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Ivan Del Val/Global Imagens
ENTREVISTA - Está a cumprir a terceira temporada no Barcelona, tendo ainda mais um ano de contrato. Soma duas Ligas dos Campeões e é o único andebolista português a conquistar o troféu mais desejado.
Luís Frade tem 24 anos, cresceu em Rio Tinto, mas atualmente vive em Barcelona, perto da praia, com a namorada, Catarina, e o Zeus, um cão golden retriever.
Como define o Barcelona?
-É um clube enorme, com infraestruturas do melhor possível, e muito comprometido com a região. É um símbolo da Catalunha.
Como foi a adaptação?
-O meu primeiro ano foi um bocadinho à nora, era uma cidade nova, um clube novo, os horários, a língua, o país, tudo diferente. Demora o seu tempo para a adaptação. Incutem-nos a mentalidade de vitória e depois nota-se que ela existe na prática. E nem é preciso falar dos jogos, é mesmo pela maneira como se encaram os treinos, pelo compromisso, a atitude. Aqui só há um objetivo, melhorar a cada dia para vencer.
Como se lida com essa pressão de ter de ganhar?
-Não há que lidar, há que cumprir. Treinamos todos os dias e sabemos que se trabalharmos bem vamos ganhar. Temos a sorte de ter um grande plantel e de todos trabalharem muito bem.
Quais são as diferenças para um clube grande português, como o Sporting, onde jogou?
-O Sporting tem todas as condições, mas nós temos tudo só para nós na Cidade Desportiva, que fica à saída da cidade, a cinco ou dez minutos do Palau. O hóquei em patins treina no Palau ou noutros pavilhões que arranja, o futsal treina no nosso espaço, mas no piso debaixo, e o basquetebol é ao nosso lado, mas nunca no mesmo recinto. Nós somos a única modalidade que treina sempre no mesmo local, embora às vezes passemos pelo Palau.
Isso chega para o Barcelona ganhar na Europa e o Sporting não?
-Não. Há um maior investimento, que permite ter jogadores de melhor qualidade. Somos monitorizados para se saber tudo sobre nós, os treinos são todos gravados. Tudo junto, isso deve ajudar alguma coisinha.
Tem duas Ligas dos Campeões no palmarés. Qual é a sensação que essa conquista provoca?
-Ganhar a Champions é uma explosão de sentimentos, é o culminar do trabalho de uma época inteira, que se concretiza numa cidade que vive o andebol intensamente. São mais de 19 mil pessoas no pavilhão de Colónia, o ambiente do fim de semana é de festa. Na época passada, na final com o Kielce, cerca de quatro mil adeptos polacos juntaram-se em frente à catedral e lançaram aqueles fumos amarelos, com os cânticos deles. É uma época inteira tendo fim de semana como ponto alto.
Como encara o facto de ser o único jogador português de andebol que conquistou a Champions?
-É um orgulho grande ter ganho duas Ligas dos Campeões, mas o meu objetivo não era ser o único, a meta era ganhar uma Champions.
Tendo esse palmarés único, aceita que se diga que é o melhor jogador português de sempre?
-Não, nada disso! Sinto que para ser o melhor de sempre ainda falta muita coisa. Ainda posso melhorar bastante e, ao poder fazê-lo, significa que não sou o melhor.
Nesse caso, quem é o melhor jogador português?
-Eu sou pivô, se calhar olho mais para os pivôs. Mas, sinceramente, isso é uma coisa irrealista. Nunca vi jogar o Carlos Resende, o Carlos Galambas, nem o Paulo Faria, que foi meu treinador. E mesmo das gerações que vi jogar depende de muita coisa, posso apreciar mais uns numa determinada fase, outros em outra. Ninguém pode dizer quem é ou foi o melhor.
"No ano passado decidimos nos livres de sete metros"
"Se tudo correr bem, pode ser que ganhemos, mas atenção que não jogamos sozinhos", disse Luís Frade numa espécie de lançamento da final-four da Liga dos Campeões, que o Barça inicia hoje, jogando a meia-final com o alemão Magdeburgo. "Nós conhecemos a maior parte dos adversários, no andebol há essa cultura de conhecer o outro. Há uma batalha lá dentro, mas cá fora quase todos nos conhecemos e até temos muitas amizades", referiu o pivô, assegurando ainda que o Barcelona respeita todos os adversários: "No ano passado decidimos nos livres de sete metros. Está tudo dito..."
"Para o ano estou no Barcelona"
Cresceu no Águas Santas, esteve dois anos no Sporting e vai no terceiro em Barcelona, dizendo que ainda não é hora de voltar a Portugal.
Tendo chegado tão jovem ao Barcelona, o que mais pode desejar?
-Ganhar tudo o que possa.
A pergunta tinha mais a ver com o nível dos clubes. Ou seja, no dia em que mudar vai baixar de nível?
-Quando estava no Sporting não esperava uma chamada do Barcelona. Ligou-me diretamente o Xavi [Pascual, antigo treinador] e nunca se está à espera de uma coisa dessas. E o topo, na minha cabeça, não era o Barcelona, nesse ano seria ganhar a liga portuguesa. Se calhar sonhava estar lá, propunha-me trabalhar para chegar lá, mas as coisas simplesmente aconteceram. Mas admito que, neste momento, o Barcelona é o melhor clube do Mundo no andebol.
Vai continuar no Barça?
-Tenho contrato por mais um ano, para o ano estou no Barcelona.
Em Portugal aventou-se a possibilidade de um regresso do Frade ao Sporting. Chegou-lhe aos ouvidos?
-Ouvi dizer, sim. Mas não há nada, pelo menos do meu lado não. O Sporting foi um clube bom, mas ainda não está na minha hora de voltar para Portugal, e não me refiro apenas ao Sporting.
Quando chegou ao Barcelona, como é que as grandes estrelas o receberam?
-Ainda bem que pergunta isso, porque fui mesmo muito bem recebido. Quando alguém chega ao Barcelona, é porque merece, e os outros atletas sabem disso. Os mais velhos acolheram-me bastante bem, mas na altura era uma equipa já com muitos jovens, não era aquela "old-school". Mas eram todos jogadores fantásticos e é com estas pessoas que nos devemos aconselhar e aprender.
