Aos 27 anos, a nadadora deu a Portugal a segunda medalha da história em águas abertas, o bronze nos 10 km, após ficar a um décimo de segundo do pódio nos 5 km.
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A cumprir os primeiros dias de um merecido descanso de três semanas, a matosinhense partilhou com O JOGO a satisfação de ir ao pódio em Roma e contou mais sobre a vertente que elegeu há mais de uma década, podendo ser a primeira lusa a ir a dois Jogos Olímpicos nas águas abertas.
Como está a ser este pós-Campeonato da Europa?
-Têm sido dias de emoção. Estou super contente com o resultado e com o facto de as pessoas reconhecerem e valorizarem um trabalho de anos.
A época terminou?
-Sim, mas nós não podemos parar muito tempo por causa da sensibilidade da água. Retomo daqui a três semanas, a 15 de setembro.
Já foi para Roma com a expectativa de medalha?
-Não fiquei surpreendida com o resultado. Há algum tempo, dois ou três anos, que sabia poder estar mais próxima das medalhas e discutir bons lugares. Depois do último Mundial que tive, há um mês e meio [sétimo lugar], fiquei com aquela sensação de: "Se calhar, vai dar medalha no Europeu". Foi chegar e concretizar. Já ambicionava este pódio há uns aninhos, mas daí até acontecer, acumulei muitas coisas: a experiência nas águas abertas, a maturidade e a aprendizagem.
Para quem está de fora, as águas abertas parecem muito desgastantes...
-Para alguns pode parecer muito, mas, para nós, que já treinamos duas horas por dia ou dez vezes por semana, não. Dez quilómetros fazem-se bem. Como em qualquer desporto, nós treinamos para estarmos bem na competição e acabar sem estarmos super fatigados. Acabamos cansados, mas não a desfalecer. Trabalhamos para isso.
Como começou nas águas abertas?
-Em 2011, fui recordista nacional dos 1500 metros e 800 livres. Na altura, começou-se a falar nas águas abertas. O meu treinador da época, Rui Borges, incentivou-me. Fiz dois quilómetros em Setúbal. Ia cheia de medo, mas fiz. A partir daí, foi crescendo o bichinho. No ano a seguir, já estava a discutir a qualificação para os Jogos Olímpicos de Londres. Não me apurei, mas fui construindo o meu percurso.
E a natação?
-Eu ia para a natação no infantário. Depois, quando fui para a escola primária, os meus pais perguntaram qual era o desporto que eu gostava de seguir. Sempre disse a natação.
Experimentou outros desportos?
-Jogava à bola no meu bairro, com os rapazes da minha idade. Os meus dois irmãos jogavam voleibol e eu jogava com eles de vez em quando. Um seguiu o futebol e depois voleibol, o outro só voleibol.
Nas águas abertas, em que distância se sente melhor?
-Gosto muito de nadar a prova dos cinco e dos 10 quilómetros. A dos 25 já são cinco horas e meia a nadar. Eu estou bem preparada, mas mentalmente é preciso ter aquela capacidade de estarmos ali a pensar na prova, concentrados aquelas cinco horas e meia ou seis. É uma prova dura.
Há condições em Portugal para treinar esta vertente?
-O nosso treino é maioritariamente em piscina. Nós não vamos ao mar treinar, só se fôssemos muito jovens para ter alguns indicadores de ondulação, correntes... Quando atingimos mais experiência, importa-nos mais o nível competitivo e o ritmo de prova. Nós treinamos dez vezes por semana em água, mais cinco vezes ginásio. São duas horas e meia por dia, dá umas 25 horas de treino por semana. É muito duro, mas depois temos estas recompensas que acabam por valorizar todo o esforço.
O que gostava de alcançar a seguir?
-O principal objetivo é ir aos Jogos de Paris. Seria a segunda participação, para superar, sem dúvida, o resultado de Tóquio. Não fiquei satisfeita.
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