Quintana defende a vida: os detalhes de um dia dramático, com 45 minutos de paragem
Alfredo Quintana, guarda-redes do FC Porto e da Seleção Nacional, esteve 45 minutos em paragem cardiorrespiratória e está em coma induzido no Hospital de S. João. Ainda luta pela vida e não se sabe se terá danos cerebrais
Alfredo Quintana, guarda-redes luso-cubano de 32 anos, que chegou ao FC Porto em 2010 e defende a baliza da Seleção Nacional desde 2014, tendo ajudado o andebol português a transformar-se num dos dez melhores do mundo, luta pela vida no Hospital de S. João.
Vítima de uma paragem cardiorrespiratória totalmente inesperada, o guardião fizera, na tarde de domingo, uma fantástica exibição frente ao Águas Santas (14 defesas em 37 remates), e na segunda-feira divertia-se num treino quando tombou inanimado, só regressando à vida 45 minutos depois, já no Hospital de S. João. "Prognóstico muito reservado. Que Deus o ajude!", comentou um dos médicos do FC Porto. Quintana tinha ainda de superar as primeiras 24 horas e depois disso falta saber se ficará com sequelas.
Embora tendo ganho em Águas Santas (26-34) no final da tarde de domingo, a equipa de Magnus Andersson já treinou ontem de manhã, pois amanhã teria jogo na Bielorrússia - o Meshkov Brest aceitou entretanto o adiamento pedido pelos portistas. A equipa fez ainda, pelas 13h45, os testes à covid-19 obrigatórios antes de todos os jogos da Liga dos Campeões, e os jogadores aproveitaram um intervalo de meia hora no Dragão Arena, antes do treino de hóquei em patins, para se divertirem com um jogo de futebol. O dia de trabalho terminaria depois no ginásio.
Fui num momento em que a bola voou para a bancada, e quando conversava com Tiago Cadete, preparador físico da equipa, que Quintana tombou inanimado. O médico portista estava presente, mas não o conseguiu reanimar, tal como o INEM, que chegou 10 minutos depois. Só no Hospital de S. João, ligado à máquina de reanimação ECMO, que substitui coração e pulmões, daria sinais de vida - foram 45 minutos em paragem cardiorrespiratória. O coração já está estável, mas uma TAC detetou um edema cerebral, gerado pela longa paragem cardíaca. O organismo deverá absorver o edema e só depois se poderá determinar se existem mazelas cerebrais.
Casado e pai de uma menina, Alicia, Quintana tem neste momento a mais importante das defesas para fazer, a da própria vida. Agarrando-a, sabe-se que terá uma recuperação muito longa pela frente, desconhecendo-se se plena. O ECMO, máquina que desde 2009 já ressuscitou - o termo não é exagerado - dezenas de pessoas no Hospital de S. João, permitiu algumas recuperações plenas, sobretudo em pacientes com boa preparação física. "É um atleta com valores ótimos nas suas prestações físicas", disse a O JOGO Augusto Roxo, médico da Seleção Nacional, perplexo com o sucedido e uma das muitas vozes que se uniram em apoio a Quintana, um homem de sorriso pronto e acarinhado por todo o mundo do andebol.