José Raggio, perfilado para render Asunción Loriente e em boa posição antes da votação de uma moção de censura, perdeu parte dos apoios assim que o jornal espanhol denunciou as suas publicações insultuosas e xenófobas
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O chamado Quarto Poder fez-se sentir em Espanha. A assembleia da Federação Espanhola de Remo rejeitou, esta quarta-feira, uma moção de censura à atual presidente, Asunción Loriente, apresentada pelo candidato da oposição José Agustín Gómez-Raggio, um episódio cujo desfecho se deve ao trabalho de primeira página de um dos mais prestigiados títulos espanhóis de Jornalismo.
A figura do advogado derrotado enfraqueceu substancialmente, esta quarta-feira, dia da votação, graças às letras gordas da "Marca" - "Como é que alguém assim pode presidir à federação de remo!". Antes de o jornal trazer para a ribalta publicações insultuosas e xenófobas de Gómez-Raggio, o causídico reunia 56 apoios para destronar Loriente, mas terminou com 36, insuficientes para ir a eleições.
O advogado, que precisava de, pelo menos, 39 votos (metade mais um dos 76 elementos da assembleia da federação de remo) e que teve 37, ofendeu, no último ano, entre outros, Pedro Sánchez, primeiro-ministro de Espanha, e Pablo Casado, presidente do Partido Popular, além de dirigir comentários racistas e xenófobos a árabes e chineses.
No dia da publicação da "Marca", que revelou as ofensas, o Conselho Superior de Desportos e o Comité Olímpico Espanhol manifestaram publicamente o seu desagrado por uma eventual presidência de Raggio, questionando a sua idoneidade para o cargo.
"É muito difícil conceber que a presidência de uma federação desportiva deva recair sobre uma pessoa que insulte seriamente, através dos meios de comunicação social, líderes políticos de todos os tipos e instituições a todos os níveis, com tweets cheios de ódio", lê-se numa nota conjunta das duas instituições.
Em reação, num tom irónico, ao jornal "El País", Gómez-Raggio declarou: "Adorei o comunicado [do CSD e do COE]. Estou a falar a sério. Ratifica tudo o que temos vindo a dizer há muito tempo.... Que há uma intervenção direta e forte do [poder] público no setor privado. A sua interferência na sociedade é absoluta".
O CSD e o COE reconhecem a independência das federações regionais para decidirem por si, mas alertou: têm poderes públicos delegados e exercem funções institucionais, pelo que a eventual presidência de José Agustín Gómez-Raggio seria "realmente grave". As duas entidades justificaram esse posicionamento: "Não podemos manchar contribuições que vão contra os valores olímpicos" com o caráter "racista e xenófobo" incluídos em publicações digitais feitas por Gómez-Raggio, através da rede Twitter.
O advogado, ex-membro do partido "Ciudadanos", entende, em declarações ao "El País", que chamar "filhos da puta" a líderes políticos espanhóis "não é um insulto, mas uma opinião" e admite, quando confrontado com eventual compatibilidade com o cargo de presidente federativo, que esse ato "possa atrair a atenção de alguém".
Gorada a hipótese de José Agustín Gómez-Raggio se tornar presidente fazendo cair a atual direção, Asunción Loriente vai permanecer a desempenhar a função para a qual foi reeleita em junho de 2021, tendo tomado posse inicialmente em 2018.