<strong>ENTREVISTA (Parte 1) - </strong>Figura importante de uma das melhores seleções de andebol de sempre, Magnus Andersson, treinador sueco do FC Porto que brilha na Champions, quer continuar a divertir-se, mas passo a passo.
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Meia distância central bicampeão do mundo, tricampeão da Europa, três vezes medalha de prata nos Jogos e eleito melhor jogador do planeta em 1993, o sueco Per Magnus Andersson é uma figura do andebol mundial que está a "divertir-se" em Portugal, a dar nas vistas na Europa e a atender telefonemas de jornalistas e amigos curiosos com esta equipa do FC Porto que se bate com os melhores dos melhores na Liga dos Campeões e às vezes vence. Magnus põe o foco no às vezes.
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Quando viu o grupo em que o FC Porto iria jogar nesta Liga dos Campeões, o que pensou?
-Sempre tive o sonho de jogar nos grupos A ou B [os grupos de elite da Champions]. É mais difícil, mas também é mais divertido jogar com equipas como Kiel, Veszprém ou Kielce. Mas ficamos logo a pensar, e agora?, onde é que eu vou ganhar uns pontos? A equipa cresceu, conquistou respeito e provou que pode ganhar a qualquer um daqueles adversários, mas também pode perder com qualquer um deles.
"Já o disse antes, o momento-chave para nós foi com o Magdeburgo. Ali percebemos que podíamos fazer resultados fantásticos"
Não perdeu muito desde que veio para o FC Porto. Ganhou tudo, foi às meias-finais da Taça EHF e está agora a fazer uma Champions histórica. Quer explicar-nos o seu processo, o que começou por mudar na equipa?
-É difícil dizer, porque não mudei nada. Era um treinador novo para a equipa e uma equipa nova para o treinador. Acho que encontramos uma boa forma de jogar. Já o disse antes, o momento-chave para nós foi com o Magdeburgo. Ali percebemos que podíamos fazer resultados fantásticos. Tivemos um pouco de sorte na Alemanha, estávamos a perder por sete ou oito golos e mudámos o jogo, numa altura em que se jogava sete contra seis. Trocámos o guarda-redes e o Thomas Bauer fez uma exibição tremenda, ao ponto de perdermos por apenas um golo. Algo começou na equipa naquele momento, deu-nos muita confiança e fizemos uma segunda mão extraordinária. Toda a gente passou a acreditar que podemos jogar muito bom andebol. Às vezes, é preciso mais experiência; é preciso jogar muito mais partidas internacionais. Para nós, às vezes também é mais fácil jogar lá fora, porque preferimos um andebol físico. Temos jogadores grandes, que gostam de jogar com dureza e aqui, na liga portuguesa, joga-se de outra maneira; os jogadores são mais pequenos, mais técnicos.
Como se define enquanto treinador? Qual é o perfil de Magnus Andersson?
-Gosto do andebol que praticamos aqui. Temos alguns jogadores mesmo muito criativos. Em poucas palavras, o que valorizo é a disciplina e a paciência. Falo muito disso com a minha equipa. Precisamos de encontrar um equilíbrio entre o quanto criativos podemos ser e a realidade de que, neste nível, um pequeno erro vale um golo do adversário em contra-ataque. Aqui, o que precisamos é de descobrir como não perder a criatividade sem deixarmos de ser disciplinados. Temos alguns sistemas, um plano de jogo com muitas combinações, mas também aproveitamos as pequenas coisas, um contra um, dois contra dois, porque dispomos de bastantes jogadores de qualidade que sabem fazê-lo.
Até onde pode esta equipa chegar nos próximos anos?
-Assusta-me um pouco que as pessoas pensem que já estamos neste patamar internacional. É claro que jogamos muito bem agora, mas se pensarmos que podemos manter-nos sem muito treino, sem trabalharmos realmente no duro e sem muitos jogos na Europa... Espero que nos mantenhamos neste nível muito tempo, mas temos de dar um passo de cada vez.
"Para quê procurar [estrelas]? Temos bons jogadores. Vamos trabalhar com os jovens aqui. É mais divertido"
O Magnus não é como um treinador de futebol. Fala em trabalhar e melhorar, mas nunca em contratar melhores jogadores, com experiência internacional...
-Espero é poder continuar a trabalhar com estes. Porquê procurar outros? É claro que olhamos sempre para o mercado, mas temos de ser realistas. Não temos estrelas como as do Kiel ou do Vardar. Dois ou três jogadores lá ganham mais do que toda a gente aqui. Não seria realista, para mim, começar a sonhar com estrelas como Dvnjak [Kiel] ou Nenadic [Veszprém]. Para quê procurar? Temos bons jogadores. Vamos trabalhar com os jovens aqui. É mais divertido.
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"GERAÇÕES DE 1998 E 2000 SERÃO IMPORTANTES"
Há muito otimismo por parte do treinador do FC Porto relativamente às últimas fornadas da formação portuguesa. E o lateral-direito Diogo Silva pode estar de regresso ao Dragão Arena.
Sabe quem foi Aleksander Donner?
-Não.
"No mundo do andebol, todos falam de Portugal, por causa do FC Porto na final-four da Taça EHF, por causa do Sporting na Liga dos Campeões, por causa do apuramento da Seleção pela primeira vez desde 2003"
Foi um treinador ucraniano, campeão em Portugal com o ABC, jogou uma final da Taça dos Campeões, foi selecionador. Liderou uma primeira revolução no andebol português. Aparentemente, estamos numa segunda revolução, com os desempenhos internacionais dos clubes e o regresso da Seleção a uma fase final do Europeu. Acha que pode ter um papel nesse processo?
-Portugal tem um bom contexto neste momento, mas, só porque as coisas estão a correr bem agora, não podemos estar certos de que vão correr bem no próximo ano. No mundo do andebol, todos falam de Portugal, por causa do FC Porto na final-four da Taça EHF, por causa do Sporting na Liga dos Campeões, por causa do apuramento da Seleção pela primeira vez desde 2003, penso. E se virmos os juniores, também estão a ter bons resultados. Esta geração do André Gomes [Luís], Frade e Leo [Leonel Fernandes], os nascidos em 1998, está a sair-se muito bem. A geração de 2000 também. Há muitas coisas positivas a acontecer no andebol português. Se a Federação e os clubes começarem a trabalhar um pouco em conjunto; se traçarem um plano para o futuro; se tiverem um pouco de sorte também... Portugal está num grupo bem complicado no Europeu, com Noruega, França e Bósnia, mas tem uma boa hipótese. Os jogadores estão com confiança; bateram a França, aqui. Tem de ser passo a passo, trabalhando sempre muito, e estipulando pequenos objetivos. Estas gerações de 1998 e 2000 podem ser muito importantes para o andebol português.
O Diogo Silva, que está emprestado ao RK Celje e foi considerado o melhor jogador do último Europeu de sub-20, pode regressar ao FC Porto ainda esta época?
-É o nosso plano. Para mim, era muito importante que ele desse um passo em frente este ano. É um dos maiores talentos mundiais na posição dele [lateral-direito]. Estamos a estudar o que será melhor para todos; se o recuperamos já ou se o mantemos emprestado. Nós temos jogadores para aquele lugar e o Celje é um clube muito bom, com uma boa tradição de trabalho com os jovens. Quando falei com eles, percebi imediatamente que era uma boa oportunidade de pôr o Diogo a rodar e a ver o que consegue aprender com uma época no estrangeiro, para nos ajudar na próxima.