Boavista contrata dois jogadores surdos: "É só colocar as pedras no quadro"
Treinador Carlos Sousa já conhecia Ricardo Ribeiro e Miguel Silva e não hesitou em reencontrá-los
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O Boavista, que vai disputar a II Divisão de futsal esta temporada, tem a particularidade de ter contratado dois jogadores surdos este verão, Ricardo Ribeiro e Miguel Silva, com o treinador Carlos Sousa, que já os conhecia, a ter explicado que não hesitou um segundo em reencontrá-los.
“São dois jogadores que conheço muito bem, porque já os treinei na Associação Portuguesa de Surdos (APS) e como os conhecia achei que eram jogadores que nos podiam ajudar. Tivemos o primeiro treino na segunda-feira e vão ouvindo com o aparelho que usam e que também lhes permite falar com os colegas. Já sabem o que têm de fazer”, apontou, em declarações reproduzidas pela AF Porto.
O técnico vincou ainda que a surdez da dupla não é percetível dentro de campo e que ambos estão completamente integrados nos axadrezados, enaltecendo a sua qualidade.
“Primeiro, o futsal é universal. Depois, é só colocar as pedras no quadro e eles entendem o que queremos. A particularidade deles é que são inteligentes e sabem o que têm de fazer dentro da quadra. Se for preciso resolver alguma situação, conseguimos fazer-nos entender e contornar o facto de serem surdos. Basta tirá-los fora uns minutos e explicar com o quadro o que devem e não devem fazer e eles conseguem executar sem problema. De qualquer forma, neste campeonato também podem jogar com um aparelho que lhes permite ouvir alguma coisa, ao contrário do campeonato de surdos, onde não podem usar aparelho”, explicou.
“Quando os treinei na APS, perguntaram-me se queria um intérprete para os surdos, mas duas semanas depois acabei por dispensar o intérprete, porque conseguíamos comunicar normalmente. Fomos campeões nos dois últimos anos, depois de termos sido vice-campeões antes. Rendem plenamente, vêm de equipas onde já jogaram assim. São jogadores que fazem parte do grupo, sabem o que quero e são dois jogadores importantes. Se os virem jogar, nem se apercebem que são surdos. Foram-se adaptando ao modelo de jogo em termos ofensivos e defensivos, gostam de aprender, adaptam-se muito bem e transmitem o que se pretende para dentro da quadra. O Ricardo é um jogador com um posicionamento universal, tanto pode jogar fixo, como a ala ou pivô. Tem características de que gosto, na forma como interpreta o jogo e aborda o lance. O Miguel é mais ala e é muito forte no um para um, quer a atacar, quer a defender”, descreveu Carlos Sousa.