Em Alfama, Carlos Paulo, guarda-redes de futsal corta cabelo e barba e explica o que mudou com a pandemia. Também Jordana Pinto, defesa da Ovarense, fala a O JOGO do seu trabalho como manicure no Porto e de toda a readaptação necessária
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Campeão europeu de futsal pelo Benfica, há 10 anos, Carlos Paulo continua a pisar as quadras. Esta época, o guarda-redes esteve ao serviço do Olho Marinho, com perspetivas de subida ao primeiro escalão, mas a pandemia trocou-lhe as voltas não só no desporto como a nível profissional.
"Não gosto muito de trabalhar por marcações porque há sempre atrasos ou gente que falha"
O atleta português é barbeiro e por força da covid-19 ficou cerca de dois meses sem exercer o ofício e em regime de lay-off. Agora, já com as portas da barbearia Oliveira abertas, em Alfama, o retomar é lento e as rotinas alteraram-se com horas marcadas para corte e barba. "Pessoalmente, não gosto muito de trabalhar por marcações porque há sempre atrasos ou gente que falha. Mas como digo sempre, tenho os melhores clientes do mundo e que se estão a portar muito bem. Em média atendo entre 9/10 clientes por dia", refere a O JOGO.
Com o devido distanciamento, Carlos Paulo trabalha com o colega Miguel num estabelecimento que abre pelas 9h00. Protegido e com espírito de serviço à população, o dia a dia é encarado com a normalidade possível. "Trabalhamos de viseira e máscara. A cada cliente desinfetamos tudo, desde o material usado, a cadeira, chão, penteadores descartáveis. Atendemos um cliente por hora para dar tempo de ter tudo limpo e em segurança para o próximo que chegar. O cliente é obrigado a estar de máscara e desinfetar as mãos à entrada", explica Carlos Paulo que na próxima época representará a Associação de Moradores de Santo António dos Cavaleiros-AMSAC.
Com enorme espírito solidário, antes da pandemia, o guardião tinha por hábito andar pelas ruas de Lisboa, disponibilizando-se para corte gratuito aos mais necessitados, algo que não deixa de fazer. "Continuo como é lógico a ajudar quem mais precisa, mas sempre com cuidado e com as devidas precauções tanto da minha parte, como da parte deles", resume.
Face à obrigatoriedade do uso de máscara por parte do cliente, Carlos Paulo conta que têm sido poucos os clientes a deslocarem-se à barbearia para fazer a barba, mas quando acontece, não há problema. Cumpre-se o pedido de quem se senta na cadeira. "Quando passamos para a barba, o cliente retira a máscara, porque não foi proibido não fazermos barbas, o que não faz muito sentido. Mas temos tido sorte porque raramente estão a pedir", diz.
Treinos por videochamada
Durante o estado de emergência, Carlos Paulo manteve os índices físicos como pôde, à semelhança de tantos outros atletas. "Como é óbvio nem sempre temos os recursos necessários para mantermos um bom nível físico, em casa", diz. O recurso às novas tecnologias facilitou neste aspeto particular. "Treinei todos os dias por videochamada com o meu irmão Bruno e quem mais precisa, mas sempre com cuidado e com as devidas precauções tanto da minha parte como da parte deles.
Jordana Pinto até trabalha mais horas...
No Porto, onde Jordana Pinto trabalha num salão de beleza como manicure, também houve mudanças. Óculos de proteção, máscaras, viseiras, luvas, batas descartáveis passaram a fazer parte do quotidiano. "Temos de desinfetar todo a área em que a cliente se senta, põe as mãos... e esse processo leva uma hora. Estamos a trabalhar mais horas e a atender menos clientes", diz a central da equipa de futebol feminino da Ovarense, que tem atendido, em média, quatro pessoas por dia, quando antes da pandemia recebia cinco clientes. As conversas mantêm-se, agora mais centradas na covid-19. "Não sinto receios. Quando entram no salão, deixam malas, ou casacos num cabide próprio e não podem mexer no telemóvel", diz Jordana.
O estabelecimento em que trabalha optou por não colocar um acrílico como barreira entre trabalhadora e clientes, que voltaram a usufruir dos cuidados de beleza.