada é o sonho maior
Foi duas vezes segundo nos nacionais de contrarrelógio de elites, mas o sonho maior de Rafael Reis é outro. "Tenho a ambição, desde sempre, de ganhar no crono, mas ainda mais de ser campeão nacional de estrada e andar com essa camisola todo o ano. O ano passado tive mais vitórias em provas em linha. Estou a mostrar que é possível", afirma o ciclista de Palmela, que já cumpriu a meta de andar de amarelo na Volta a Portugal.
"Não é MotoGP, mas somos os melhores a descer"
Em Paredes, Rafael Reis foi atrás de Luís Mendonça, para uma dupla vitória a descer. Em Setúbal, na última Volta a Portugal, também ganhou com um ataque na descida da Arrábida. "Eu e o Mendonça devemos ser os melhores a descer em Portugal", diz, reconhecendo que arrisca na bicicleta: "Não somos o MotoGP, tenho consciência do limite. Mas tenho a certeza de que arrisco mais do que a maioria. Disse logo ao Mendonça que confio nele, mas que se ele batesse eu ia logo atrás. Felizmente nunca tive problemas graves com quedas. Mais do que técnica, é preciso ter confiança".
Habituado há 20 anos a subir e a descer o sterrato de Palmela, do qual conhece "cada buraco", recorda quando era permitida uma posição fora do selim a descer, agora proibida pela UCI: "Habituámo-nos. Antes embalávamos mais. Havia mais aerodinâmica".