Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional, conversou com O JOGO no dia a seguir a ter garantido a qualificação para o Europeu"2024.
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Paulo Jorge Pereira fala no perigo de cristalizar e diz que há muito para evoluir.
Acrescentamos o Super aos Heróis do Mar que criou. Compreende o termo?
-Super-Heróis do Mar... [pensa]. Ainda temos de fazer mais coisas. Ser Herói do Mar já é um atributo fenomenal e oxalá continuemos a respeitá-lo. Temos margem para crescer, há coisas para fazer, este apuramento era obrigatório, mas não era obrigatório ganhar na Macedónia. Sabemos como é que nos preparamos para esse jogo. Foi fundamental o que fizemos e dou-lhe um exemplo: fizemos uma retrospetiva do que éramos em 2016 e do que somos hoje. Isso posiciona-nos e obriga-nos a mais coisas.
Quer dizer que a exigência continua em alta...
-Se formos aos Jogos de Paris aí sim, seremos mesmo Super-Heróis. Nunca nenhuma equipa de uma modalidade coletiva à exceção do futebol se apurou e passarmos do nunca para duas seguidas já validava o Super do jornal O JOGO.
Ainda falta um pouco, mas acredita nisso?
-Não falta pouco, falta muito. Temos de fazer um Europeu brilhante. Mas se lá chegarmos todos, sem lesões e sem problemas, aí vamos com tudo para cima deles. Nem sempre temos dias bons, acontece a todas as equipas. Mas, insisto, esta normalidade de apuramentos que temos conseguido pode um dia penalizar-nos.
Está a falar para do grupo?
-Estou a falar para todos, porque achar-se que é pouco ficar em 13.º lugar no Mundial no mínimo é suspeito. Não íamos há 18 anos, agora, fomos a dois, ficamos em 13.º lugar no segundo, a um golo dos quartos de final, que foi aquele do Brasil, de sete metros.
Por que receia que esta nova normalidade penalize a Seleção?
-Temos de estar muito atentos para não cristalizar. Isto passar a ser normal é espetacular, mas, ao mesmo tempo, dentro dessa normalidade, não podemos cristalizar, nem perder motivação, nem deixar de criar coisas.
Já fez o que nunca outro selecionador nacional de andebol algum dia conseguiu. Motiva-o?
-Juro-lhe que não penso muito nisso. Penso no agora e em abril temos dois jogos, tenho de pensar em mudar a convocatória, trazer caras novas. O facto de termos ficado em primeiro lugar posiciona-nos melhor no sorteio para o Europeu e isso leva-nos a pensar no pré-olímpico, ou seja, é sempre a pensar alto, são coisas muito atrativas. Há sempre o que fazer. A nossa máxima é que cada vez mais nos respeitem a nível internacional e que os portugueses continuem orgulhosos de nós. Isto é o que nos faz mover. Esta malta vem à seleção mesmo com vontade de estar cá.
O famoso brilhozinho nos olhos?
-Pois é. Dos mais velhos houve um que me disse logo: "Eu gosto muito de vir aqui".
O que sentiu ao ver o pavilhão de novo cheio?
-Fiquei muito feliz ao ver que o pavilhão já tinha muita gente uns 45 minutos antes do jogo começar. Agrada-me o carinho das pessoas. A normalidade de que falo também é por aí. Fiz uma caminhada até à Praia da Luz [Porto] no dia do jogo e havia gente a chocar comigo. É a boa normalidade. Mas há a má. Estive uma semana sem ligar a televisão e hoje [ontem] de manhã, no hotel, liguei, quase inconscientemente e vi que estavam a dar notícias na RTP 1. Falaram de todos os detalhes de todos os jogos de futebol e não houve uma notícia a dizer que a Seleção se apurou. Parece-me vergonhoso. Estamos a falar de uma vez no ano...
O que houve com o Kiko?
-Não vou falar sobre isso. É uma situação resolvida.
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