Artem Nych: "É estranho ouvir as pessoas dizerem o meu nome, fico embaraçado"
Ciclista russo visitou a redação da Notícias Ilimitadas e falou a O JOGO após a segunda vitória na Volta a Portugal, que disse ter sido mais fácil do que a primeira
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Chegou à nossa redação, onde veio pela segunda vez, sorridente e bem disposto. Artem Nych não gosta de falar, mas já o faz de forma mais solta.
Ciclista russo, de 30 anos e desde 2023 em Portugal, vindo para a Glassdrive, a atual Anicolor/Tien 21, da Gazprom, está mais desenvolto, tendo falado de vários temas, incluindo o ciclismo do país natal.
Como foi o seu despertar?
—Mais ou menos, acordei cedo. Mas estou contente, porque acabamos a corrida e ganhámos, que é muito importante.
Isso quer dizer que durante a volta ou durante as grandes corridas, não costuma dormir tão bem?
—Não, eu durmo bem, mas durante a corrida acordo mais cedo, não sei porque, 07h00, 07h30 já estou acordado. Mas eu sempre acordei cedo, mesmo que me deite às duas da manhã, às 08h00/08h30 já estou acordado. Talvez na corrida, por ter o corpo mais ativo, por ser o ambiente de competição, acordo mais cedo.
Mais a frio, como olha para estas dez etapas?
—Não mudaria nada, foi tudo perfeito, estivemos muito bem.
Vestiu a camisola amarela à quarta etapa. Os ciclistas costumam dizer que pesa...
—Ter a amarela torna as coisas mais difíceis porque há menos tempo para descansar, a cada dia há o controlo, as entrevistas, essas coisas todas. Eu sou sempre o último a chegar ao carro da equipa, houve um dia que cheguei ao hotel às 21h00, já de noite.
Tão tarde. Por quê?
—Por causa do que disse e depois acontece uma coisa, que é ser sempre o último a chegar ao controlo, devido às cerimónias de pódio, as entrevistas, enfim. E, se chegar ao controlo e estiverem lá quatro ou cinco ciclistas, tenho de esperar, mesmo que até esteja com vontade de urinar. Mas o dia em que cheguei às 21h00 foi porque quando cheguei lá não tinha vontade (ri-se).
Quando me referi ao peso da camisola, tinha a ver com o facto de passar a ter de controlar tudo, os ataques de que é alvo...
—Ah, isso não, mesmo sem a camisola amarela tenho de estar sempre atento, se quero ganhar tenho de estar sempre alerta. Aliás, ter a camisola ajuda muito, é um grande orgulho. Sobre isso, quero agradecer às pessoas que apoiam a nossa equipa. Devo um muito obrigado a todos.
Já chamam pelo seu nome na rua?
—Já, este ano já. É estranho para mim ouvir as pessoas a dizerem o meu nome (ri-se). Fico com (pausa), não é bem vergonha, deixe-me ver a palavra em português (vai ao telemóvel).
Embaraçado?
—Isso, é essa a palavra, fico embaraçado.
Mas não tem um lado bom, o reconhecimento?
—Sim, sim, é coisa é muito boa, mas, sabe, algumas pessoas devem estar mais habituadas do que eu. Para mim foi estranho. Mas, mais uma vez obrigado a essas pessoas.
Esta é a segunda Volta a Portugal consecutiva que ganha. Quais as diferenças entre a do ano passado e esta?
—No ano passado foi muito mais difícil, era quase impossível, foi inesperada. Na Senhora da Graça é que atacámos para a vitória. Este ano foi tudo mais controlado, tranquilo. Vestimos a camisola cedo e controlámos. Mas a vitória foi boa também. Fizemos um grande trabalho de equipa, todos fizeram de grande trabalho, staff, corredores, diretores-desportivos, os nossos patrocinadores.
E já podiam ser três, em 2023 escapou-lhe depois de ter vestido a amarela...
—Fiquei longe, em quarto lugar, mas sim, andei um dia de amarelo, mas depois perdi muito tempo. E no último contrarrelógio também. Depois do dia de descanso também fiquei doente e isso afetou-me.
Já ganhou várias corridas em Portugal, duas Voltas, um Grande Prémio Abimota, um Douro Internacional, o Grande Prémio O JOGO. Gosta de correr aqui?
—Gosto sim, as corridas são bem organizadas, há mais corridas e há muito público. Muito diferente da Rússia.
Como é na Rússia?
—Há muito poucas corridas, os Cinco Dias de Moscovo, que são cinco circuitos diferentes em cinco dias, é a prova mais importante. Mas há dias falei com uns amigos e este ano vai haver uma prova com 17 dias, numa região muito longe de Moscovo, a uns quatro mil quilómetros de distância.
Nunca ganhou o Grande Prémio JN. É desta vez?
— Quando a Volta a Portugal acaba fico sem pernas, descarrego toda a adrenalina, fico vazio, mas este ano a cabeça está diferente, menos cansada. Ainda não sei se vou Tour da Bretanha, mas se não for, vou ao JN para tentar ganhar.