Bradley Wiggins: "Cheirei cocaína da medalha olímpica em Londres'2012, é triste recordar"
Sir Bradley Wiggins fala sobre o vício em cocaína na autobografia "The Chain"
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Bradley Wiggins, consagrado ciclista britânico, enfrentou um problema com as drogas durante a carreira e falou abertamente sobre o assunto na autobiografia que vai lançar a 23 de outubro. Este sábado, porém, o jornal The Times divulgou um excerto do que é contado em "The Chain".
Vencedor de oito medalhas olímpicas (cinco de ouro, uma de prata e duas de bronze) e do Tour de França de 2012, o ciclista de 45 anos contou que foi abusado sexualmente pelo treinador, entre os 13 e os 16 anos, e esses episódios tiveram reflexo ao longo da sua vida.
"Não há um processo até ao vício das drogas. Não fiquei lá, especado, durante dez minutos, a pensar se deveria ou não fazê-lo. Não imaginei as profundezas às quais a cocaína poderia levar-me. Limitei-me a ficar ali, eufórico. Foi como descobrir algo totalmente novo, uma sensação até então removida do meu normal, de tal maneira que era quase fora deste mundo. Um único pensamento dominou a minha mente: 'Consigo ultrapassar paredes com isto!' Isso não é festejar a cocaína, é apenas para explicar como algo tão estranho à vida que levava até àquele ponto poderia dominar-me tão incrivelmente depressa. Assim que deixei o mundo do desporto e vi o quão aceite a cocaína era na sociedade, especialmente, entre as figuras criativas e artísticas que respeitava, o seu uso tornou-se 100% legítimo e validado. Não era como se estivesse com um monte de marginais a rastejar na sarjeta. Fui levado à narrativa de que as drogas são algo de porreiro", começou por contar.
"Eu culpava o sucesso de 2012 por tudo aquilo que tinha acontecido, convencido de que, ao conquistar a Volta a França e os Jogos Olímpicos, tinha feito com que tudo desabasse sobre mim próprio. Enlouqueci de fúria quando destruí o meu troféu de Personalidade Desportiva do Ano de 2012. 'Isto não é sucesso'. Fiz isso em frente aos meus filhos. Não é de admirar que houvesse alturas em que eles falaram de tentar colocar-me na reabilitação. A profanação da minha medalha olímpica pode ter acontecido longe dos olhares deles, mas é igualmente triste de recordar. Centenas de milhares de pessoas a gritarem por mim, outros milhões a ver em casa. Um dos grandes momentos de Londres'2012, e lá estava eu, de roupão, a cheirar cocaína [da minha medalha de ouro], a troçar do meu feito, a odiá-lo por aquilo que eu acreditava que me tinha causado. Foi o equivalente a urinar na campa de alguém, e, naquele momento, estava a urinar sobre mim mesmo. A medalha de ouro, a Volta a França... Tudo isso estava morto, para mim. A pessoa que eu tinha sido em Paris e Londres também estava morta para mim. Na verdade, fiz uma videochamada com um companheiro viciado durante aquela depravação: 'Olha o quão engraçado eu sou, a cheirar cocaína da minha medalha olímpica de Londres!'", contou.
"Não é de admirar que, no meio desta loucura, o meu casamento estivesse a colapsar. A Cath é uma vítima tão grande dos últimos 12 anos como outra qualquer. Ela pagou o derradeiro preço por ser minha mulher", disse ainda, acerca da relação com a companheira.