A carta viral de Ines Ibbou a Thiem: "Acabas os torneios com buracos nos sapatos como eu?"
Thiem é contra a criação de um Fundo de Apoio aos Jogadores de ténis e Ines Ibbou dirigiu uma carta aberta ao tenista.
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Ines Ibbou, tenista que ocupa o 620º lugar no ranking WTA, deixou uma carta aberta em formato vídeo para Dominic Thiem, onde explica como tem sido a sua vida e o que teve e tem de fazer para realizar o sonho de jogar ténis.
A jogadora argelina, de 21 anos, deixou esta mensagem depois do austríaco se mostrar contra o Fundo de Apoio aos jogadores de ténis que tem como objetivo ajudar os jogadores entre a posição 250 e 700 do ranking, que passarão mais dificuldades com esta crise.
"Há pessoas que precisam mais do que os profissionais de ténis, não vejo porque é que devo dar o meu dinheiro a outros tenistas, ninguém luta para sobreviver. Vejo muitos deles que nem dão tudo o que podem à profissão, muitos não são profissionais", expressou Thiem no final de abril.
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"Depois de ter lido as tuas últimas declarações, imaginei como teria sido se os meus pais fossem professores de ténis quando usei a raquete pela primeira vez, aos seis anos, e imediatamente me apaixonei por ela. Como cresci nos arredores de Argel, numa família humilde e com pais que não tinham nada a ver com o ténis, não consigo evitar pensar que poderia ter tido uma grande ajuda, mas não te culpo. Já se sabe, num país como o meu não é fácil para uma mulher ser atleta de elite. Não posso agradecer o suficiente aos meus pais todo o apoio e anos de sacrifício para que eu pudesse perseguir o meu sonho. Muitas vezes não sabemos em que superfície vamos jogar. Relva? Terra batida? Mas não me interpretes mal. Isso não me impediu de construir o meu próprio caminho e ser uma das melhores jogadoras do mundo com 14 anos. E ganhei os meus primeiros pontos WTA ao vencer um torneio desta forma. Impressionante, não é? Não fui top 10, mas fui 23 do Mundo, nada mal para uma mulher africana, certo? Foi tão improvável que muitos jornalistas disseram que era um milagre", explica Ibbou.
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"Hoje tenho 21 anos, estou perto do top 600 WTA e ainda estou a perseguir o sonho pelo qual sacrifiquei a minha infância, estudos, amizades, vida em família, vida financeira, férias, aniversários, a minha vida toda. Dominic, como é ter um treinador que te acompanhe pelo circuito? Um preparador físico? Um fisioterapeuta? Um treinador mental? Um staff dedicado? Eu vivo sozinha. Sou uma mulher que viaja pelo mundo sempre à procura dos bilhetes mais baratos, a sacrificar o meu tempo, treinos e recuperações à procura de um visto sem garantias, sabes porquê? Sem passadeira vermelha, passagem livre. Preciso de vistos para todos os países. Esforço-me para escolher um calendário que me permita ganhar mais pontos. Mudas de piso rápido para terra batida de uma semana para a outra como eu faço? Acabas os torneios com buracos nos sapatos como eu?", diz ainda numa longa declaração.