PERFIL - Começou como "press officer" do circuito de Silverstone e em 2002 passou a ter esse mesmo cargo na equipa, onde só em 2010 chegou à liderança do departamento de comunicação, daí saltando para o topo.
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"Se querem saber o que se passa na Williams, vejam a Netflix", disse uma zangada Claire Williams aos jornalistas durante a época passada, que terminaria como a pior de sempre da terceira equipa da história da Fórmula 1 - depois de Ferrari e McLaren -, tanto em número de corridas como em vitórias.
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Pelo documentário, que tem revelado alegrias e zangas internas da F1, percebe-se que Paddy Lowe, engenheiro que ganhara fama nos primeiros anos da equipa, ao lado do fundador Frank Williams, fora muito aplaudido no regresso a "casa", mas desenhara um carro complicado e no qual as peças não encaixavam. Seguiu-se o desastre e o impiedoso "Grande Circo" apontou um culpado: Claire Williams, a diretora.
Na sexta-feira, ao ser anunciado que a equipa procura um comprador para evitar a falência, percebeu-se que estará para breve o fim da carreira da única mulher com o cargo de "Team Principal" na Fórmula 1, depois de a pioneira, Monisha Kaltenborn, ter liderado a Sauber entre 2010 e 2017. No papel, o cargo mais alto ainda é de Frank Williams, o pai que a escolheu para o lugar, embora tivesse filhos homens, Jonathan e Jamie; na prática, o fundador, agora com 78 anos e tetraplégico desde 1986, limita-se a ir às pistas, deixando as ordens para a filha trabalhadora. Não faltam os que dizem ser um erro, por preferirem Jonathan, mas Sir Frank foi claro quando a escolheu, em 2013. Claire era a melhor, disse.
Formada em Política na Universidade de Newcastle, esta britânica de 43 anos, casada há apenas dois, fez uma carreira a pulso. Começou como "press officer" do circuito de Silverstone e em 2002 passou a ter esse mesmo cargo na equipa, onde só em 2010 chegou à liderança do departamento de comunicação, daí saltando para o topo. O problema de Claire Williams é que herdou uma equipa teoricamente de topo, mas já em decadência. O último dos nove títulos mundiais da Williams foi ganho em 1997 e a derradeira vitória em corrida data de 2012, com Pastor Maldonado. A gerência de Claire ainda viveu dois anos bons - terceiros lugares nos Mundiais de 2014 e 2015, com Felipe Massa e Valtteri Bottas como pilotos -, e isso valeu-lhe o título de Oficial do Império Britânico, mas desde então foi o declínio, financeiro e de resultados, até ao último lugar dos dois últimos anos.
A Netflix, preciosa nesta história, tem feito justiça a Claire. As filmagens internas da Williams revelam uma diretora firme e aplicada, que apenas peca porque, para alguns, na Fórmula 1 a sensibilidade e o bom coração são considerados defeitos. "Quando não somos bem sucedidos, alguns apontam o facto de eu ser mulher. Disseram que a equipa caiu quando engravidei. Como se atrevem? Trabalho sete dias por semana, raramente vejo o meu filho. O que mais gostaria era de ter bons resultados para provar que uma mulher, esposa e mãe pode ser bem sucedida na F1", disse numa recente entrevista à PA Media.