"Estava quase num princípio de depressão. A certa altura, o dinheiro era escasso"
Valdinho é uma das caras da boa fase do Marco 09, mas tem bem presente os dois anos que esteve sem clube e nos quais o dinheiro “escasseou”. O extremo conta a O JOGO que esteve à beira da depressão e que abusou de “bebida e noitadas”, mas hoje é “muito mais feliz em campo” do que quando era profissional.
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Se Valdinho é hoje uma das figuras da melhor fase da época do Marco 09 - três vitórias e dois empates nos últimos cinco jogos da Série B -, nem sempre os últimos anos do extremo foram tão produtivos como indicam os cinco golos em 15 jogos em 2023/24. Entre 2015 e 2017, o luso-angolano, cujo início de carreira foi passado sobretudo em emblemas da II Liga, onde fez mais de 50 jogos, esteve desempregado, o dinheiro “escasseou” e viu-se às portas de uma “depressão”.
“Fui para o Recreativo de Libolo [Angola], senti que tinha de mudar de ares mas, como tinha dificuldade em enviar dinheiro para a família, decidi voltar. Depois, rejeitei propostas de Portugal e do estrangeiro, caí numa bola de neve e passei dois anos e alguns meses completamente parado”, recorda. “Estava quase num princípio de depressão. A certa altura, o dinheiro era escasso. Consegui juntar algum dinheiro, mas estava sempre a sair e nenhum entrava; as minhas filhas dependiam de mim”, acrescenta.
Franco e frontal, Valdinho reconhece ter-se refugiado “em noitadas e na bebida”. “Já não tinha muito controlo sobre os meus atos e cometi algumas asneiras. Faltava-me algo que me desse prazer. No primeiro ano treinava bastante com a esperança de aparecer um clube. No entanto, refugiei-me em amizades que não o eram e que me levaram às noitadas, à bebida, prazeres momentâneos, e a algum peso a mais”, conta a O JOGO.
Foi pela mão do “amigo” Bock, com quem tinha jogado no Freamunde, que as portas se reabriram, no Lixa, que disputava os campeonatos da AF Porto. O mesmo Bock guiou o Marco ao Campeonato de Portugal, na época passada, embora tenha sido despedido no decorrer da presente temporada. Deu lugar a Pedro Barroso, que fez os marcoenses subir na tabela, todavia aceitou, na semana passada, um convite do Anadia, da Liga 3. “Não estávamos à espera, mas compreendemos”, comenta.
Autor de um dos golos no triunfo, por 2-0, em Rebordosa, Valdinho transpira felicidade. “Hoje sou mais feliz do que quando era jogador profissional. Estou num grande clube e sinto o carinho das pessoas. Estou realizado num projeto ambicioso e que está a crescer”, termina.
Os 34 anos de Valdinho não o fazem pensar, para já, na reforma. “Não tenho a frescura dos 20 anos, mas as coisas têm acontecido. A distrital da Associação de Futebol do Porto era um campeonato com outro tipo de pisos, que dificultavam o meu tipo de jogo, e agora sinto-me mais adaptado. Sou um Valdinho dedicado a prolongar o mais possível a minha continuidade no futebol”, atira. “Sei pisar os locais certos do campo. Ainda consigo desafiar os adversários e ser imprevisível, mas com maior gestão emocional”, explica.