"Aumento das delegações nos Jogos Europeus é um sinal positivo do desporto nacional"
Marco Alves, Chefe de Missão em Cracóvia'2023, explicou a O JOGO a aposta portuguesa no evento e a expectativa de 15 ou mais medalhas
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Marco Alves já foi Chefe de Missão de Portugal em Tóquio'2020, vai sê-lo em Paris'2024 e pelo meio ocupa o cargo nos Jogos Europeus que hoje arrancam na Polónia, centrados em Cracóvia, mas tendo provas em 13 cidades.
A delegação tem número recorde de atletas, 206 (só é superado pelo da primeira presença nos Jogos do Mediterrâneo, em Tarragona), e a qualidade mais alta que o nosso país consegue apresentar. A meta é superar as 15 medalhas obtidas em Minsk'2019.
Portugal tem aumentado regularmente, nos últimos anos, o seu número de atletas nos grandes eventos. A que se deve isso?
Essa é uma pergunta difícil, porque a cada quatro anos o cenário dos eventos tem sido muito distinto, e estes Jogos Europeus são mais um exemplo disso, mudando modalidades a cada edição. Tivemos muitos atletas em Tarragona e em Oran, e realmente as delegações têm crescido nos mais diversos cenários, até porque algumas modalidades são apenas de inscrição, outras têm qualificação. Estes tiveram um processo de qualificação, mas há uma diferença nas modalidades que participam, por sinal sendo mais olímpicas. O aumento das delegações é um sinal positivo para o desporto nacional. Estamos em competição com países que têm um desenvolvimento desportivo muito elevado.
Há um lado menos conhecido do desporto português que está mais competitivo?
Em alguns casos, mas não iria por aí. As pessoas gostam que os nossos atletas ganhem. Há muita competitividade no desporto europeu na maioria das modalidades, e conseguimos qualificar-nos em muitas modalidades. Só estar cá já é um garante de alguma qualidade. Naturalmente temos atletas que não conseguirão cumprir os seus objetivos, outros em que isso não passa por medalhas, mas o caminho que esses atletas fizeram para cá estar já merece ser valorizado.
Portugal é dos países que mais aposta nos Jogos Europeus?
Temos a aposta de estar presentes e com bom número de atletas...
A questão seria mais pela aposta em atletas de qualidade.
Isso sim, claramente. Temos as principais equipas e nas principais modalidades dos Jogos Europeus. Há um exemplo claro disso: o triatlo poderia estar cá e não veio porque não conseguia trazer a equipa principal, pois existia outra prova importante no seu calendário e que já fazia parte da estratégia da federação. Todas as federações têm os seus melhores atletas.
Qual é a expectativa de medalhas?
Há sempre uma perspectiva de medalhas e não a vamos esconder. Temos de a fazer olhando ao histórico destes atletas e ao dos adversários. Também se analisa o global e, como o número de atletas tem aumentado, espera-se que a nível de medalhas também possam aumentar. Embora várias das que foram conquistadas em Minsk não se possam repetir, porque as modalidades mudaram. Também por isso não se podem fazer muitas comparações.
Os Jogos Europeus têm mudado muito a cada edição, até por possuírem a concorrência dos Europeus de cada federação. Está a ser demasiado difícil fazer a afirmação deste evento?
O esforço que foi feito com esta terceira edição leva-nos para um caminho melhor do que o de 2019. Todas as modalidades têm algo a ganhar aqui. Isso é um bom sinal, esperando-se que estes Jogos tenham uma preponderância ainda maior na qualificação para Los Angeles'2028. Há muito interesse dos principais países europeus em marcar já aqui uma posição na qualificação para Paris'2024, seja direta ou por pontos para rankings. Esse caminho está a ser bem trilhado, sendo necessária maior atenção ao programa desportivo, pois para esta edição fomos surpreendidos várias vezes com a adição de novas modalidades e estes eventos demoram muito a preparar. Aconteceu com a introdução do muaythai. São as dores de crescimento, esta é apenas a terceira edição.
Será possível a Europa ter um evento tão importante como os Jogos Asiáticos ou Panamericanos?
Os eventos desportivos europeus sempre foram mais para jovens. Temos o Festival da Juventude Europeia desde 1991. Para os seniores o calendário europeu sempre foi muito intenso e era difícil encaixar mais um evento. Ter alguns Campeonatos da Europa aqui pode ser uma solução, já vimos isso com o judo. O ano antes de uns Jogos Olímpicos deve ser sempre marcante com este evento.