João Sousa, Nuno Marques e Carlos Costa sentem orgulho no facto de Ashton Eaton - o norte-americano bicampeão olímpico do decatlo - ter apresentado argumentos que elevam os tenistas a superatletas.
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Um decatleta é apontado como o mais completo dos desportistas. São dez disciplinas de atletismo, numa competição de dois dias de uma dureza incrível, e o melhor é Ashton Eaton, ouro nos Jogos de Londres e do Rio e ainda pentacampeão mundial nas chamadas provas combinadas. Questionado a propósito de qual a outra modalidade mais completa, atirou: "Acredito que o ténis é a modalidade mais atlética depois do decatlo. Possui muitos requisitos. Os encontros podem ser muito longos, três ou quatro horas, rodeados de muitos aspetos técnicos, para além de ser necessária agilidade, resistência, velocidade e reflexos. E também se assemelha a uma partida de xadrez."
Foi esta análise que O JOGO apresentou, em Viana do Castelo, na bem-sucedida ronda da Taça Davis com a Eslovénia, ao melhor tenista português de todos os tempos (João Sousa), ao selecionador nacional (Nuno Marques) e ao fisioterapeuta com melhor currículo internacional (Carlos Costa).
"É sempre um bocadinho relativa a comparação entre modalidades", reagiu Sousa, antes de sublinhar: "É bom saber que um desportista tão completo atribui um valor acrescido ao ténis, que ainda por cima é a minha paixão." "A nossa vida é muito dura. Chegam a ser 32 semanas por ano a viajar e competir, sem tempo para a família e os mais queridos", adianta o vimaranense, aprofundando a análise: "O ténis é muito complexo - tal como reconhece o Ashton Eaton - em termos físicos, técnicos, táticos, mentais e até na linguagem corporal. Tudo misturado, dá um cocktail de aptidões que não estão ao alcance de todos. Tal como um atleta do decatlo se especializa numa vasta série de disciplinas, um tenista também encara muita coisa distinta."
Na 34.ª posição do ranking ATP, tendo como melhor registo o 28.º lugar, João Sousa lembra que "os bons rankings e a atuação nos grandes palcos só se conseguem à custa do esforço diário".
Detentor de muitos recordes enquanto jogador, Nuno Marques é treinador há dezena e meia de anos, exercendo agora a profissão em Maiorca, na Academia de Rafael Nadal, e reagiu assim: "É giro surgir o campeão do decatlo a destacar o ténis, quando o podia ter feito em relação a outras modalidades. Gosto muito de desporto, mas sou louco por ténis; um desporto incrível, tão diferenciado. É preciso ser explosivo, resistente, supercoordenado, inteligente, ter controlo emocional, capacidade de adaptação às mais diversas condições, ou seja, uma série de procedimentos ao nível de super-heróis." "Aliás, também o José Mourinho elogia o ténis e adora a modalidade", acrescenta à conversa.
Para o selecionador nacional, o "ténis tornou-se ainda mais físico e as capacidades dos jogadores estão a ser muito esticadas, levando à procura do melhor equilíbrio, para evitar lesões, ao mesmo tempo que se tem de elevar a performance, nem que seja sabendo jogar pelo seguro, pois se poupas esforços não consegues altos desempenhos".
Em 1998, numa ronda da Taça Davis, na antiga Jugoslávia, Marques disputou um encontro em dois dias, ante Nenad Zimonjic, vencendo por 20-18 no quinto set. Ao recordar o que passou em Belgrado, não tem dúvidas de que "a parte mental, a partir de certa altura, é brutal". "Não basta ter uma boa técnica, mas é fundamental dominar a tática, o físico, a confiança, as emoções, e o campeão do decatlo percebe isso tudo, pois sabe também a importância da coragem e do autocontrolo, acima de tudo quando se luta contra o medo de perder", anotou.