Andreia Cavalleri regressou com título europeu e ambiciona estar no Mundial
Esteve nove anos parada, foi mãe e aos 44 anos voltou com uma medalha de ouro. Agora, a judoca procura angariar fundos para cumprir o sonho de estar no próximo Mundial
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Nome incontornável do judo nacional, Andreia Cavalleri está de regresso aos tatamis e prepara-se para atacar o Mundial de veteranos, que se vai realizar em Marrocos, no mês de outubro. Para já, de modo a cumprir o sonho de marcar presença, a judoca lançou uma campanha de angariação de fundos que está a dar bons resultados. A expectativa passa por arrecadar 2000 euros, quantia que permitirá fazer face às despesas inerentes. Isto, depois de se ter sagrado campeã europeia em - 63 kg no passado mês de julho nas Canárias.
O feito de Cavalleri torna-se ainda mais assinalável, uma vez que esteve parada durante nove anos. A vontade de voltar a competir foi ganhando força desde que acompanhou o namorado ao Mundial de veteranos - João Neves é campeão mundial em título e foi o primeiro português a conseguir este feito, em 2018 -, no ano passado e foi desafiada por um judoca francesa para regressar. No espaço de quatro meses, voltou ao tapete e ficou surpreendida com a reação do corpo, como nos conta. "Nem sabia que tinha tanta vontade de lutar. Senti-me rápida e melhor de dia para dia. Fui-me motivando e senti algo que não sentia há uns anos. Estava mais confiante e um bocadinho mais completa. O facto de ser mãe trouxe-me outras características que não tinha e fui mais direta ao assunto", diz, apontando à "boa genética", dado que durante nove anos fez pouco exercício físico. "Só umas corridas ocasionais", refere.
A história da medalha de ouro no Europeu tem que se lhe diga, pois teve uma promessa pelo meio, ao filho Jorge que fazia anos por altura da competição. "Os meus filhos nunca me viram competir e como não estava cá no aniversário do Jorginho, prometi-lhe trazer uma medalha como presente a assim foi. No dia seguinte, como Portugal não competia por equipas, fui convidada por Espanha para a prova coletiva e também venci. Trouxe duas medalhas de ouro, uma para cada um para não haver discussões. A Francisca andou literalmente o dia todo com a medalha ao peito, até que tive de tirá-la, porque ela saltava e batia-lhe na cara e nos dentes e podia parti-los", explica. Quase a fazer sete anos, Francisca presenciou várias vezes os treinos da mãe, juntamente com o irmão e até já escreveu o seu nome numa medalha. As brincadeiras com os outros judocas mais novos do Sporting, clube que Andreia Cavalleri elegeu para treinar, também são recorrentes.
"Estou feliz por ter escolhido o Sporting, que tem muita qualidade de treino e os melhores treinadores. Entendi que para rapidamente ficar em forma era o melhor clube, com ajuda dos parceiros de treino. A Joana Ramos [olímpica do Sporting] motivou-me e chamou-me", diz.
Movida pelo sonho do Mundial, competição organizada pela Federação Internacional de Judo, Cavalleri aguarda por apoios e mostra-se grata aos que já ajudaram, as pessoas em nome individual e a empresa de segurança privada Fator X, como sponsor. "Para quem tem dois filhos e uma vida não muito desafogada, é um sonho. E estou a contribuir para que haja boa representação do país", diz.
Abrir mentalidades é outro objetivo e alertar as empresas para se associarem a projetos, não só no judo como noutros casos. Existem algumas empresas que através da lei do mecenato conseguem ter vantagens fiscais para a empresa em termos de impostos, para além de contribuir para a presença e preparação de um atleta para uma prova que de outra forma não conseguiria participar, por não haver apoios oficiais para este escalão", justifica a judoca que aos 44 anos ouviu o hino nacional pela primeira vez numa prova internacional, no Europeu.
"Foi muito gratificante. Comecei por cantar o hino, mas depois não consegui soltar mais palavras e tive medo de começar a chorar. Cerrei os dentes para não chorar. Foi uma sensação única, porque no passado tinha feito sempre segundos e terceiros lugares".