Aponta Ana Oliveira, diretora do projeto Benfica Olímpico.
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Inês Henriques, João Vieira, Susana Feitor e Vera Santos são alguns dos marchadores formados em Rio Maior, onde a pandemia de covid-19 praticamente fechou a "fábrica", apesar de o treinador Jorge Miguel ainda ter "trunfos".
O técnico do Clube de Natação de Rio Maior (CNRM) é o responsável pela descoberta e consagração dos melhores atletas nacionais desta disciplina do atletismo, cujos projetos "vivem muito à custa de uma pessoa", conforme explicou à agência Lusa Ana Oliveira, diretora do projeto Benfica Olímpico, apontando como outro exemplo Paulo Murta, no Pechão, em Olhão.
"A pandemia veio desmascarar a falta de política desportiva do país", afirmou a responsável "encarnada", reconhecendo que os antigos marchadores riomaiorenses do Benfica Miguel Carvalho, de 26 anos, e Miguel Rodrigues, de 24, deram por terminadas as suas carreiras, após a interrupção das competições desportivas a nível global, em março de 2020, devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Miguel Carvalho podia repetir a presença olímpica em Tóquio2020, depois de ter sido 36.º nos 50 quilómetros de marcha no Rio2016, enquanto Miguel Rodrigues alcançou o melhor tempo nacional de 2020 nos 20 quilómetros, mas ambos optaram por se desvincular do Benfica, "numa altura em que os clubes com várias modalidades também tiveram de se ajustar à realidade".
"Os atletas vivem dos seus sonhos e dos seus objetivos. Houve atletas que tiveram de fazer essa opção [de abandonar o desporto] e outros vão fazê-lo, porque estão a aguentar até aos Jogos Olímpicos", sublinhou Ana Oliveira, advertindo que a marcha não é caso único, por conhecer situações semelhantes no meio-fundo, nos lançamentos e nos saltos.
Em entrevista à Lusa, a responsável realçou que "ainda há sonho olímpico porque há Benfica e porque há Sporting", sem os clubes, os atletas iam desistir".
Inês Henriques, de 40 anos, campeã do mundo nos 50 quilómetros de marcha em 2017, e João Vieira, de 44, vice-campeão mundial na mesma distância em 2019, são dos que continuam na "luta", com a antiga recordista a tentar agora os mínimos para os 20 quilómetros em Tóquio2020.
João Vieira trabalha sob orientação da sua mulher, a também olímpica Vera Santos, enquanto Inês Henriques mantém-se fiel a Jorge Miguel, que, reconheceu à Lusa, ser difícil manter a motivação entre os mais jovens.
"Nós tentamos manter os atletas em atividade, com a ideia de que vai passar, mas, por exemplo, na secção de atletismo do CNRM, mais de metade dos atletas foi embora. Conseguimos manter aqueles que ainda têm ambições e esperança de alcançar resultados. No futuro, não vamos começar do "zero", mas vamos andar lá perto", reconheceu o treinador, isto apesar de a prática desportiva individual e ao ar livre ter sido permitida nos sucessivos estados de emergência.
Aos 72 anos, Jorge Miguel contesta as limitações à prática desportiva, lamentando que "os responsáveis coloquem o desporto de lado, ignorando os seus benefícios", prometendo manter-se ativo enquanto treinar "atletas que não viram a cara à luta".
O riomaiorense refere-se a Inês Henriques, mas também as juniores Inês Mendes e Juliana Peres.
"Estou confiante que os atletas vão regressar, vai demorar para retomar o nível que tínhamos, mas vai ser como no futebol, se calhar, ao princípio, vão jogar um bocadinho pior, mas voltam", vincou.
Jorge Miguel reconheceu dificuldades na motivação das atletas, ilustrando com o caso de Inês Mendes que conseguiu mínimos para o Europeu de juvenis que acabou adiado, mas rejeitou o cenário catastrofista sobre a marcha nacional.
"Agora, o que estamos a fazer é a preparar-nos para a primeira prova que aparecer, seja qual for, onde e quando for. Não é fácil manter o ânimo, porque não se tem podido competir com idade de júnior. Mas, enquanto elas cá andarem, eu não as vou deixar", prometeu Jorge Miguel, rematando: "Eu já tenho esta idade, mas acho que ainda tenho mais umas cartadas para jogar, só que, para isso, temos de ter competições".
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