Responsável da Agência Antidopagem dos Estados Unidos acusa diretor do laboratório suíço de ter ensinado Lance Armstrong a iludir os controlos de deteção de EPO.
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Com o decorrer do tempo e as sucessivas revelações em torno do "caso Armstrong", começam a perceber-se os contornos da organização que permitiu ao antigo ciclista passar incólume aos sucessivos controlos antidoping e agora é o responsável da Agência Antidopagem dos Estados Unidos (USADA) a revelar que foi Martial Saugy, diretor do laboratório suíço de análises antidoping, quem proporcionou a Lance Armstrong e ao seu diretor-desportivo, Johan Bruyneel, as chaves para iludir os controlos de deteção de EPO (eritropoetina). Este confessa a sua mágoa por ser considerado suspeito de ter ajudado o norte-americano, mas também dá conta que a política da UCI (União Ciclista Internacional) era proteger as grandes figuras da modalidade.
Tygart contou que todas as amostras de Lance Armstrong desde a sua primeira vitória na Volta a França, em 1999, deram "flagrantes positivos" quando analisadas de novo em 2005, sendo então utilizados novos métodos de deteção. Saugy esclareceu, contudo, que a amostra da Volta à Suíça de 2001 do norte-americano era "suspeita", mas não correspondia aos rigorosos critérios legais para ser considerada positiva.
Foi no decurso de um programa televisivo nos Estados Unidos que o presidente da USADA revelou:
"Num jantar em 2001, Saugy disse-me que havia uma amostra de Armstrong com traços de EPO. Também me disse que a UCI lhe havia indicado para se encontrar com Armstrong e Bruyneel para lhes explicar o método de deteção de EPO, o que lhe pareceu inaudito. Perguntei-lhe se lhes havia dado as chaves para ultrapassar os testes de EPO. Baixou a cabeça e respondeu que sim. Pelo que sei, isto não tem precedentes. É totalmente incorreto estar com um desportista suspeito e explicar-lhe como funciona o teste", disse Travis Tygart.
Saugy, por seu turno, não deixou de esclarecer o que se passava nessa época, num discurso bastante comprometedor para a entidade máxima do ciclismo:
"A UCI optou pela prevenção quando surgia um resultado anormal em ciclistas importantes. Então convocava-os e pedia explicações. Em Junho de 2002 a UCI disse-me que tinha advertido o ciclista com um resultado anormal em 2001 dado por outro laboratório. Era Lance Armstrong", disse o investigador suíço, que no início do Tour'2002 foi obrigado por um médico da UCI a fazer uma apresentação do controlo antidoping a Armstrong e a Bruyneel.