Magnus Andersson e o andebol num clube de... futebol: "Vejo as pessoas orgulhosas"
<strong><em>ENTREVISTA - </em></strong>Foi dos melhores centrais do mundo e, aos 53 anos, é um dos treinadores mais reputados da atualidade. No FC Porto já foi campeão e chegou a uma final-four europeia, faltando a Taça para fechar o ano perfeito [COM VÍDEO]
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Magnus Andersson apresentou-se descontraído um dia depois dos festejos do título nacional e falou a O JOGO sobre uma época que já é histórica. Sabendo do entusiasmo que está a gerar, pede calma para os próximos anos.
O FC Porto chegou à final-four da Taça EHF, foi campeão e vai estar na final-four da Taça de Portugal. Estes feitos eram um objetivo ou são uma surpresa para si?
-Foi uma surpresa para mim. Sonhava com isso e, como treinador, tinha de acreditar. Conhecia a equipa de vídeos e, quando treinava o Goppingen, eles jogaram com o FC Porto, há dois anos. Portanto, conhecia alguns jogadores e pensava no título, era tanto sonho como objetivo sermos campeões, mas claro que não pensava que fôssemos tão longe na Europa. É incrível quando pensamos agora sobre como jogámos, em cada equipa que batemos. Foi uma grande surpresa para mim, foi incrível ver como esta equipa evoluiu.
"É incrível quando pensamos agora sobre como jogámos, em cada equipa que batemos"
O rendimento dos jogadores também o surpreendeu?
-O de muitos deles. Fomos uma equipa muito física, com jogadores fortes, mas outros também com uma técnica muito boa. Conseguimos fazer bem essa mistura e eles cresceram tão rápido... Temos muitos jogadores e eles foram mesmo como uma equipa.
Ter "uma equipa" é aquilo que todo o treinador quer...
-Por vezes tivemos dificuldades, mas descobrimos como ter um bom ataque. O 7x6 não era o meu plano, não gosto mais de jogar 7x6 do que de outras formas, mas descobrimos rapidamente que podia ser bom para nós. Tivemos alguma sorte no início, fizemos alguns bons resultados e jogos, e depois fomos crescendo e ficando cada vez melhores.
Podemos dizer que o FC Porto é dos melhores da Europa a jogar nesse sistema?
-Acho que sim! [risos] Muitas equipas jogam bem no 7x6, mas nós somos das que o fazem de uma forma fantástica.
Foi assim que eliminou o Magdeburgo. Foi um jogo-chave da época?
-Penso que sim. Foi realmente um grande momento, tornámo-nos muito confiantes após esse jogo. Depois disso via-se a equipa a acreditar que podíamos ser de novo o que tínhamos sido contra o Magdeburgo. Notou-se na fase de grupos, em que jogamos um bom andebol, e com o Saint-Raphael, que perdeu na final do ano passado e é uma grande equipa na Europa. Não fez uma boa época na liga francesa, mas é uma equipa mesmo boa e esse jogo também foi incrível.
Usa o 7x6 porque tem os jogadores certos para isso ou por ser a melhor forma de atacar os rivais mais fortes?
-É mais fácil atacar assim, mas descobrimos que também resultava contra equipas com as quais teríamos problemas logo de início. Mas também porque temos dois pivôs incríveis e fortes - até temos três, mas para jogar com dois... - e três bons primeiras-linhas, estando neles o Fábio Magalhães, que toma quase sempre as decisões certas. Foi a maneira que encontrámos de jogar, tendo dois ou três jogadores que tomam as decisões certas. É fácil ser treinador para o 7x6, mas não o é sem os jogadores certos.
Quando começaram a preparar o 7x6?
-Na pré-época. Todos os treinadores e equipas testam o 7x6. Mas não penso que iremos continuar a jogar assim tantas vezes, nem por tanto tempo; será algo para os últimos três minutos, se estivermos a perder por dois ou três, para tentar dar a volta.
Com a época que fez, não teme perder jogadores no próximo ano?
-Isso é desporto, acontece a toda a hora. Com a campanha na Europa, muitos clubes de topo viram o que fazemos, fizeram contactos, olham para os nossos jogadores agora, mas não estou assustado. Temos contrato com quase todos os jogadores. Penso e espero poder ficar com esta equipa mais uma temporada.
É difícil treinar andebol num clube de futebol?
-Não, de todo. É divertido, o FC Porto é um grande clube, percebe-se muito a tradição. É o clube da cidade, vejo as pessoas orgulhosas com o clube. É engraçado, mas este país também é futebol, futebol e mais futebol. Isso eu já sabia e se formos para Barcelona, é igual...
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"FINA- FOUR DA CHAMPIONS AINDA É GRANDE, GRANDE PASSO"
O FC Porto vai jogar a Liga dos Campeões no próximo ano, sendo de esperar a entrada direta na fase de grupos. Em teoria nos Grupos C ou D, onde esteve o Sporting e já jogaram os dragões, mas com a expectativa de poder ser no A ou B, os das 16 equipas mais famosas. A escolha é da EHF e, por ranking, os portugueses já merecem lá estar. "Talvez exista uma boa chance de jogar no Grupo A ou B. Será mais difícil mas mais divertido! Perante equipas como Kiel, Flensburgo, PSG, Veszprém, que são as melhores do mundo, podemos perder os jogos todos jogando muito bem. Mas iremos aprender mais", diz Andersson, sabendo que repetir na Champions a final-four da EHF é difícil. "Não vejo isso a acontecer nos próximos anos. É mesmo um grande, grande passo. Vamos ter calma, esperar estando orgulhosos do que fizemos este ano e sendo realistas."
"O andebol português está a aparecer, não só o FC Porto"
"ESTA EQUIPA AINDA PODE CRESCER MAIS, MAS TEMOS DE SER CUIDADOSOS"
Magnus Andersson já estendeu o contrato com o FC Porto até 2022, num sinal claro de que ainda tem trabalho para fazer. "Estou feliz por continuar a trabalhar com esta equipa, acho que pode crescer ainda mais. Não podemos prever os resultados do próximo ano, mas temos muita qualidade e jovens que estão a aparecer", diz o treinador, com um alerta: "Temos de ser cuidadosos ao falar, sabemos o que aconteceu ontem mas não o que vai acontecer amanhã." O cuidado nas previsões não impede Andersson de esperar um futuro melhor: "O andebol português está a aparecer, não só o FC Porto; o Sporting também fez um bom ano na Champions League, Portugal está quase apurado para o próximo campeonato da Europa e este verão temos o Mundial de juniores com uma geração importante."
"NA EUROPA QUEREM SABER O QUE SE PASSA CÁ"
Magnus Andersson está totalmente adaptado ao clube e à nova cidade. "É linda, tem o mar, o rio Douro...", vai dizendo e recordando que ao longo do último ano foi recebendo "muitas visitas, dos pais, de amigos, filhos". Vivendo no Porto com a esposa, fora do andebol gosta "de relaxar, caminhar com o cão, ir a um café, conversar e, se tiver um dia livre, jogar golfe". Isto além de, naturalmente, ver muito andebol por cá.
O que pensa do andebol português?
-Não sabia muito antes, só no ano passado, não ouvíamos falar do andebol português nos últimos anos. Sei que têm uma boa geração, tiveram um selecionador nacional sueco vários anos, os juniores estiveram num Mundial em 2013. Depois defrontei o FC Porto pelo Goppingen. O Rui Silva estava na equipa, lembro-me por causa dos óculos [risos]. Sabíamos algumas coisas, mas não muito.
Não sente uma grande diferença entre os três maiores clubes e os restantes?
-Há, realmente. Será algo que talvez se deva debater no futuro, se é o melhor para o andebol português. Há clubes que não têm o dinheiro dos três grandes, mas aos quais podemos transmitir conhecimento, eles podem aprender connosco. Temos de pensar no que se deve fazer pelo campeonato e pelo futuro. Eu talvez não seja a pessoa certa para dizer o que deve ser feito, mas se precisamos de equipas de topo, também precisamos de ter outras mais.
O Sporting foi o seu maior rival...
-O Sporting ganhou bem nos dois anos anteriores, mas ainda há o Benfica. São três grandes. Toda a gente conhecia o ABC, mas têm tido problemas com dinheiro.
E como vê a seleção portuguesa?
-Conseguiram um grande resultado contra a França!
"Perguntaram-me o que estava a acontecer no andebol português"
Ficou surpreendido?
-Achei muito importante. Toda a gente falou de Portugal, teve interesse em saber, perguntaram-me o que estava a acontecer no andebol português. Não fomos só nós que estivemos bem na Europa: a Seleção bateu a França, um resultado incrível, e agora tem uma grande chance de ir ao Europeu. É bom para nós também, que antes de jogarmos na Liga dos Campeões teremos oito ou nove jogadores no Europeu.
Tem alguns jogadores de uma nova geração que promete muito. Concorda?
-A geração nascida em 1998 é mesmo boa. Foram quartos no último Europeu e este verão será interessante vê-los como um dos favoritos no Mundial sub-21, em Espanha. Têm muita qualidade. Portugal teve um bom ano e nos próximos pode alcançar grandes resultados com a Seleção Nacional.
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