Ciclista russo venceu o 5.º Grande Prémio Douro Internacional com uma grande exibição, mas continua modesto como poucos
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Aos 30 anos, o gigante de Kemerovo parece melhor do que nunca. Já com Beiras, Abimota e Volta a Portugal do ano passado no palmarés, atacou no último dia para conquistar o GP O JOGO/Leilosoc e no primeiro para vestir de amarelo até ao fim no quinto Grande Prémio Douro Internacional. Em entrevista, revelou a humildade de sempre.
Russo da Anicolor-Tien21 conquistou o Grande Prémio O JOGO e o Douro Internacional, ambos com ataques demolidores. Sempre humilde, tem dificuldades para admitir estar mais forte.
O plano para o Douro era decidir a camisola amarela logo no primeiro dia?
—Sim, pensamos que poderíamos ganhar no primeiro dia. Se não o conseguíssemos, na segunda etapa seria para arrancar ‘à morte’. A primeira etapa teve aquela fuga, a corrida andou sempre muito, mas havia a montanha no final.
O António Ferreira, da Efapel, entrou isolado na última subida, para Armamar. Já contavam alcançá-lo?
—Ele teve dois minutos e meio, mas a montanha final era muito dura. Não estava preocupado. Sabia que o início da subida era muito inclinado e podíamos recuperar logo bastante tempo.
A corrida ficou ainda marcada pelo muito calor. Gosta de correr assim?
—Foi mesmo muito. Já estou acostumado. O primeiro ano foi difícil, agora sinto-me bem com o calor.
Na sua cidade natal, Kemerovo, tem temperaturas assim?
—Neste fim de semana estavam lá 31 graus, praticamente o mesmo que cá. Mas na Sibéria há muita diferença de temperatura. Podemos ter de 32 a 35 graus durante o verão e 30 ou 40 negativos no inverno...
Sente-se mais confiante e confortável a correr em Portugal?
—Quando vim senti-me logo bem. Gosto do país, tem pessoas muito tranquilas. É bom viver cá.
Está a planear continuar a viver em Portugal?
—Espero que sim. Tenho contrato para o próximo ano, portanto pelo menos mais um fico.
O diretor desportivo, Rúben Pereira, já disse considerá-lo um terceiro filho. A vossa relação é assim tão boa?
—O Rúben faz tudo por toda a equipa. Ajuda-me muito. Somos todos como uma família, um grupo de amigos, existe muita confiança.
Com a época que está a fazer, parece capaz de ganhar tudo...
—Isso para mim não é importante. O importante é ganhar a equipa. No ano passado não me achei o mais forte na Volta a Portugal. Aconteceu ganhar. A equipa do camisola amarela não queria controlar, para nós foi perfeito.
Que espera na segunda metade da época?
—Vou-me preparar o melhor possível, focar-me nos objetivos. Se ganhar, perfeito. Se não, a vida não acaba.
Na próxima Volta a Portugal haverá uma diferença, estarão todos de olho em si...
—Não sei porquê, mas na Volta a Portugal entro sempre mal. Espero desta vez começar melhor.
Sente-se bem sendo o homem mais marcado?
—Não é importante. Se me marcarem, temos ciclistas fortes na equipa, como Ruben Fernandez, Alexis Guerin ou Harrison Wood. E não podem marcar todos...
Não fica mais pressionado?
—Não sinto. Comigo está tudo tranquilo, não tenho pressão. Porque não sou o único líder na equipa. Se me correr mal, haverá outro que pode ganhar. Por isso estamos tranquilos. Na primeira etapa desta corrida, arranquei cedo porque sabia ter atrás o Harrison Wood, que é muito forte. Se me apanhassem, seria ele. Ter mais opções dá segurança, é bom para a cabeça.
Esta época está a correr de uma forma que parece superior aos outros. Uma espécie de Pogacar do pelotão português...
—Não, isso não! Temos é uma equipa muito forte, que controla a corrida. É impossível ganhar sozinho.
Agora vai descansar até ao Grande Prémio de Torres Vedras e a Volta a Portugal?
—Só vou descansar três ou quatro dias. O ciclismo mudou, atualmente não se pode parar muito. É preciso estar sempre bom fisicamente.
Se ganhar de novo a Volta a Portugal, será a sua melhor época de sempre?
—Poderá ser. Mas ganhar a Volta é sempre difícil. Precisas estar bem fisicamente e ter sorte.