Sete das 10 escuderias têm sede em Inglaterra e querem saber como vão passar milhares de peças por semana numa alfândega.
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Um Brexit sem acordo, que obrigará a restabelecer fronteiras entre o Reino Unido e a União Europeia a partir de 29 de março, poderá originar uma catástrofe no sector automóvel, aquele que se prevê que venha a ser o mais afetado - no último ano, o investimento na indústria automóvel britânica caiu para metade e a produção de carros desceu 9,1% -, pois todos os dias um milhar de camiões atravessa o canal da Mancha, com peças para construtores como Honda, Nissan, Ford, BMW (Mini) e Toyota, entre outros. Cálculos já efetuados indicam que bastarão dois minutos de revista em cada camião para gerar um engarrafamento de 27 quilómetros na fronteira, o pesadelo de qualquer empresa e dificuldade intransponível para as sete equipas de Fórmula 1 com sede em Inglaterra.
"Deveríamos ter muito orgulho por estarem cá todas as equipas de topo da Fórmula 1 e agora podemos fazer-lhes a vida difícil. Espero bem que isso não aconteça", comentou há uma semana David Richards, dono da Prodrive e atualmente o presidente da federação de automobilismo britânica. Foi a ele que três das equipas de F1 se dirigiram, colocando a hipótese de em conjunto escreverem uma carta a Theresa May, pedindo uma solução à primeira-ministra.
Segundo explicou ao "L"Équipe" um dos responsáveis da Renault, que produz os motores em França, mas desenvolve o resto do carro em Enstone, pequena localidade do Oxfordshire, "um documento alfandegário pode permitir o trânsito temporário, o problema estará na passagem física pela fronteira". As equipas de F1, que têm dez Grandes Prémios na Europa (um deles em Inglaterra) entre abril e setembro, levam os carros à base entre duas provas e exportam milhares de peças desenvolvidas nas sedes britânicas. "A McLaren envia 40 toneladas de material e uma centena de pessoas para cada corrida", precisou Jonathan Neale, diretor-geral da equipa de Woking.
Além da logística, há preocupações ao nível do pessoal. "Temos 23 nacionalidades na McLaren", lembra Neale, que teme perder alguns dos "cérebros" caso o Reino Unido se transforme num "labirinto de papéis". Ferrari, Toro Rosso e Sauber, o trio que vive em Itália e Suíça, já se imagina a receber talentos que, até agora, só queriam trabalhar em Inglaterra, a "pátria" da F1.