"Caio mais de sapatilhas do que de patins. De patins caem os que se atiram..."
Gonçalo Alves e Hélder Nunes, duas das grandes figuras do hóquei em patins do FC Porto falaram em exclusivo a O JOGO, explicando como se complementam
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Gonçalo Alves tem 30 anos e é de Famalicão, Hélder Nunes conta 29 e nasceu em Barcelos. São ambos de famílias de hoquistas e conhecem-se desde tenra idade, mas só se tornaram colegas de equipa em 2015, no FC Porto. Este ano juntaram-se de novo, com o regresso de Nunes após quatro anos em Barcelona, e sentem-se felizes. A amizade é tanta que já ligou as famílias e nota-se nas respostas a O JOGO, que repartiram com a agilidade com que manobram o stique.
O JOGO juntou os dois compadres que adoram dar espetáculo no hóquei em patins dos dragões e da Seleção Nacional, com um resultado interessante: a conversa ficou mais fácil e abundaram as gargalhadas!
Como e quando se conheceram?
GONÇALO ALVES-Há uns 20 e tal anos. Jogávamos juntos na Associação do Minho, na altura um contra o outro, uma vez ganhava um, outra ganhava o outro. Ele é um ano mais novo, por isso coincidíamos muitas vezes a jogar. E também estávamos nas seleções.
São compadres?
HÉLDER NUNES-Sim, de casamento. Cada um do outro.
Isso gera cumplicidade quando jogam juntos?
HN-Claro, e não só a jogar. Conversamos quando estamos fora e isso cria um à vontade para falarmos do que temos de fazer lá dentro. Podemos dizer um ao outro o que há para corrigir. Há um diálogo mais fluído.
Isso ajuda em jogo?...
GA-Sem dúvida. Antes dele ir para o Barcelona notava-se ainda mais. Agora, tendo ele regressado de uma realidade diferente, estamos a recuperar isso. Antes de ele sair podia dizer-se que jogávamos de olhos fechados. Sabíamos o que outro estava a fazer, bastava um movimento para perceber o que ele queria. Essa dinâmica, que também existe na Seleção, está a ser recuperada. Percebemos o que queremos fazer em campo e isso é uma mais-valia para a equipa.
HN-Ter qualidade também ajuda. [risos]
Começaram como rivais. Já se davam bem?
GA-Ele no Barcelos, eu no Famalicense. Estávamos a conhecer-nos.
HN-Na altura notava-se que a nossa qualidade era superior à dos outros jovens. Isso cria curiosidade. Os melhores de cada geração gostam de se conhecer. O Gonçalo era um deles e vivíamos perto. Não era apenas o encontrar-nos no Campeonato Nacional, uma ou duas vezes. Tínhamos regional, nacional e Seleção.
Essa relação próxima ajuda a criar a magia de algumas jogadas?
HN-Ajuda. O Gonçalo sabe que, se pegar na bola para fazer as coisas dele e ir para o meio de dois ou três - e tem muito sucesso no que faz -, eu estarei atrás para o caso de não correr bem. Assim como sei que, se for o momento de ir eu, ele também estará atento. Mais do que a magia, existe uma preocupação em nos protegermos e a amizade aumenta isso. Tentamos transpor isso para toda a equipa, porque sendo os 11 assim teremos um bloco cada vez mais coeso.
Gostam do lado malabarista do hóquei em patins?
GA-Claro, gostamos de dar espetáculo. Queremos que as pessoas venham e desfrutem...
HN-… que se divirtam!
GA-Todos gostamos de fazer golos bonitos. É preferível um bonito a dois feios, mas sabendo que o objetivo é ganhar. Se tiver de ser com dez golos feios, iremos por aí.
Dá mais prazer patinar ou brincar com a bola?
GA-Patinar, para nós, é algo natural. É igual a andar de bicicleta. Já são muito anos em cima de uns patins, 20 e tal.
HN-Sou capaz de cair mais vezes de sapatilhas do que de patins. De patins só caem os que se atiram mais... [risos]
“Prendas ligadas ao hóquei são inevitáveis”
O hóquei em patins não falta entre as prendas de Natal de duas famílias muito ligadas à modalidade. “É inevitável. Há sempre quem me peça camisolas do FC Porto, há amigos que pedem camisolas minhas... Mas se a prenda da minha mulher for do hóquei, ela mata-me!”, brinca Hélder Nunes.
Para Gonçalo Alves a obrigação é maior, pois tem “sobrinhos que jogam hóquei, um deles a guarda-redes, e prendas daqui são uma felicidade para eles”. O avançado fala ainda do filho de dois anos, “que só quer jogar hóquei, não pára de bater com o stique”. “Dá-lhe um, é a melhor prenda!”, atira Hélder Nunes com uma gargalhada.