Ocean Race Europe volta a Portugal em junho.
Corpo do artigo
A organização da Ocean Race passou pela última vez em Lisboa em 2017/2018, mas em junho volta com a Ocean Race Europe a Portugal, onde pretende colocar o desporto ao serviço da preservação dos oceanos e do planeta.
A capital portuguesa integrou a rota da maior prova de vela à volta do mundo pela primeira vez em 2011/2012, tendo sido "stopover" nas edições seguintes, mas cedeu o seu "slot" a Cabo Verde na próxima regata, depois de a candidatura nacional "não ter sido forte o suficiente", segundo refere o diretor da Ocean Race, Richard Brisius, em entrevista à Lusa.
"Penso que terá tido a ver com a estratégia e os objetivos de Lisboa no momento da candidatura, pois a nível de infraestruturas e de mentalidade tem tudo. E no futuro, se voltarmos, teremos com certeza um grande "stopover"", avança Brisius, assegurando que o estaleiro da Doca de Pedrouços "não foi para lado nenhum, pois não há um "boatyard" estabelecido, de momento".
No âmbito de "um plano elaborado, em julho de 2020, a 10 anos para a Ocean Race", o antigo velejador natural de Estocolmo explica ter sido fundamental encontrar "cidades que possam retirar benefícios da regata, da estratégia e da sua plataforma, em termos de sustentabilidade ambiental".
"Temos o propósito de um evento desportivo e de proporcionar uma oportunidade aos velejadores de alcançar algo extraordinário, mas também de contribuir para um planeta e oceano melhores e mais sustentáveis. E, como tal, temos a grande preocupação de perceber como é que cada cidade poderá contribuir para isso, que vem com a responsabilidade de receber a Ocean Race", justifica.
Assim sendo, além da vertente competitiva, a organização da Ocean Race e da Ocean Race Europe desenvolveu vários programas de sustentabilidade ambiental, de acordo com Richard Brisius, "presente no ADN da Ocean Race desde 1973, mas com maior incidência na última edição da corrida à volta do mundo, com empresas globais, empresas locais, políticos e a uma escala mundial".
"E fazemo-lo através de um plano estratégico e em conjunto com vários parceiros, entre os quais a Fundação Mirpuri e a 11th Hour Racing Team, mas trabalhando também com as Nações Unidas e os países e cidades por onde passamos. Com essa vasta rede de contactos, damos a conhecer o nosso programa de sustentabilidade, que, aliás, tem o seu nome bem definido "Racing with purpose" [velejar com um propósito]", detalha.
Recorrer ao desporto em prol de uma missão maior, uma "estratégia" utilizada por Nelson Mandela no passado, embora com outro propósito, sobretudo na quebra das barreiras raciais, é um exemplo que deve ser seguido e colocado em prática, como advoga Brisius.
"Na candidatura de Estocolmo aos Jogos Olímpicos de Inverno, de 2026, tive oportunidade de contar que Nelson Mandela, depois de preso mais de 30 anos, o primeiro país que visitou foi a Suécia. E uma das coisas que disse na altura, e que se enquadra tão bem de onde vimos enquanto velejadores oceânicos e em tudo o que a Ocean Race representa, é que a grande glória da vida não é nunca cair, mas sim reerguermo-nos de cada vez que caímos. Isso reflete o quão forte o desporto é enquanto ferramenta para tornar o mundo melhor, juntando todas as pessoas como um só", recorda.
Além de admitir não poder "estar mais de acordo com as palavras" do Prémio Nobel da Paz de 1993, Richard Brisius acredita que "a vela e as regatas à volta do mundo, em particular, têm o poder de conectar as pessoas de uma forma que é muito difícil de encontrar" paralelo.
"Os membros de uma tripulação a bordo passam por tanto em conjunto, durante nove meses, que, na maioria dos casos, ficam amigos para toda a vida. Depois, a Ocean Race consegue também juntar países, uma vez que corremos entre continentes, e aí percebemos que os oceanos não nos dividem, mas conectam-nos uns aos outros. A juntar a tudo isto, somos privilegiados por esta oportunidade de chamar a atenção para a preservação do nosso planeta", remata, alertando para a "cada vez maior quantidade de plástico encontrada nos oceanos, por oposição a uma cada vez menor presença de vida selvagem nos oceanos".