"Além de ser o jogador que é, Neemias Queta é uma pessoa extraordinária, é muito boa gente"
Neemias é uma "ajuda muito importante", diz Mário Gomes
Corpo do artigo
O poste Neemias Queta, jogador dos Boston Celtics, conta apenas seis jogos na principal seleção portuguesa de basquetebol, devido às restrições impostas pela NBA, mas vai estar na fase final do Europeu, onde será “uma ajuda muito importante”.
Segundo o selecionador luso, Mário Gomes, a presença na formação das quinas do primeiro, e até agora único, jogador português a chegar à NBA tem um grande impacto.
“O impacto imediato dele, mal chega, é logo na defesa, mas, com o tempo e com a integração, vai ter um impacto importante no ataque. Aliás, no jogo que nós ganhámos com a Espanha [76-74, em 5 de agosto], ele fez 17 pontos em 20 minutos. Portanto, basta dizer isso para perceber o impacto que tem”, afirmou à agência Lusa o técnico da formação das quinas.
Para Mário Gomes, a presença do gigante luso de 2,13 metros vai, no entanto, “para além do valor individual” do jogador, pois é alguém que “sempre fez parte” do grupo, que “tem uma excelente relação com toda a gente”.
“Além de ser o jogador que é, é uma pessoa extraordinária, é muito boa gente, como nós costumamos dizer. E, portanto, a presença dele trás ainda mais motivação à equipa. A equipa acredita ainda mais nela própria e sente uma maior segurança por termos o Neemias connosco”, frisou.
Nos seis jogos que já fez pela seleção das quinas, Neemias, mesmo limitado em termos de minutos pelos convénios com a NBA, nunca ficou abaixo dos 12 pontos, foi sempre o melhor ressaltador luso e contribuiu decisivamente para cinco triunfos.
Com o poste dos Celtics, a formação lusa só perdeu com a Espanha B (63-64) e num jogo em que teve de sair, por lesão, a 2.12 minutos do fim, numa altura em que Portugal liderava (63-62).
“Em termos de grupo, estamos com alguém que sempre foi muito desejado cá, porque sabemos que ele também sempre desejou muito estar cá”, explicou Mário Gomes.
Neemias será, assim, a grande arma lusa na fase final do Eurobasket'2025: “Independentemente de algumas limitações e algumas condicionantes, só temos a ganhar em tê-lo cá. É, obviamente, uma ajuda muito importante”.
Mário Gomes reforça objetivo de passar a fase de grupos
O apuramento para os oitavos de final, ultrapassar a fase de grupos, é objetivo inabalável da seleção portuguesa para a fase final do Eurobasket'2025, garantiu à agência Lusa o selecionador nacional, Mário Gomes.
“Se o objetivo é passar a fase de grupos? Claro que é. É desde de fevereiro [quando foi conseguido o apuramento para a fase final], e não temos motivos nenhuns para o alterar, antes, pelo contrário”, frisou o técnico luso.
De acordo com o Mário Gomes, os jogos de preparação, nomeadamente a vitória face à campeã europeia Espanha [76-74 em Málaga, em 5 de agosto] mostraram a “capacidade competitiva” do conjunto luso.
“Não temos razão nenhuma para nos desviarmos dos nossos objetivos”, reforçou o técnico luso, consciente, porém, de que se trata de uma meta “muitíssimo difícil de conseguir”, no que será, “provavelmente, o grupo mais difícil”.
A formação das quinas, na quarta participação na fase final, após 1951, 2007 e 2011, vai defrontar a Sérvia, a coanfitriã Letónia, a República Checa, a Turquia e a Estónia no Grupo A, em Riga, e estreia-se na quarta-feira, frente aos checos.
“Normalmente, quando se fala da constituição dos grupos, dá-se atenção às equipas mais sonantes dos potes de cima, mas a nós saiu-nos a fava dos potes intermédios”, recordou.
Mário Gomes referia-se à Turquia, que, na sua opinião era “de longe, a melhor” do pote 4, sendo inclusive apontada como uma das 10 seleções mais fortes que vai estar no Eurobasket'2025, junto a outras duas seleções do Grupo A, a Sérvia e a Letónia.
Ainda assim, os objetivos “continuam a ser os mesmos” e a confiança também “é a mesma”, sendo até “reforçada”, face às semanas de trabalho em conjunto.
“Não há tanto tempo como seria desejável, mas é mais algum tempo do que nas janelas. E, portanto, como eu costumo dizer, o passado é importante, mas o que conta mesmo é o presente, porque o passado só conta quando terminamos a carreira e formos fazer parte do museu”, afirmou.
O que conta é o que se vai poder fazer: “O facto de a história ser a que é, não nos faz desviar dos nossos objetivos, nem nos faz pensar que é mais fácil, ou que é mais difícil”.
A aventura começa na quarta-feira, dia do jogo com a República Checa, e Mário Gomes não foge à sua importância.
“É fundamental. Seria sempre, independentemente do adversário, e o começar bem pode não ser só em termos de vitória e derrota. Pode ser de demonstração de capacidade ou de incapacidade”, explicou o técnico luso.
Mário Gomes reforçou: “O primeiro jogo seria sempre determinante e é sempre fundamental numa competição tão curta como esta. Tão curta e tão dura, porque são cinco jogos numa semana. Neste caso, acresce ainda um pouco mais porque a República Checa é das equipas que tem o mesmo objetivo que nós”.
“No papel, é das equipas que, em princípio, não aspira aos lugares primeiros da competição, mas aspira a ser apurada. E, portanto, uma vitória nesse jogo seria sempre muito importante. Neste caso, é mais importante ainda”, especificou.
O treinador luso lembra, porém, que o jogo não define, por si só, o destino da formação das quinas.
“Se vier [a vitória], não está nada garantido. Mas, se não ganharmos o primeiro jogo, vamos ao segundo, e depois do segundo vamos ao terceiro, porque também não está nada perdido. Nós temos que reagir”, frisou.
Segundo Mário Gomes, todos os encontros contam: “Não temos tempo nem para chorar, nem para entrar em euforia. Portanto, aquilo é atar e pôr ao fumeiro, como se costuma dizer”.
Os comandados de Mário Gomes começam com os checos (quarta-feira) e, depois, defrontam os sérvios (sexta-feira), os turcos (30 de agosto), os letões (1 de setembro) e os estónios (3 de setembro), precisando de ficar nos quatro primeiros para seguir para os oitavos.
A fase final do Europeu de 2025, que será a 42.ª edição do evento, realiza-se na Letónia, Chipre, Finlândia e Polónia, entre 27 de agosto e 14 de setembro.
Mentalidade e atitude competiva selaram apuramento
O selecionador Mário Gomes é da opinião que a mentalidade e a atitude competitiva criaram uma crença e uma química muito especial na seleção e conduziram, 14 anos depois, Portugal a nova fase final de um Europeu.
“Este grupo de jogadores tem uma química muito especial entre eles. A mentalidade e atitude competitiva coletiva é mais do que a soma das atitudes individuais. Transformar isso numa crença coletiva, digamos assim, conseguiu-se com este grupo mais do que com os grupos anteriores”, explicou à Lusa o treinador português.
Ao comando da seleção portuguesa há mais de oito anos, desde 2017, Mário Gomes acredita que “o momento da carreira em que a maioria dos jogadores está” foi determinante.
“Enquanto nos primeiros grupos a maioria dos jogadores estava a caminhar para o fim da carreira, estes jogadores têm quase toda a carreira pela frente ainda, pelo menos um grande número deles”, afirmou o técnico da formação das quinas.
Muito importante também foi o facto de muitos jogadores “terem dado o passo de sair para o estrangeiro, ainda que não tenham ido para realidades do topo da Europa, nem realidades muito melhores que a portuguesa”.
“O simples facto de arriscarem, de ficarem entregues a eles próprios, de terem que resolver os problemas deles, isso depois reflete-se na maneira como estão em campo também”, pormenorizou, analisando um grupo em que a maioria atua no estrangeiro.
Tudo somado, Portugal só beneficiou: “Eu não tenho razão de queixa de nenhum jogador que tenha passado pela seleção nestes oito anos. Simplesmente, como grupo, este tem uma crença e uma ambição coletiva superior, fruto da química que há entre eles. E isso faz toda a diferença na competição”.
Para chegar à fase final, repetindo 1951, 2007 e 2011, Portugal começou por ganhar o Grupo F da segunda ronda de pré-qualificação, superando, entre outras, a Bulgária, e, depois, foi terceiro no Grupo A da qualificação, atrás de Israel e Eslovénia, mas à frente da Ucrânia, sendo que se apuravam os três primeiros.
“A chave do apuramento foram, efetivamente, as vitórias. O primeiro momento importante foi a capacidade de reação da equipa depois da derrota com a Israel no primeiro jogo [70-72, em 22 de fevereiro de 2024, em Odivelas], em que perdemos por dois pontos num dia em que nunca tínhamos lançado tão mal ao cesto. Nos três pontos, fizemos nove por cento, marcámos dois lançamentos em 21”, recordou o selecionador nacional.
Portugal pareceu, desde logo, complicar as contas, mas, apenas três dias depois, recolocou-se na rota certa: “A equipa reagiu no jogo seguinte e ganhámos à Ucrânia [em Riga], algo que depois, no final, se veio a revelar decisivo”.
“E depois, claro, o jogo contra a Eslovénia em Almada [82-74, na terceira jornada], o facto de a equipa ter acreditado que podia ganhar à Eslovénia. Praticamente, acho que mais ninguém em Portugal acreditava que Portugal pudesse ganhar à Eslovénia. O facto de a equipa acreditar que podia ganhar à Eslovénia levou-nos a fazer talvez o nosso melhor jogo até agora”, frisou.
Mário Gomes reforça que “esses foram os dois momentos chave” e diz estar “convencido” de que Portugal teria conseguido “ganhar um jogo na janela de fevereiro”, que encerrou a qualificação, se tal fosse preciso para alcançar a fase final.
“Perder nunca é bom, mas houve circunstâncias muito particulares que nos levaram a não estar ao mesmo nível nessa janela, porque quando entrámos em campo sabíamos que já estávamos apurados. E, quer queiramos, quer não, na cabeça dos jogadores, especialmente para alguns deles, para quem isto era um objetivo de vida, isso fez toda a diferença”, recordou.
Na fase de qualificação, Portugal, que não teve Neemias Queta – só atuou nos dois primeiros jogos da pré-qualificação –, contou com a participação importante de três jogadores que agora não estarão na fase final, Ruben Prey, vetado pela sua universidade norte-americana, e André Cruz e Gonçalo Delgado, por lesão.
Mário Gomes disse ter pena de por não poder contar com eles, mesmo que isso tornasse ainda mais complicada a escolha dos 12 para a fase final do Eurobasket.
“O Ruben Prey deu-nos uma ajuda na primeira janela, mas ficou descartado cedo, porque a universidade onde ele está não o autoriza a vir, enquanto o André e o Gonçalo foram dois jogadores importantíssimos na qualificação, e, portanto, lamento muito não os ter, porque eles mereciam estar no Europeu, ou mesmo que viessem a não estar no Europeu, mereciam muito lutar por um lugar no Europeu”.
Segundo o selecionador luso, uma das características da equipa lusa é que aparece sempre alguém a destacar-se: “A nossa equipa é muito assim, uns dias são uns, outros dias são outros, e, portanto, é sempre bom e muito importante termos todos, para além de que todos eles merecem muito estar no Europeu”.